A casa era composta por dois andares, mais um sótão, que não tinha a extensão de toda casa. Uma pequena janela era a única visão da rua. Gabriela tem morado lá, nos últimos cinco anos. Quando não estava viajando com sua tia e patroa, Issa Cavalcante, importante atriz brasileira.
Ela voltou à realidade. Ainda estava na calçada. Olhou a praça em frete a casa e viu um pobre e magricelo cachorrinho. Apiedou-se do pequeno animal. Um barulho de carro entrando em alta velocidade, na pacata rua de pedras irregulares, chama-lhe a atenção. E o pequeno se assustou também. Correu atravessando a rua. O motorista freou em cima do pobre animal.
Gabriela gritou quando viu que ele seria atingido. O cachorrinho ganiu alto e o barulho do carro parando foi um espetáculo à parte, na tranquila tarde do Recife. O rapaz que saiu do carro para ver as condições do pobre animal. Parecia um modelo de propaganda. A roupa evidenciava um corpo trabalhado na musculação. Braços fortes levantaram o pequeno, que assustado se encontrava encolhido entre o pneu do carro e o meio fio. As mãos do rapaz passaram pelo corpo do cachorro, até tocar a pata dianteira direita. O pobrezinho protestou com um som fraco.
Foi quando a voz possante disse:
- Acho que machucou a pata.
Até aquele momento, impactada pelo incidente a moça não conseguia falar nada. Seu rosto lívido mostrava que a qualquer momento iria desmaiar. Sentou-se na calçada. As pernas estavam tremulas. O coração em disparada. Seu vestido verde era curto e levantou um pouco quando ela se sentou. As pernas bronzeadas pelos cinco dias de praia chamaram a atenção do rapaz que veio até a garota, com o filhote nos braços. O pequeno vira lata branco e marrom com um sinal na testa em forma de gota olhava assustado ao redor.
O moço se sentou ao lado da moça na calçada e perguntou:
- Você está bem? Se estive? Gostaria de saber onde encontro um veterinário para nosso amiguinho, aqui.
A voz dela quando saiu foi muito fraca:
- Pode deixar. Meu vizinho é veterinário e vem comumente para ver a gata da casa. Eu vou ligar para ele e peço que venha ver o pequeno.
O animal parecia ser ainda menor nos braços do rapaz! Certo barulho chamou sua atenção. Eram as empregadas da casa, Zefinha e Mônica, que ao ouvir a confusão na rua vieram ver o que estava acontecendo. A mais nova. Com os olhos pregados no rapaz que acariciava o cachorrinho para acalmá-lo. Parecia impressionada. Gabriela pegou o animal dos braços do rapaz e disse:
- Pode deixar que "eu" cuido dele!
Com a outra mão pegou sua mochila e a bolsa e se virou para entrar. O rapaz se adiantou e disse:
- Calma moça! Nem nos apresentamos. Meu nome é Hermes. E o seu?
Ela continuou a trajetória para dentro de casa, ao sentir que o conhecia de algum lugar e não gostava desta sensação de reconhecimento. Parecia-lhe que deveria manter distância dele. Mas ele insistiu:
- Vai ignorar? Já sei! Não preciso saber seu nome. De agora em diante para mim será apenas Anjo. Ao terminar de falar, abriu um grande sorriso de dentes brancos, cativando a empregada mais nova, que disse:
- Você quase acertou. O nome dela é Gabriela, o que dá no mesmo.
Gabriela olhou com a cara fechada para a outra garota. Não havia gostado daquele homem e não queria que ele soubesse seu nome. Por isso não estava satisfeita com o que a empregada fez.
- É melhor as duas entrarem e voltar para os afazeres que deixaram incompletas. E o senhor pode seguir seu caminho. Eu cuido do cachorro que você quase matou nesse seu monstro.
Disse de costas para o rapaz.