- Papai... Tia Angel... onde vocês estão? - minha voz ecoou pela floresta, mas parecia engolida pela imensidão verde. Eu estava sozinha. Abandonada.
O sol já havia se posto completamente. Os últimos raios dourados, que antes eram lâminas suaves, agora pareciam uma lembrança cruel de que a noite estava chegando, e com ela, o perigo. A floresta que conectava as alcateias era vastamente interligada, um emaranhado de vegetação que mantinha as vidas dos lobos em segredo. Mas sem minha loba, eu não sabia como rastrear o caminho de volta.
De repente, o chão tremeu sob meus pés, e um barulho crescente surgiu por trás de mim. Olhei para trás, mas não vi nada além das árvores. A sensação de ser observada me fez acelerar o passo.
- Papai... - sussurrei, tentando controlar a voz trêmula. Mas a única resposta que ouvi foi o vento, que sussurrava como se zombasse da minha fraqueza.
Tropecei em uma raiz que me fez cair de joelhos, arranhando a pele. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto enquanto eu tentava me levantar, com a sensação de que a floresta estava se fechando em torno de mim.
- Por favor... não me deixem sozinha aqui - murmurei para mim mesma, minha voz quase inaudível, mas carregada de uma angústia profunda. O medo tomava conta de mim, mas algo dentro de mim ainda resistia.
Foi então que uma voz suave e firme ecoou em minha mente.
- Levante-se, Isabella. Você não está sozinha.
Assustada, olhei ao redor, mas não vi ninguém.
- Quem é você? Como pode estar na minha mente? - perguntei, a voz tremendo, o medo quase me paralisando.
- Eu sou parte de você. Sou sua loba, Ártemis. Chegou a hora de nos conhecermos.
Meu coração disparou. A sensação de uma presença incomum e imensa encheu minha mente.
- Minha... minha loba? Mas eu sou muito jovem para isso. Papai disse que isso aconteceria quando eu fosse mais velha...
- As circunstâncias nos trouxeram aqui, Isabella. Agora, ouça-me. Eu posso ajudá-la a encontrar o caminho de volta.
A floresta parecia mudar ao meu redor enquanto a presença de Ártemis se tornava mais forte. Eu sentia uma força crescente dentro de mim, algo primal e selvagem, que eu nunca havia experimentado antes. Algo que falava de coragem, de força.
- Confie em mim. Siga o aroma da água. O rio nos levará ao seu pai. - ela disse, sua voz envolvente e tranquila.
Eu enxuguei as lágrimas e assenti. Algo dentro de mim sabia que podia confiar nela.
- Tudo bem. Me mostre o caminho.
Com o auxílio de Ártemis, os sons da floresta se tornaram mais nítidos, e os aromas mais intensos. Cada ruído era uma pista, cada cheiro, uma orientação. O murmúrio distante do rio chegou aos meus ouvidos como uma melodia de esperança, e então, correndo em direção ao som, trombei em algo... ou melhor, em alguém.
O impacto me fez cair para trás. Quando levantei o olhar, vi um jovem parado diante de mim. Ele parecia ter uns 18 anos, com cabelos loiros que caíam sobre seus ombros e olhos azuis profundos como o oceano. Sua presença era imponente, mas ao mesmo tempo, ele tinha algo que me atraía de uma forma que eu não conseguia explicar.
- Quem é você? - a voz dele era grave, mas com um tom curioso. Antes que eu pudesse responder, uma outra voz chamou:
- Logan! Onde você está?
O jovem olhou para trás, distraído pelo chamado. Aproveitei o momento e corri, deixando-o para trás. Mas, enquanto fugia, aqueles olhos azuis não saíam da minha mente. Algo nele me atraiu, algo profundo e misterioso.
- Rápido, Isabella. Estamos perto. - Ártemis me guiava com precisão, e logo avistei a figura imponente de meu pai. Ele estava parado ao lado da tia Angel, os olhos ansiosos escaneando o ambiente.
- Papai! Tia Angel! - gritei, correndo para os braços deles. Meu pai me ergueu com força, e eu senti o calor e a segurança de seus braços.
- Graças à Deusa, você está bem. Achei que tinha perdido você - ele disse, a voz embargada de emoção.
Enquanto me apertava em seus braços, Ártemis falou novamente em minha mente, sua voz suave e firme:
- Isabella, prometa-me algo.
- O quê? - pensei, ainda emocionalmente abalada.
- Nunca diga a ninguém que pode falar comigo. Este será nosso segredo. Apenas nosso.
Hesitei, o peso da responsabilidade tomando conta de mim, mas acabei assentindo, sentindo uma ligação profunda com aquela voz que agora fazia parte de mim.
- Eu prometo - respondi, a voz firme em minha mente.
Enquanto meu pai me segurava, vi um brilho de alívio nos seus olhos. Ele parecia perdido em seus pensamentos, com a expressão de quem revivia o medo de me perder. Como se o tempo tivesse voltado para o dia em que meu pai Mason morreu. Ele me apertou ainda mais contra si, e ouvi suas palavras, impregnadas de uma força imensa.
- Nunca vou deixar nada acontecer com você, Isabella. Nunca.
A promessa dele, tão forte e verdadeira, fez meu coração se sentir seguro novamente. Mas algo me dizia que aquele era apenas o começo de uma jornada muito maior, onde a verdadeira força estava prestes a despertar dentro de mim.