O silêncio que se seguiu foi pesado, sufocante.
"Ela cumpriu seu propósito", disse Dante, sua voz baixando para um sussurro gélido. "Uma parideira só tem valor quando pode produzir. Depois disso..."
Ele não precisou terminar. Em seu mundo, coisas inúteis são descartadas. Violentamente. Cada toque, cada sorriso calculado tinha sido uma mentira para garantir sua dinastia.
Ele via um legado, não um filho. Ele via um receptáculo, não uma esposa.
A única maneira de vencer seu jogo era virar o tabuleiro inteiro. Peguei meu celular e liguei para a clínica que minha amiga havia me indicado.
"Sim", eu disse, minha voz estranha, oca e firme. "Gostaria de agendar uma interrupção."
Capítulo 1
Ponto de Vista: Elara
A segunda linha rosa apareceu, uma sentença de morte rabiscada em tinta fraca. Eu carregava o herdeiro de Dante Moretti, o chefe do Comando de São Paulo. Por três anos, esse foi meu único propósito. Mas agora, era minha única vantagem.
Meu estômago revirou, uma mistura azeda de enjoo matinal e pavor puro. Nosso casamento não era uma união; era um contrato assinado com sangue e selado com as dívidas de negócios do meu pai. Dante não queria uma esposa para amar. Ele queria um útero para produzir um legado.
Agarrei o teste, o plástico escorregadio de suor. Eu tinha que contar a ele. Era uma regra. Mas ainda não. Não até eu ter um plano. Minha esperança tola de que ele pudesse se abrandar, de que um filho pudesse preencher o abismo entre nós, morria um pouco mais a cada dia.
Encontrei forças nas pernas e caminhei pela mansão fria e silenciosa que ele chamava de nosso lar. Cada superfície era de mármore polido ou madeira escura, refletindo uma versão distorcida de mim mesma - um fantasma em uma gaiola dourada. A porta de seu escritório estava entreaberta, o murmúrio baixo de vozes se espalhando pelo corredor.
Parei, minha mão pairando sobre a maçaneta. Sua voz, um ronco baixo que poderia comandar exércitos ou congelar o sangue, era inconfundível.
"O médico confirmou esta manhã. Ela está grávida."
Minha respiração engatou. Ele sabia. Claro que ele sabia. O médico se reportava a ele, não a mim. Eu era apenas o receptáculo.
Isabela, sua irmã e uma mulher com veneno no lugar de sangue, soltou uma risada aguda e zombeteira. "Finalmente. Demorou o suficiente para domá-la. Eu já estava ficando entediada."
"Está feito", disse Dante, sua voz plana, desprovida de qualquer emoção. Sem alegria, sem alívio. Apenas... finalidade. "Agora o verdadeiro jogo começa."
"Qual é a aposta desta vez?", perguntou Isabela, sua voz iluminada por uma diversão cruel.
Meu sangue gelou. Uma aposta?
"Um milhão de reais que é um menino", declarou Dante, como se estivesse discutindo o tempo. "Se for uma menina, pode ficar com a cobertura nos Jardins."
Meu mundo inclinou. Eles estavam apostando no meu filho. Em uma vida que não era nada mais do que uma ficha em sua mesa de pôquer.
"Fechado", ronronou Isabela. "Mas e ela? Assim que ela te der o herdeiro, se tornará inútil. Você vai simplesmente mantê-la por aí como um móvel bonito?"
O silêncio que se seguiu foi pesado, sufocante. Prendi a respiração, meu ouvido pressionado contra a madeira fria da porta.
"Ela cumpriu seu propósito", disse Dante, sua voz baixando para um sussurro gélido que eu sabia ser reservado para sentenças de morte. "Uma parideira só tem valor quando pode produzir. Depois disso..." Ele não terminou a frase. Ele não precisava. No mundo do Comando, coisas que não eram mais úteis eram descartadas. Violentamente.
Meu estômago se contraiu, e eu cambaleei para trás, apertando a mão sobre a boca para abafar um soluço. Isso não era apenas sobre um casamento sem amor. Era sobre sobrevivência. A sobrevivência do meu filho. Ele não colocaria as mãos neste bebê. Eu não deixaria meu filho ser criado por monstros.
O amor que eu uma vez tolamente esperei que pudesse crescer tinha sido uma mentira. Cada toque, cada sorriso calculado - tudo fazia parte de sua estratégia.
Uma clareza fria e dura tomou conta de mim, extinguindo as últimas brasas de esperança. Eu era um peão em seu jogo, e a única maneira de vencer era tirar a peça mais valiosa do tabuleiro por completo.
Tirei o celular do bolso, meus dedos tremendo enquanto encontrava o número do contato que minha amiga havia me dado meses atrás - um homem especializado em fazer pessoas desaparecerem.
Uma voz calma e profissional atendeu no segundo toque. "Sim?"
Olhei para a porta fechada do escritório, atrás da qual meu marido apostava na vida de nosso filho. O filho que eu roubaria dele.
"Sou eu", eu disse, minha voz estranha, oca e firme. "O plano está ativo. Preciso de uma nova identidade e uma estratégia de saída. Vou levar meu filho, e nós vamos desaparecer."