O homem ao meu lado.

Eu estava desolada, como a vida de alguém poderia chegar a esse ponto? Como um simples caso criminal poderia mudar minha vida e me confundir tanto? É isso que eu quero te contar, não sobre mim especificamente mas sobre minha vida e o caso que me tomou metade dos meus pensamentos. Eu sou uma garota esperançosa que cresceu a vida toda no estado do Missouri, sempre buscando mais do que me era oferecido e muitas vezes sendo subestimada por ser mulher no tipo de trabalho que exerço e amo, investigadora criminal.

Enquanto minha mãe e minha família fantasiavam comigo vivendo uma vida perfeita tendo como trabalho apenas servir meu marido bem sucedido, eu me via muito mais ligada nas cenas de crimes e restos mortais encontrados nas proximidades, era o que eu queria e dediquei minha vida a isso, meu nome é Elizabeth Beverly a propósito, Lizzie eu prefiro.

- Lizzie você não vai acreditar no que eu tenho pra você - diz Bob meu colega de trabalho e amigo nas horas vagas

- O que foi Bob?

- Tenho um caso pra você

Quase salto ao ouvir essas palavras, depois de uma vida toda ouvindo minha família odiar minha profissão e minhas escolhas de ser solteira e reservada mesmo aos 23 anos, me mudei pra Boston, consegui uma vaga como principal investigadora criminal e comprei minha casa própria recentemente, acontece que isso que Bob me disse me deixou extremamente empolgada.. Quando vim pra cá com 21 anos consegui desvendar 3 casos de assassinatos em série, isso me deu uma fama instantânea já que eu era mulher e não tinham muitas mulheres no meu departamento, houve pessoas que duvidaram que não tinha uma homem por trás disso, mas assim como a opinião da minha família eu acabo ignorando o que não me convém. Era uma pressão enorme essa fama e expectativa que as pessoas colocavam nos meus casos, eu tinha que ter sucesso se não iriam me rebaixar por ser mulher e não ser “capaz de desvendar um simples caso”, segundo os machistas por aí, isso me consumia as vezes, mas decidi não deixar isso afetar no meu próximo caso, e lá estava ele.

- É um caso complexo, já li os relatórios, uma garota de 17 anos desaparecida em Beacon Hill, Natalie Portman, ontem, ela estava andando em direção a casa da amiga a 5 quadras dali a noite e acabou desaparecendo, a tal amiga Shay relatou que nunca chegou a ver a amiga mas que sabia que ela viria e a esperou, quando ela não apareceu a mesma ligou pra polícia, hoje uma moça chamada Hillary Gabe estava indo pra casa da filha pra fazer uma visita em West end, e achou um corpo uma quadra da escola Beacon Hills High School, num beco escuro, logo que nos ligou averiguamos e os dados declararam que era Natalie

- Minha nossa, 17 anos.. coitada, mal posso imaginar como a família deve estar, e qual foi o laudo?

- Constatou que a vítima foi estrangulada por trás e depois de já morta limpa e vestida, se teve evidências de semen provavelmente foi lavado pelo autor do crime mas um exame mostrou que a vítima não foi penetrada, ela continua Virgem então não sabemos se o crime desencadeou prazer no criminoso ou apenas fez e saiu do local, no entanto o que nos chocou foi uma pulseira no pulso dela.. O criminoso aparentemente comprou pra ela porque havia uma mensagem nela bem específica “fiz porque te amo”

- Nossa que pesado, o cara então poderia conhecer a vítima?

- Até agora nada de indícios que sim mas achamos que de certa forma ele poderia ter apenas a visto por aí sem qualquer relação

- Não acho, pra ele dar um presente teria que estar interessado o bastante pra ter ao menos esbarrado nela, como se ela fosse a “escolhida”

- Pode ser, mas sem mais provas não temos muito o que fazer, a vítima nem ao menos lutou

- Talvez estivesse em choque por saber quem era ele..

- Calma querida, não temos o que fazer sem mais pistas, a não ser procurar, só espero que o caso não seja fechado porque foi realmente horrível a forma como isso aconteceu

- Quero muito esse caso, mas receio que se não desvendar algo vamos ter que fechar esse caso por um tempo até aparecer outro corpo - Por que você acha que é um Serial Killer?

- A forma como ele fez tudo que você descreveu me faz pensar que ele não encontrou o que buscava então vai procurar outra vítima, só queria poder impedir antes de ele poder matar ela, mas não vão me deixar agir se não for relevante

- Sim.. Lamento, eu fiquei empolgado mesmo assim por você, porque sei que é boa em ir em cenas de crime e essa aqui é bem complexa - Sim, vou ir lá agora então, mas antes, posso te perguntar algo?

- Claro - Se importa se eu ficar com a pulseira?

- Da vítima?

- Sim

- Acho que não tem problema, só se guardar ainda como evidência, vou ver com os superiores pra você

- Obrigada Bob Nos despedimos e eu fui com meu carro até o local que o corpo foi deixado

- E aí Elizabeth, como tem passado?

- É só Lizzie, Denis, estou bem e você?

