São Paulo, novembro de 2014.
O som abafado do rádio tocava um sucesso de Legião Urbana enquanto Marcos olhava pela janela embaçada do ônibus. A cidade era um caos de buzinas, fumaça e pressa, mas naquela noite havia algo diferente no ar - uma inquietação que ele não sabia nomear.
Tinha 24 anos, cursava o quarto ano de Direito e começava a entender que a vida adulta era feita mais de silêncio do que de certezas. Foi então que ele a viu, pela primeira vez.
Diana estava encostada na parede do salão da república da Vila Mariana, onde um amigo dava uma festa. Não dançava. Não sorria. Segurava um copo de cerveja como se fosse escudo, observando tudo com olhos atentos e distantes.
Marcos ficou hipnotizado. Havia nela um mistério que não era forçado - como se carregasse segredos antigos que pesavam mais do que o vestido preto que usava. Quando os olhos dos dois se cruzaram, foi rápido. Mas o suficiente para ele sentir o mundo dar um estalo por dentro.
Ele se aproximou sem pensar.
- Gosta de Legião? - perguntou, tentando soar casual.
Ela o encarou por dois segundos inteiros antes de responder.
- Gosto de silêncios. Eles dizem mais do que as letras.
E sorriu. Um sorriso pequeno, quase triste.
Naquele instante, Marcos soube duas coisas: que queria vê-la sorrir de novo... e que havia algo naquela mulher que ia bagunçar tudo que ele achava que conhecia.