-- O bufo dele foi como uma bofetada. Ele não via a mulher com quem dividira a cama por dois anos; via apenas um monstro.
- Não perca seu fôlego com mentiras. Assine isso. Agora! Ou o seu próximo banho será em uma cela de prisão.
Ele arremessou o calhamaço de papéis. As folhas de papel cortante bateram contra o colo de Luana antes de deslizarem pelo chão.
A dor física do impacto foi insignificante perto do rasgo que se abriu em seu peito.
Ela o encarou, lutando para que as lágrimas não vencessem o resto de dignidade que lhe sobrava.
O rosto de Alessandro era uma escultura de gelo: impecável, belo e mortalmente frio. Por dois anos, Luana acreditou que seu amor seria o sol capaz de derretê-lo.
Ela cuidou de cada detalhe da vida dele, sorriu através das indiferenças e amou por dois.
Que erro fatal, ela pensou. Gelo não derrete para quem ele despreza. Gelo apenas corta.
- Luana, minha paciência acabou - Alessandro deu um passo à frente, a aura de comando sufocando o ar do quarto. - Assine e eu te dou a liberdade que você tanto deseja. Caso contrário...
As lágrimas finalmente transbordaram, pesadas, manchando o papel timbrado do divórcio.
- Certo.
Eu assino!
- Ela rabiscou o nome com fúria. Ao terminar, jogou a caneta aos pés dele, os olhos injetados de uma teimosia selvagem.
- Mas entenda uma coisa, Alessandro: a partir de agora, eu é que não te quero mais!
- É mesmo?
- O olhar dele percorreu o corpo dela com um escárnio que a fez sentir-se nua.
- Saia daqui!
Você é um canalha!
- Ela gritou, a voz falhando.
- Vá para o inferno!
- Quem rastejou para entrar na minha vida foi você - ele sibilou, segurando-a pelo braço com uma força desnecessária e arrastando-a de volta para o banheiro.
- Você não tem o direito de dizer "não quero".
O choque foi imediato.
O jato de água fria atingiu Luana, encharcando seu cabelo e a toalha.
Ela caiu no piso de mármore como uma boneca de porcelana estraçalhada.
A água gelada roubava seu fôlego, mas o que a paralisou foi a ordem que ele deu ao sair, sem sequer olhar para trás:
- Assim que ela se recompor, mandem-na para a delegacia. Quero ela presa ainda hoje.
O mundo de Luana desabou. Ele realmente ia destruí-la por uma mentira da Camila?
Com as pernas tremendo e os pulmões queimando, ela se arrastou para fora do box assim que ouviu a porta do quarto bater.
O pânico era um motor potente. Ela vestiu qualquer roupa, pegou o celular com as mãos trêmulas e discou o único número que poderia salvá-la.
- Irmão... por favor... me ajude! - soluçou contra o aparelho.
Passos pesados ecoaram no corredor.
Eram eles. Os cães de guarda de Alessandro.
A porta foi escancarada e a figura imponente do ex-marido surgiu atrás dos brutamontes.
- Você vem por bem.
- Alessandro disse, a voz desprovida de qualquer rastro de humanidade.
- ou prefere que eu mande eles quebrarem suas pernas para facilitar o transporte?
Luana olhou para a janela. O térreo estava logo ali, mas a queda seria feia. Entre a prisão e a dor, ela não hesitou.
- Eu prefiro morrer a ser tocada por vocês!
Ela saltou.
O impacto com o cascalho do jardim rasgou sua pele, o sangue quente contrastando com o frio da noite. Alessandro correu para a janela, o rosto subitamente pálido, mas sua voz ainda era um chicote:
- Peguem-na! Agora! Ela não pode escapar!
Luana não sentia o corte nos joelhos ou o latejar no tornozelo.
O ódio era seu combustível.
Ela correu em direção ao muro lateral, evitando a entrada principal onde os faróis dos carros brilhavam como olhos de predadores.
Havia uma pequena passagem, um antigo vão de serviço quase oculto pela vegetação. Antes de atravessar, ela olhou uma última vez para a mansão iluminada.
- Alessandro!
- o grito dela rasgou o silêncio da propriedade, carregado de uma promessa sombria.
- Eu nunca mais quero te ver! E diga à Camila para se preparar... porque eu vou voltar.