Ouvi ele dizer aos amigos que eu era apenas sua "base segura", a idiota que pagava as contas, enquanto Thalita era o amor de sua vida.
Ele ria da minha ingenuidade, crente de que eu esperaria por ele como um cachorro fiel enquanto ele brincava de casinha com outra.
Mas ele não sabia que eu tinha ouvido tudo.
Engoli o choro, fingi aceitar o adiamento com um sorriso frio e fiz a ligação que mudaria meu destino.
"Vovô, eu aceito. Quero me casar com Tadeu Weber."
No dia da cerimônia, Gilberto esperava celebrar seu amor proibido em paz.
O que ele não esperava era me ver entrando no salão anexo, deslumbrante, para me casar com um Delegado Federal impiedoso, transformando o dia de glória dele em seu completo funeral social.
Capítulo 1
"Vovô, eu quero me casar com Tadeu Weber."
Minha voz soou firme, mas um nó apertava minha garganta. Do outro lado da linha, o silêncio de meu avô era pesado. Ele não era de muitas palavras. Mas a surpresa dele era palpável, mesmo através do telefone.
"Fátima, você tem certeza do que está dizendo?" ele finalmente perguntou. Sua voz, geralmente grave e imponente, estava tingida de perplexidade.
"Tenho, vovô. Absoluta." Meus olhos ardiam, mas eu me recusei a chorar. Não mais.
"Mas... e Gilberto? Seu casamento é em semanas."
"Não haverá casamento com Gilberto. Ele não é o homem com quem eu deveria me casar." A cada palavra, uma camada da dor que me sufocava se desprendia.
Meu avô suspirou. Eu podia imaginar seu rosto, as linhas de preocupação se aprofundando. Ele sempre quis minha felicidade.
"Se é isso que você quer, minha filha. Nós faremos acontecer." Seu apoio era o único pilar que restava em meu mundo desmoronado.
Eu mal conseguia pensar na palavra. A boca seca, o coração em pedaços.
Eu amava Gilberto Coelho com uma intensidade que assustava. Ele era meu universo, o ar que eu respirava. Por sete anos, construímos uma vida juntos. Minha carreira como arquiteta de interiores floresceu ao lado dele. Meus contatos e meu apoio financeiro o ajudaram a lançar sua startup de tecnologia. Eu o via como meu futuro, meu parceiro, a pessoa com quem eu envelheceria.
A imagem do meu vestido de noiva, pendurado no closet, iluminava meus sonhos. O local luxuoso, os convidados, cada detalhe planejado com esmero. Era para ser o dia mais feliz da minha vida. Mas, como um castelo de areia, tudo desmoronou. De repente, em pouquíssimas horas, cada promessa, cada juramento, se transformou em pó.
Uma hora atrás. Eu estava no ateliê, provando meu vestido de noiva. O tecido de seda escorria pelo meu corpo, o véu cobria meus ombros. Eu me olhei no espelho. A imagem de uma noiva feliz.
"Está perfeito, senhorita Soeiro! O vestido foi feito para você," a costureira elogiou, os olhos brilhando. "Você será a noiva mais linda que já vi."
Um sorriso forçado. Minha boca se curvou, mas meus olhos não alcançaram. Uma sensação estranha me apertava o peito há dias. Uma intuição, um pressentimento agourento.
"Onde está Gilberto?" Perguntei, a voz soando mais tensa do que eu queria.
"Ele está lá fora, senhorita. Falando ao telefone." A costureira apontou para a pequena sala de espera.
Eu me virei, o vestido arrastando no chão. No canto, perto da janela, Gilberto ria. Uma risada que eu amava, mas que naquele momento parecia estranha. Não era para mim. Seu rosto estava iluminado, o telefone pressionado contra o ouvido. Seus olhos brilhavam de uma forma que eu não via há muito tempo.
Meu coração afundou. Um calafrio percorreu minha espinha.
