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Retalhos - Suas escolhas determinará o seu destino!

Retalhos - Suas escolhas determinará o seu destino!

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Sinopse

Índice

Raquel, uma garota de 15 anos, mora em uma fazenda com os pais e os trabalhadores da terra. Seu melhor amigo, Guilherme, filho do empregado braço direito de seu pai, a ajuda a enfrentar seus dilemas internos: ela não consegue se entrosar na escola, sente-se rejeitada e problematiza isso de forma tão exagerada que os que estão em sua volta não a compreendem. Cansada desse sentimento de rejeição, e dos conflitos que traz no coração, busca no amigo e em sua melhor amiga, forças para enxergar o seu real valor. Mas Fábio, um garoto bonito da escola, começa a notá-la, o que a faz acreditar que ele poderá ser a resposta para todas as suas perguntas. Quem não gosta nada disso é o seu melhor amigo, Guilherme, que não aprova a relação. Quando tudo parecia certo, uma reviravolta acontece e ela terá que juntar seus retalhos. Com medo de tomar decisões erradas, assim como sua mãe, Raquel entrega sua vida e destino, nas mãos do único que ela pode confiar. Ela se surpreenderá com os caminhos traçados para ela.

Capítulo 1 Prólogo

Dona Eva estava passando o café quando conferiu as horas, sua filha ainda não havia se levantado e o dia na fazenda tinha começado fazia tempo. Ela enxugou as mãos no avental e foi até o quarto da garota.

— Raquel, acorde minha filha, já são nove horas. O Guilherme, você sabe, acorda junto com as galinhas e não para de perguntar por você.

— Mas mamãe, eu não dormi bem a noite, tive pesadelos com aranhas. Preciso dormir mais um pouquinho. Ela puxou o lençol sobre o rosto.

— Pesadelos, Kel? Eu falei para você não comer tarde que ia ter pesadelos. Que bom que dessa vez não foi para minha cama, você já está mocinha e precisa aprender a dormir em seu quarto.

— Eu não estou mocinha, só tenho 10 anos, mamãe!

— Mas crianças de 10 anos dormem em seus quartos.

— A senhora sabe que tenho medo de aranhas e elas sempre entram aqui a noite.

— Nós moramos na fazenda, minha filha, invadimos o território delas.

— Elas que invadiram o nosso!

— Levante, Raquel. Vou te esperar na cozinha.

A vida na fazenda, para alguns, começava às 4h da manhã, junto com o galo Bruce, esse é o horário que ele canta, não perde a hora. Recebeu esse nome do Guilherme, um garoto de 12 anos estimados por todos. Guilherme era o filho dos trabalhadores da terra, eles moravam em uma das colônias de moradores. Sua família são os trabalhadores mais antigos da fazenda do pai de Raquel.

O Paulo, pai de Kel, sempre quis ter um filho homem, para ajudá-lo nas tarefas mais pesadas da fazenda, como ela é filha única, era com o Gui que ele dividia todo seu conhecimento.

— Até que enfim você veio tomar café, Kel.

— Hoje é sábado, mamãe. Posso dormir até mais tarde.

Ela falou bocejando.

— Você perdeu metade da manhã dormindo, minha filha, a vida passa rápido demais para ficar com os olhos fechados.

— Bom dia, bela adormecida.

— Bom dia, Gui! É hoje que vamos cavalgar com o trovão?

— Come alguma coisa, Gui.

A Eva colocou o prato com um pedaço de bolo na frente dele.

— E que história é essa de cavalgar com o trovão? Ele ainda está sendo domado.

— Obrigado, dona Eva, mas já tomei café da manhã faz um tempo. E já falei isso para a Kel, mas ela está ansiosa para cavalgar com ele.

O garoto puxou uma cadeira e sentou para esperar a amiga terminar seu café.

— Porque ele é o cavalo mais lindo da fazenda.

E era mesmo, ele era tão preto que brilhava no sol. Ela quis colocar o nome dele de Cavalo de Fogo, o nome do cavalo de um dos seus desenhos favoritos, mas seu pai e o Guilherme acharam que trovão combinava mais com ele.

— Ele é um grande cavalo, mas ainda não está na hora de cavalgar não. Hoje quero levar você para ver o filhote do Mutum, ele é muito raro Kel, e eu e o seu pai, depois de tantos anos criando, conseguimos tirar um filhote. Na verdade, mais trabalho do seu pai do que meu, mas estou muito animado, essa espécie está em extinção, então você verá algo muito raro. Não é muito legal, dona Eva?

— É sim, Gui. O Paulo me contou mais cedo e por isso queria tanto que você acordasse para ver, minha filha.

Eva bateu com o avental na cabeça da filha.

