Confuso, ele saiu do quarto, entrou no banheiro e parou diante do espelho, observando seu reflexo. Ele vasculhou a mente, tentando resgatar qualquer fragmento da noite anterior, mas encontrou apenas um vazio absoluto.
"Quem é ela? E por que está na minha cama?", ele se perguntou, passando a mão pelos cabelos negros.
Seus olhos pousaram no anel de ouro no seu dedo. Imediatamente, ele virou a mão e o examinou atentamente. Após tirá-lo do dedo, leu as iniciais gravadas dentro dele.
"J.H."
"O que isso significa? Jason Haward?", ele se perguntou.
"Parecem minhas iniciais, mas por que estou usando uma aliança?"
Seu pensamento voou imediatamente para a mulher no quarto. Teria ela colocado aquilo nele? Teria ela colocado isso no dedo dele?
Enquanto isso, no quarto, a mulher chamada Julia despertava com a cabeça latejando, como se um martelo golpeasse suas têmporas. Ela tentou se lembrar do que havia feito para estar com uma dor de cabeça tão forte.
Julia tentou se sentar, mas logo percebeu que estava nua e paralizou. Puxando o lençol para cobrir o corpo, sentiu um desconforto agudo entre as pernas.
"Onde estou e o que diabos aconteceu?", ela pensou, percebendo que estava em um lugar estranho.
Ao se levantar da cama, Julia olhou com horror para a mancha vermelha no lençol. "Ah, não... o que eu fiz dessa vez?"
A ficha caiu no mesmo instante - ela havia perdido a virgindade. Mas como? O pânico cresceu enquanto ela vasculhava a mente, tentando resgatar qualquer memória. Ela sempre quis que sua primeira vez fosse memorável, mas agora, não se lembrava de absolutamente nada.
Enquanto tentava processar o choque, a porta se abriu, e um homem alto e atraente, de olhos azuis e cabelos pretos, entrou no quarto com uma presença imponente.
"Quem é você?", perguntou Jason, a voz grave preenchendo o ambiente.
"Eu que deveria fazer essa pergunta! Quem é você e como vim parar aqui?", retrucou Julia, afastando-se na cama de casal.
O olhar de Jason, porém, desviou-se para a mão de Julia, que segurava o lençol enrolado ao corpo, e o brilho no dedo dela chamou sua atenção - ela também usava uma aliança. Quando ele avançou em sua direção, Julia se assustou e recuou instintivamente, mas ele não parou.
"Não se aproxime ou eu grito", ameaçou ela.
"Grite o quanto quiser. Ninguém vai te ouvir aqui", respondeu ele, frio.
De repente, as costas de Julia bateram na janela e ele agarrou a mão dela com força.
"Como conseguiu isso?", questionou ele, erguendo a mão dela para encarar o anel.
Julia olhou para ele confusa, sem conseguir respondê-lo. Ela não fazia ideia de como o conseguiu, mas adorou as pedras de diamante ao redor, pois eram muito bonitas.
"Estou falando com você, garota!", Jason gritou, apertando o pulso dela com mais força.
Julia se encolheu de dor, sentindo o rosto queimar, então respondeu, a voz falhando: "Não sei."
"Você não sabe como foi parar na minha cama?", Jason gritou com ela.
"Eu não sei!" As lágrimas finalmente transbordaram, rolando quentes pelo rosto dela.
Irritado, Jason a jogou no chão.
"Quando eu voltar, não quero mais te ver aqui", disse ele antes de ouvir seu celular tocar.
Jason varreu o quarto com os olhos, seguindo o som e, por fim, o encontrou sobre a mesa de cabeceira, e o pegou. Era uma ligação do seu irmão.
"Fala, James."
"Oi, Jason. Que horas você vem?"
"Para onde? Tenho coisas para fazer no escritório. Então, o que quer que tenha para dizer, desembucha logo", respondeu Jason, irritado.
"Irmão, hoje é sábado. O papai passou mal ontem à noite e o levamos para o hospital. A mamãe te ligou, esqueceu?", lembrou James.
A menção ao hospital o paralisou.
Jason forçou a memória, mas era como olhar para um buraco negro. Ele não se lembrava de nada daquilo.
"Claro... Estou indo", disfarçou, tentando manter a calma.
Ao encerrar a chamada, ainda atordoado pela lacuna em sua memória, seu olhar cruzou com a mancha no lençol branco.
"Isso é sangue?", ele pensou, sabendo exatamente o que isso significava.
"Será que fui o primeiro dela?", ele se perguntou, se virando para olhar para a mulher que se cobria com o lençol, ainda parada em frente à janela.
"Droga!", Jason exclamou, percebendo que teria que assumir a responsabilidade por isso, mas ele não estava pronto.
"Qual é o seu nome?", ele perguntou, mas recebeu apenas silêncio.
"Me responda, droga!"
O grito fez Julia pular de susto.
