"Senhora Quinn, como uma intérprete simultânea de primeira linha, qual é o princípio profissional do qual você mais se orgulha nesses anos de trabalho?"
Olhei diretamente para o meu marido, sentado na primeira fila.
"O que mais me orgulha nessa profissão é saber que meu marido arriscou a vida para proteger sua amante, e ainda assim foi capaz de, calmamente, como intérprete principal, transmitir com precisão as ordens que, no final, o salvariam."
....
"Kathy, você está vendo isso?" A voz da minha melhor amiga, Joyce Clarke, veio pelo alto-falante do telefone, tensa de raiva.
Eu estava no meu hotel, arrumando uma mala, com o telefone no viva-voz.
Na televisão, Jared estava no estúdio da TV Nacional, vestindo aquele terno azul profundo que passei inúmeras vezes.
O apresentador olhava para ele com admiração. "Senhor Stanley, a situação foi tão perigosa. Por que correu para proteger Bailee?"
Jared olhou seriamente para a câmera. "Na diplomacia, cada colega é um tesouro nacional, símbolo de nosso país e um ativo muito importante. Protegê-los é meu instinto."
O chat da live explodiu.
"Um verdadeiro herói ferido pelo país!"
"Jared é o tipo de homem para se casar!"
"É assim que um diplomata deve ser!"
Soltei uma risada fria, enfiando a última camisa na mala.
"Kathy, você está bem?" A voz de Joyce tremia.
"Estou bem."
Desliguei a TV, e a sala ficou em silêncio.
Três anos de casamento, resumidos em sua única palavra, "instinto."
O "tesouro nacional" que ele protegera não era eu, a intérprete principal que se destacara diante de diplomatas experientes na mesa de negociações.
Foi Bailee, a que "desmaiou" quando os tiros começaram.
Abri uma gaveta e tirei um pen drive criptografado. Nele estava a gravação completa do áudio da crise de reféns em Mayland. Incluindo todo o processo de Jared violando a disciplina operacional, quase matando todos em sua "heroica tentativa de resgate."
Então, meu telefone tocou e o nome de Jared apareceu na tela.
Recusei a chamada.
Tocou novamente.
Desliguei de novo.
Quando tocou pela terceira vez, atendi.
"Kathy, onde você está?" Ele parecia impaciente.
"Estou me mudando."
"Se mudando? Mas que absurdo é esse? Seja lá o que for, vamos conversar quando nos encontrarmos."
"Não há nada para conversar." Eu deslizei os papéis do divórcio para dentro da bolsa. "Só queria dizer que pedi o divórcio."
Um silêncio mortal do outro lado.
Demorou dez segundos para Jared falar. "Você ficou louca?"
"Não." Arrastei minha mala em direção à porta. "Nunca estive mais lúcida em toda a minha vida."
"Kathy! Sabe que horas são? A cúpula do G20 está prestes a começar. Por que essa birra sem sentido?"
Birra?
Parei.
"Jared, durante a crise de Mayland, trabalhei sem parar por 72 horas, traduzindo consultas de emergência para treze países."
"Eu sei que você trabalhou duro..."
"Você não sabe de nada," eu o interrompi. "Você tem ideia de como me senti? Ouvindo pelo fone de ouvido quando o Capitão Walsh deu a ordem para te resgatar?"
"Kathy..."
"Você sabe que minha mão tremia quando traduzi 'Evacuar imediatamente, alvo ferido' para o árabe?" Jared ficou em silêncio.
"Agora toda a internet está te elogiando como um herói," eu disse, empurrando a porta. A luz do corredor era intensa. "Então me diga, herói nacional. Quando você estava salvando a sua donzela em perigo, pensou em sua esposa uma só vez?"
"Eu..."
"Esqueça." Apertei o botão do elevador. "Não precisa responder. Eu já sei."
No momento em que desliguei, parecia que o mundo inteiro ficou em silêncio.
As portas do elevador se abriram. Empurrei minha mala para dentro.
Meu reflexo no espelho parecia calmo, meus olhos determinados.
Aos 30 anos, eu, Kathy Quinn, finalmente ia viver por mim mesma pela primeira vez.