— Mas por que não me disse logo que era por isso, mamãe? É claro que quero ver, Gui. Vamos logo. - Ela o puxou pelo braço e correram pelo pasto. A mãe gritou para a garota terminar o café mas era tarde demais.

Os dois passaram pela baia dos cavalos e falaram oi para o Trovão, depois seguiram em direção ao criadouro que estava o grande pássaro negro.

— Este aí é ele? — Ela franziu o nariz assim que viu o filhote do pássaro.

— Lindo, não é?

— Ele parece um pardal!

— Pardal? Não parece, não! Ele é só um filhote, eu sabia que você não ia conseguir enxergar a beleza dessa espécie. - O garoto colocou de volta o filhote no criadouro.

— Gui, eu gostei de conhecer ele, mas achava que eles já nasciam negros e não assim. Agora vamos brincar, Gui. Você disse que ia soltar pipa comigo mais tarde e hoje está um dia incrível!

Ela girou os braços abertos enquanto olhava para o céu azul com um sorriso no rosto.

— Está bem, mas só se chamarmos o João e a Estela para brincarem também!

— Por mim pode chamar.

João e Estela também moravam na fazenda. A fazenda do seu pai, tem uma extensão de 2,5 hectares. O pai dela gostava de contar que ele já tinha sido uma grande fazenda, mas seus avós tiveram que dividir entre os filhos e seu pai foi o único que quis continuar a viver no campo, era de onde eles tiravam o sustento, os tios de Raquel, venderam a parte deles e por isso outra família assumiu o local, eles são bons vizinhos e contribuem muito para a comunidade rural.

— João?

— Oi Gui! - Ele abriu um sorriso quando viu o amigo. - Tudo bem, Raquel?

O menino tinha uma fenda entre os dentes da frente e ficava bem visível quando ele sorria.

— Nós vamos soltar pipa, tá afim de ir com a gente?

— Opa, mas vocês convidaram a Estela?

— A Raquel vai convidar, não é, Raquel?

— Sim, já estou indo.

Ela não gostava de soltar pipa com eles, o Guilherme não brincava direito com ela quando estavam em um grupo maior, ele ficava mais com o João e a deixava com a Estela. A Kel gostava dela, mas ela não era muito boa para erguer pipa e a Kel também não. O Gui, sempre a ajudava quando brincavam sozinhos, mas quando estava com o João, ele erguia a dele e não se preocupava em ajudá-la, dizia que ela tinha que fazer sozinha, se não nunca ia aprender, mas ela não queria ter que correr para ergue-la, ela só queria sentar e vê-la voando sob o céu.

— Oi, Estela, quer soltar pipa com a gente?

Perguntou assim que a Estela abriu a porta.

— Oi Kel! Quero sim! Mas eu achei que nos convidaria para nadar na sua piscina.

A Estela era magrinha, comprida para a idade e usava um vestido florido que fazia suas pernas parecerem duas varetas.

— Boa ideia, Estela! O que acha, Gui?

— Hoje não, Kel. Ele se virou e saiu com o João na frente.

— Vamos deixar para outro dia, Estela. Ela apertou os lábios.

As duas garotas seguiram os meninos pelo campo, o vento soprava sobre eles, indicando que seria um dia perfeito para a brincadeira.

A Raquel tentou levantar sua pipa, que era rosa com listas brancas, mas ela não teve sucesso, ela achava muito difícil. O Guilherme e o João ficaram rindo dela, estavam sentados segurando suas linhas, com as pipas no céu. A Estela, por sua vez, conseguiu suspender a dela e a gozação sobrou toda para a Kel.

— Você viu só, Gui. A Kel não consegue levantar uma pipa, está acostumada a ter tudo na mão. - O João cutucou o amigo rindo.

— Deixa ela, João. Ela vai conseguir.

O Gui incentivou, mas ela estava tão irritada e cansada de correr; sua pipa até subia um pouquinho, mas então caia de bico para o chão.

— Gui, ela vai desistir, olha a cara dela. - João apontou para o rosto de Raquel que parecia um tomate, estava suando. Ela enrolava a linha da sua pipa que estava no chão novamente.

— Não desiste, Raquel. Eu consegui você também consegue. - Incentivou Estela.

Ela tomou fôlego e correu de novo para dar impulso para sua pipa que começou a subir, ela continuou soltando a linha, eles levantaram para ver se dessa vez ela conseguiria, mas enquanto corria, não percebeu a pedra em seu caminho que a fez escorregar e cair de cara no chão. Ela lambuzou todo seu rosto e seu cabelo de terra, que estava úmida pelo orvalho noturno. Os três correram para ajudá-la a se levantar, o João tirou um galho do cabelo dela e gargalhou, ela começou a chorar, não dava para saber se era de dor ou vergonha pela humilhação.