- Tudo nos conformes

- Denis é da equipe de perícia e já nos encontramos algumas vezes nas cenas de crimes

- Horrível né? Esse cara não deixou nenhum indício de nada, parece até que planejou faz anos

- Não acho que seja isso, olha essas pegadas, apesar de parecer que ele embalou a bota com uma sacola de plástico pra não ser pego, conseguimos ver as marcas a ponto de saber ser uma bota, demonstra que o criminoso estava ansioso, com passos pesados e aqui vemos que ele andou de um lado pro outro na casa

- O que presume?

- Ele estava confuso eu acho, não sei direito o que ele tentou fazer, mas certamente não conseguiu de fato o que queria

- Hmm, entendi, é uma hipótese, agora é só torcer pra ele atacar de novo ou pelo menos vermos algo nas análises dos objetos da casa, uma digital, qualquer coisa que nos ajude

- espero que sim, ia lamentar não poder dar uma notícia boa pra família, perturbador que alguém seja capaz de fazer algo com uma garota tão jovem..

- Sim, mas estamos acostumados, vemos esse tipo de coisa frequentemente, só tente não pensar muito no caso até sabermos mais algo ok? Não vale a pena perder tempo sem nenhuma evidência relevante

- Ok.. até mais Denis

- Até Elizabeth

Cheguei em casa e tomei um banho gelado pra relaxar, apesar de gostar de banhos quentes, meu trabalho me fez preferir os gelados pra aliviar a tensão dos músculos e da minha cabeça funcionando ao mesmo tempo. Pobre Natalie, espero que possamos prender quem fez isso com você, vou pra cama e tento não estender muito o assunto nos meus pensamentos já que como Denis disse, por agora não temos nada de útil, mas sei que tem algo aí e não vou desistir.

Acordo e não tive que ir cedo pro trabalho porque não teve nada de urgente essa semana, Bob estava checando os relatórios comigo e quando eu olhei pra minha mesa tinha uma sacola escrita “evidência” com a pulseira que Natalie ganhou do criminoso, fiquei olhando fixamente nela. Foi quando me dei conta que sabia exatamente aonde foi feita, peguei minha jaqueta e minhas coisas e dei uma desculpa qualquer pra Bob, tinha que ir atrás disso e sei que a gerência não ia gostar de me ver correndo atrás sem antes de mais indícios, mas eu queria muito vingar Natalie e as suas possíveis próximas vítimas. No caminho pensei na vítima, loira, olhos num tom âmbar lindo, cabelo curto e cacheado, pele clara meia bronzeada, ela era linda.. chegando finalmente na joalheria Gold sweet gold eu entro e vejo uma atendente simpática vir em minha direção

- Gostaria de algo senhorita?

- Sim, sou investigadora criminal e preciso saber quem veio aqui ontem comprar essa pulseira - peguei a joia e retirei da embalagem de evidências pra moça olhar melhor

- Nossa ela é uma obra mal sucedida

- Como assim?

- Era pra ser uma coleção própria da nossa linha que estávamos produzindo, eu e minha família, trabalhamos aqui desde sempre.. Uma coisa passada de geração pra geração, meu irmão fez ela neste modelo mas a parte da escrita em lazer é com ele mesmo, só assim pra você saber quem pediu esta frase exatamente, não deu certo a venda porque muita gente achou simples demais

- Poderia chamar ele aqui?

- Claro, mas ele não para o trabalho então acho que vai ter que ir nos fundos no escritório dele

- Sem problemas Ela me mostrou a direção e eu segui no corredor, de encontro com o irmão dela

- Olá?

- Oi? Li?

- Não.. Sou a Lizzie, investigadora criminal, acontece que sua irmã me mandou vir aqui pra falar com você porque você tem informações pra mim importantes

- Bom..hm.. claro ok, sem problemas, sou Elias - falou o homem alto e super bronzeado a minha frente, ele tinha físico magro e um bigode enorme no rosto no qual ele parecia se orgulhar, tinha cara de ter por volta dos 30 anos e ser solitário

- Certo, esta pulseira é meu principal questionamento, quem comprou ela com você?

- Ela é meu xodó..Peça fina e lisa de ouro puro com apenas um detalhe significativo que é o formato de raizes que ela se mantém no braço do cliente, me mandaram fazer algumas frases e pra sua sorte eu me lembro de todos os clientes. Essa aqui foi uma senhora de idade com 60 e poucos que queria presentear o marido, ela disse que ele vivia falando que tudo que ele fazia era por amor então escreveu “fiz porque te amo”

- Obrigada pelas informações, só mais uma coisa Elias, poderia me passar o endereço dela?

- Sinto muito mas o endereço dos clientes é confidencial e feito pela ficha que eles abrem na loja, só posso te informar o nome dela, serve?

- Claro, qualquer coisa ajuda

- Margaret Bens

- Ok, obrigada por contribuir

- Sempre que puder

Sai de lá ainda pensando.. por que a pulseira de uma senhora idosa? Tantas perguntas.. mas nenhum espaço pra ter a resposta, fui pra casa novamente e minha frustração estava num nível problemático. 15 minutos depois eu peguei no sono e dormi feito pedra, eu precisava dessa noite.