"Julia... Julia Harrison", respondeu ela, trêmula.
"Julia, saia da minha casa. Agora."
"Eu não sei onde estão minhas roupas...", murmurou, abraçando os próprios joelhos.
Jason passou a mão pelo rosto, frustrado. "Qual o seu tamanho?"
"O quê?"
"O tamanho das suas roupas, garota!"
"Trinta e oito."
Sem dizer mais nada, ele discou um número no celular. "Traga um vestido feminino, tamanho trinta e oito. Você tem quinze minutos."
Em seguida, ele entrou no banheiro, deixando Julia no quarto.
"Quem diabos é esse cara e por que ele é tão cruel?", Julia pensou.
Ela vasculhou o quarto com os olhos, buscando qualquer vestígio de suas roupas, mas não havia nada.
O tempo se arrastou até que uma batida na porta a fez pular. Paralisada, não soube como reagir, e nesse momento Jason saiu do banheiro.
"O que foi? Não ouviu baterem? Ou não sabe atender uma porta?", disparou ele, irritado.
Bufando, ele mesmo abriu a porta, pegou uma sacola das mãos de um funcionário e a fechou na cara dele.
Depois, deu dois passos e arremessou o pacote para Julia.
"Vista-se e suma antes que eu saia", disse, então voltou para o banheiro.
Com as mãos trêmulas, Julia abriu a sacola. Era um vestido azul, de corte reto e simples.
Sem calcinha e sem sapatos, ela o vestiu às pressas, correu para a porta, saiu e bateu com força atrás de si, o estrondo ecoando pelo corredor.
No andar de baixo, vários funcionários uniformizados pararam seus afazeres para encará-la. Sentindo o sangue sumir do rosto, Julia ficou branca como papel e baixou a cabeça.
"Me desculpem...", sussurrou, correndo em direção à escadaria.
Ela desceu as escadas, mas não sabia como sair da casa. De repente, viu uma mulher carregando uma bandeja em uma direção. O aroma indicava que era comida.
"Por favor, como eu saio daqui?", implorou Julia, parada no último degrau.
Julia correu rapidamente na direção que a mulher havia lhe mostrado e logo saiu da casa após descer uma escada longa e interminável. Ao olhar para trás, viu o prédio imponente e luxuoso de oito andares do qual acabara de fugir.
Ela caminhava descalça pelo pavimento molhado, indicando que havia chovido na noite anterior. Quando ela ergueu a mão para parar um táxi, percebeu que não tinha dinheiro e também não conhecia o local.
"Meu Deus, preciso parar de beber e ir a boates. Como vim parar aqui com aquele babaca lindo?", ela se lamentou, frustrada, olhando ao redor.
Julia não tinha celular para ligar para alguém, então continuou andando pela rua.
Ela não sabia há quanto tempo estava andando quando um Bugatti Chiron diminuiu a velocidade próximo a ela.
Ela tentou ignorar, apertando o passo, mas a buzina insistente a fez parar.
"Entre", ordenou a voz grave e familiar.
Era ele - o homem que gritara com ela no prédio.
Julia o ignorou e continuou andando. Mas o carro parou e um homem de smoking preto e óculos escuros desceu do banco da frente, bloqueando seu caminho. Antes que ela pudesse reagir, ele a segurou pelo braço.
"Me solte, ou vou gritar", ameaçou Julia enquanto lutava para se libertar.
"Vá em frente. Como se alguém fosse aparecer...", respondeu o segurança, arrastando-a sem cerimônia para o veículo.
Após abrir a porta do banco de trás, ele jogou Julia no carro e ela caiu no assento, mas rapidamente se recompôs e se empurrou para trás até suas costas baterem na porta do carro, trêmula de medo.
"Ouça, garota. Quando eu digo algo, você ouve e obedece. Entendeu?", disse Jason com uma voz profunda e calma.
Ele nem sequer olhou para ela, os dedos digitando freneticamente no celular.
Julia se encolheu ainda mais, desejando atravessar a lataria do carro e desaparecer.
"Para onde?", perguntou ele, ainda focado na tela.
"Belle Glade", respondeu Julia, trêmula.
Jason desviou o olhar para ela brevemente e pôde ver o quanto ela estava assustada, mas não se importou. Ele voltou a olhar para o celular e deu as instruções ao motorista para deixar Julia no destino que ela havia mencionado.
Julia se sentou no canto do carro com as costas pressionadas contra a porta do banco de trás, com a cabeça baixa durante toda a viagem até chegarem ao seu destino.
Assim que o veículo parou e a trava estalou, ela saltou para fora como se o banco estivesse em chamas.
"Obrigada", conseguiu murmurar, afastando-se rapidamente.
Enquanto caminhava apressada em direção à sua casa, olhou por cima do ombro uma última vez, vendo o carro partir.
"Que homem grosseiro", pensou Julia, abraçando o próprio corpo contra o vento.