— Eu não disse que ela não ia conseguir? Que tombo, ein! — João continuava rindo.

— Tudo bem, Raquel? - Guilherme a puxou colocando-a em pé.

— Estou com muita dor na cabeça.

Falou aos prantos, limpando a lama do rosto, que tinha se misturado com as lágrimas.

— Quer que eu chame a sua mãe?

Perguntou Estela preocupada.

— Não, ela vai ficar brava.

— Vou levar você. - Gui a pegou no colo e voltaram os quatro para a casa sede.

— Você precisa começar a se virar, Raquel. O João tem razão, você quer que todos façam tudo por você. - Falou em tom suave.

— Eu sei fazer muitas coisas e não é porque não consigo soltar pipa que quer dizer que não sei me virar. - respondeu soluçando.

-Está bom, Raquel. Vou sempre cuidar de você, promessa de irmão! - Ele colocou um beijo em sua bochecha cheio de lama seca.

A mãe da Raquel estava colocando as roupas que lavara no varal e quando os viu chegar com a Raquel no colo, correu preocupada.

— O que aconteceu com você, Kel? Por que você está carregando ela, Guilherme?

- Seus olhos estavam arregalados.

— Ela caiu, dona Eva. Estava tentando levantar a pipa. - Colocou a garota no sofá.

— Eu tropecei e caí de cara no chão, mamãe.

— Obrigada, Gui, por trazê-la para casa. Agora me dê licença que vou levar minha filha para tomar um banho e ver se machucou muito.

— Tá bom, dona Eva. Kel, depois você passa lá em casa para me falar se está melhor, beleza?

— Está bem! - Ela limpou o nariz.

Sua mãe a ajudou no banho, percebeu que seu rosto tinha ralado na queda, mas ela estava tão triste por não ter conseguido levantar a pipa que o ralado no rosto não incomodou.

O Guilherme também era filho único, sua irmãzinha morreu ainda bebê, por isso os pais dele também não tiveram mais filhos.

Paulo, o pai de Kel, ajudava os pais dele a pagar os estudos do Gui, eles estudavam na mesma escola. Ele tirava boas notas, se dedicava. Quando os dois eram mais novos, ele ajudava a Kel nas tarefas e trabalhos. Mas com o passar do tempo, ele percebeu que sua ajuda prejudicava as notas das provas de Raquel, ela se tornou tão dependente dele, nos trabalhos, que nas provas, quando ele não estava presente para ajudá-la, ela tirava notas baixas. Raquel não gostava de estudar. Ela gosta é de brincar e se divertir, era sonhadora e tinha um espírito livre. Chamava o Gui para brincar com ela, mas na maioria das vezes, ele negava, só queria saber de estudar, dizia que fazia parte dele, porque os estudos para ele não eram de graça, ele queria mostrar para o pai de Kel que valia a pena investir nele. "Um dia, Kel, terei minha própria terra." Ele sonhava com isso. Mas a Kel não tinha muitos sonhos, queria viajar, conhecer o mundo, queria fazer um intercâmbio, mas seu pai não gostava muito da ideia de deixá-la partir.

— Oi, Kel, sua mãe me contou que você se machucou? - Paulo perguntou ao entrar em seu quarto, o sol já tinha ido embora e ela se preparava para dormir.

— Sim, mas estou melhor. Estava tentando soltar pipa, papai, mas ainda não consegui.

— Você vai conseguir, Kel. Não desista! A vida é cheia de erros e acertos, canso de te dizer isso. - Ele sentou-se ao seu lado.

— Eu não sou o Guilherme, papai, não sou boa em muitas coisas. - Deitou a cabeça no peito dele.

— Então você precisa encontrar algo que seja realmente boa e lutar por isso.

— É, eu preciso, mas tenho medo de não ser boa em nada. - As lágrimas escorreram.

— Todo mundo é bom em alguma coisa, Kel. Você só precisa ter mais disposição para encontrar. - Ele apertou ela em um abraço forte.

— Eu sou muito nova, vou ter tempo para isso, não vou? - Perguntou com os olhos alagados.

— É claro que vai, você é valente e essa é sua maior qualidade. - Ele apagou a luz do abajur e se retirou.

A garota ficou alguns minutos pensando no que o pai falou, que ela era valente. Será? Será mesmo que sou tão valente quanto ele acredita? Suspirou.

Lembrou-se do Gui. Gostava de ver o quanto ele era motivado, seus sonhos e como se dedicava a eles, mas ela ainda não tinha encontrado nada, absolutamente nada que a desse paixão, só tinha dez anos, achava que não tinha que se preocupar com isso agora e realmente era muito cedo. Ela virou-se para o lado e dormiu.

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