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Corrrentes De Cristal

Corrrentes De Cristal

5.0
24 Capítulo
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Elena Sandoval jamais imaginou que a noite em que seu pai a vestiu com um elegante vestido não seria para seu aniversário... mas sim para vendê-la. Profundamente endividado com um dos homens mais perigosos do país, seu pai a entrega como pagamento ao líder da máfia italiana da cidade: Dante Moretti, conhecido por sua frieza, sua elegância letal e sua reputação de ser impiedoso. Dante não busca amor. Ele busca obediência. Mas o olhar desafiador de Elena desperta algo que nem seus inimigos nem seus capangas jamais viram: fraqueza. Ela não está disposta a ser sua boneca, e ele não sabe se quer quebrá-la... ou se render a ela. Em meio ao luxo, sangue e segredos, ambos descobrirão que o amor pode ser mais perigoso que a morte.

Índice

Capítulo 1 O valor de uma divida

Dizem que as dívidas se pagam com dinheiro, mas na minha casa, elas sempre foram pagas com silêncio.

E o silêncio... tem um preço alto.

Meu nome é Elena Sandoval, tenho vinte e dois anos e cresci aprendendo a ler rostos antes de livros contábeis. Suponho que era inevitável: quando se vive com um pai que promete o mundo e mal consegue se sustentar sozinho, aprende-se a antecipar a ruína.

Toda manhã começa igual: uma xícara de café frio, uma pilha de contas e um pai que jura que "desta vez" tudo ficará bem. Eu o encaro com a pouca paciência que me resta, a mesma paciência que herdei da minha mãe antes de ela partir. Meu pai já foi um empresário respeitável: tinha uma pequena importadora, um negócio familiar que prosperava enquanto ele não misturava uísque com suas decisões. Mas a ambição pode ser um veneno lento... e a dele já o havia paralisado.

Primeiro vieram os empréstimos bancários, depois os informais e, por fim, os assinados não com tinta, mas com sangue. Descobri isso por acaso. Ao revisar os livros contábeis, encontrei números que não batiam, pagamentos ocultos, juros impossíveis. Havia um nome repetido, escrito no canto de um pedaço de papel manchado:

Dante Moretti.

Eu não sabia quem ele era na época, mas só o nome me arrepiou até os ossos. Os boatos no porto diziam que ele era um homem que não perdoava erros. Controlava as rotas, os portos, os negócios de luxo e as sombras. Tinha o poder de um rei, mas o olhar de um predador.

Meu pai começou a mudar depois de conhecê-lo. Dormia pouco, bebia mais. Tentei salvar o que restava da empresa, negociar com os clientes, manter à tona uma companhia que já estava afundando. Ganhei no mercado a reputação de ser fria, rápida e lógica. Me chamavam de a garota dos cálculos impossíveis, aquela que transformava prejuízo em lucro. Mas não havia fórmula que pudesse salvar alguém que havia apostado a própria alma.

Naquela noite, encontrei-o em frente à lareira, o copo meio vazio, o olhar perdido nas chamas.

"Quanto você deve a ele, pai?", perguntei sem rodeios.

Ele levou alguns segundos para responder.

"Você não entenderia."

Eu entendi mais do que imaginava. Homens que acabam devendo a Dante Moretti não ficam apenas arruinados financeiramente. Eles ficam arruinados em dignidade.

Os dias seguintes foram uma coreografia de ansiedade. Recebi ligações, mensagens sem remetente, ameaças veladas. Continuei trabalhando, tentando renegociar contratos, vendendo bens, buscando uma saída racional. Mas todos os meus cálculos terminavam da mesma forma: no vermelho.

Certa tarde, enquanto eu revisava as contas no pequeno escritório, ouvi a porta da frente se abrir com um estrondo. Meu pai entrou, pálido, os lábios trêmulos. Na mão, ele segurava uma carta lacrada com cera preta.

"Ele quer te ver", disse, evitando meu olhar.

"Quem?" "Dante."

O silêncio que se seguiu pesou mais do que qualquer palavra.

Fiquei imóvel, olhando para ele, tentando decifrar se havia medo ou alívio em sua voz.

"Por que ele iria querer me ver?", perguntei lentamente.

Ele engoliu em seco, afundando na poltrona como se o peso do mundo o estivesse esmagando.

"Porque... não tenho nada para te pagar."

"O que você fez, pai?"

Ele não respondeu. Apenas fechou os olhos com força, envergonhado, e murmurou algo que jamais esquecerei:

"Você é a única coisa de valor que me resta."

O ar se tornou uma adaga em meu peito. Não chorei, não gritei. Apenas o encarei.

Naquele instante, compreendi que meu destino havia sido vendido antes mesmo que eu tivesse a chance de lutar por ele.

"Por que ele queria me ver?" Mas se há uma coisa que aprendi na vida, é que não se perde um negócio sem negociar primeiro.

Então respirei fundo, enxuguei as lágrimas que ameaçavam me trair e disse com voz firme:

"Então ele mesmo vai descobrir que nem tudo que compra... lhe pertence."

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