O telefone do ateliê tocou. A costureira atendeu e logo veio até mim.
"Senhorita Soeiro, é da empresa de eventos. Eles querem confirmar... o nome da noiva."
Minha respiração parou. A sala girou.
"O que disse?" Minha voz mal saiu.
"Sim. Eles disseram que o senhor Coelho pediu para mudar o nome da noiva para... Thalita Mata. Apenas para a cerimônia simbólica, eles disseram. Mas precisam da sua confirmação para prosseguir com a impressão dos convites."
O mundo rachou sob meus pés. Minhas pernas fraquejaram. As palavras dela eram martelos batendo na minha cabeça. Thalita Mata. A ex-namorada de Gilberto. Aquela que voltou há alguns meses, alegando estar doente, à beira da morte.
Lágrimas quentes escorreram pelo meu rosto, manchando o vestido branco. Não era apenas uma traição. Era uma humilhação pública. Ele estava usando meu dinheiro, meu planejamento, para se casar com outra mulher. Uma "cerimônia simbólica" que ele esperava que eu aceitasse, calada, enquanto ele me rasgava por dentro.
Eu me lembrei de quando Thalita voltou. Gilberto estava estranho. Eu o via ao telefone, sussurrando. Ele dizia que era para o trabalho, mas minha intuição gritava. Uma noite, eu o segui. Vi ele se ajoelhar na frente dela, no meio de um restaurante chique, uma caixinha de veludo na mão. Ela, sorrindo, aceitando o anel e beijando-o.
"Gilberto, você está noivo de Fátima!" Um dos amigos deles exclamou, chocado.
"É só para animar a Thalita. Ela está doente, sabe? É o último desejo dela. Fátima vai entender. Ela é boa demais para não entender." A risada de Gilberto preencheu o ambiente.
Thalita acenou para o amigo, com um sorriso angelical. "Por favor, não digam nada a Fátima. Eu não quero causar problemas. Ela é tão legal, eu não quero que ela se preocupe com uma moribunda como eu."
E então, eles se beijaram. Sob os aplausos e risadas dos amigos. Eu estava ali, escondida nas sombras, meu mundo em pedaços.
A voz da organizadora de eventos me trouxe de volta à realidade. "Senhorita Soeiro? Está tudo bem?"
Respirei fundo. Meus lábios tremeram.
"Sim. Está tudo bem." Minha voz saiu estranhamente calma. "Mude o nome da noiva para... Fátima Soeiro. E por favor, reserve o salão anexo do hotel. Para a mesma data. O principal pode ficar com a Thalita."
Desliguei o telefone. Meu corpo tremia, mas minha mente estava fria.
Gilberto se aproximou, o sorriso ainda no rosto. Ele me abraçou por trás, beijou meu pescoço.
"Você está linda, meu amor." Sua voz era suave, cheia de carinho falso.
"Gilberto," eu disse, me virando para encará-lo. "Precisamos adiar o casamento." Eu o olhei nos olhos, tentando decifrar o que passava em sua mente.
Ele hesitou, os olhos desviando. "Ah, Fátima, meu amor... Eu ia falar com você sobre isso. Uma conferência superimportante surgiu, justo na nossa data. Precisamos adiar por um mês." Ele soava aliviado, como se eu tivesse lido sua mente.
"Tudo bem," eu disse, surpresamente calma. "Por que não adiamos para o mês que vem? Assim você pode ir à sua conferência."
Ele me olhou, surpreso. "Sério? Você não está brava?"
"Não. Eu entendo. É importante para sua carreira." Eu sorri. Um sorriso frio, que não chegava aos olhos.
"Você é a melhor, Fátima! Eu sabia que você entenderia!" Ele me abraçou apertado, beijando minha testa. "Vou resolver tudo agora mesmo. Avisar os fornecedores." Ele se afastou apressado, pegou o telefone e começou a discar.
Eu o observei partir. Um sorriso cruel nasceu em meus lábios.