"Eu tava procurando uma porta só, por que tem duas?", pensou.
Ele só queria cair fora daquele lugar maldito. A dor no corpo era insuportável. Ele não aguentava mais. Se continuasse assim, ia ficar louco. Quando foi que ele ficou preso ali? Não sabia. Há quanto tempo? Nem ideia. Por que ele estava ali? Também não sabia. Não lembrava de nada, só daquelas paredes brancas e de uma dor foda no corpo todo. A garganta estava seca, parece que fazia séculos que não bebia água. É... quando foi a última vez que ele comeu? Não lembrava. Como ele ainda tava vivo? Não fazia sentido. Só sabia de uma coisa: precisava sair dali logo. Na meia-luz, ele ficou na frente das duas portas, sem saber o que fazer. No final, escolheu a porta da esquerda e abriu. A luz forte do outro lado quase o cegou. Ele apertou os olhos e tentou abrir devagar, para se acostumar.
Bip bip beeeeeep. Uns barulhos esquisitos ecoaram. Parecia que os tímpanos iam estourar. Fazia quanto tempo que ele não ouvia um som? Franziu a testa.
"Ele tá tentando abrir o olho!", gritou uma voz de mulher.
"Olha, ele tá franzindo a testa!", disse outra voz, animada.
'Quem é? Não conheço essa voz. Por que estão gritando?', ele pensou.
"Nossa, a pressão dele subiu. Enfermeira, aplica a injeção agora!", ordenou uma voz de homem, preocupada.
'Eu conheço essa voz... Onde foi que eu ouvi? Por que a cabeça dói tanto?', ele pensou. Ele fez força para abrir os olhos e, depois de tentar algumas vezes, conseguiu. Piscou várias vezes para se acostumar com a luz. Devia ter ficado muito tempo naquela escuridão, porque a claridade doía. Quando os olhos abriram de vez, ele olhou em volta.
Parede branca, cheiro de hospital, barulho de máquina, médicos de branco e umas enfermeiras com coisas na mão. Tudo ainda meio embaçado, mas deu para entender: ele tava num hospital. Procurou alguém conhecido, mas a visão estava ruim e as vozes não estavam claras. Tentou falar, mas não saiu nenhum som. Tentou se mexer, mas não conseguiu mover nem um dedo.
Ele é Sam Jacob, um neurologista super famoso no país, que ganhou um monte de prêmios. Ele também é dono de vários hospitais e filho do empresário rico, Edward Jacob. Mas por que ele estava deitado naquela cama, sem conseguir fazer nada? Por que ele estava preso naquele corredor branco? Por que a cabeça doía tanto quando ele tentava lembrar? Enquanto tentava entender, sentiu uma picada leve na mão, como se tivessem dado uma injeção, e apagou de novo.
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"Agora temos um pouco de esperança, Dona Jacob. Depois de dois anos esperando, o Sam finalmente deu um sinal. Tenha fé. Logo tudo vai se resolver", disse o médico para uma mulher que estava lá, sem reação.
"Amy, querida, vai ficar tudo bem. Não se preocupe não. Ele vai acordar logo", disse Lilly Jacob.
"Eu sei, mãe", respondeu Amanda Jacob, com uma voz seca e sem nenhum sentimento. O rosto dela não mostrava nada. A Amanda era linda, de olhos azuis e cabelo louro. Mas os olhos estavam vazios, sem alegria nem tristeza. Ela estava assim desde o que aconteceu dois anos atrás. Parecia um zumbi, mal falava com alguém.
"Tristan, como está meu filho? É a primeira vez que ele reage depois de tanto tempo dormindo. Dois anos na cama... Ele não sabe que o irmão morreu. Não sabe pelo que a Amy passou. Não sabe que ficou em coma todo esse tempo", disse Edward Jacob para o Tristan.
"Pois é, senhor. Fique tranquilo. Ele é forte. Lutou por dois anos e agora está vencendo. Logo ele volta ao normal. É só uma questão de tempo. A gente esperou tanto por isso. Só mais um pouquinho", respondeu Tristan.
O Tristan olhou para a Amanda, que estava sentada lá, parada como uma estátua. Ela não mostrava nenhuma emoção, parecendo que não estava ali. Ela sabia que o marido ia acordar, mas mesmo assim ficava na dela, distante. O Tristan sabia o motivo, mas era difícil botar isso em palavras.