"Envie uma mulher para o meu quarto." "Sem exigências." - Não quis saber o nome, o rosto, a história. Só precisava de um corpo para esquecer o peso da minha cabeça, então desliguei sem ouvir.
O hall do hotel estava vazio quando entrei, ouvi apenas os meus sapatos. O segurança olhou de canto de olho, mas não se atreveu a dizer nada. Sabia quem eu era - e sabia que era melhor não perguntar. É esperto.
No corredor do meu andar, vi algo que me fez parar por um segundo... Uma mulher na minha porta. Pequena, corpo encoberto por uma longa túnica branca. O rosto parcialmente oculto por um pano sensual que deixava apenas seus olhos à mostra. Uma imagem quase contraditória para uma puta.
Eu deveria achá-la discreta, mas era tudo menos isso. Era provocante ao extremo, justamente pelo que escondia.
Aproximei-me, sem conseguir tirar os olhos dela.
- Você é a garota que eu pedi. - Minha voz saiu baixa, mais rouca do que eu pretendia. Sorri ao brincar com o pano que a escondia. - Se a intenção é me deixar louco com o que esconde, está dando certo.
Ela não respondeu de imediato, não me encarou nem por um segundo. Parecia tentar sentir meu cheiro, ouvir o que eu falava. Seus olhos eram escuros, curiosos e medrosos. Eu deveria tê-la reconhecido de cara como diferente das outras, mas o álcool e a raiva cegavam meu julgamento. Claro que é a puta, toda cheia de charme pra cima de mim. Esses lugares estão evoluindo.
Antes que percebesse, prendi-a contra a parede com uma das mãos ao lado do seu rosto, bloqueando qualquer chance de fuga.
- Tá com medo? Consigo sentir seu corpo tremer. É bem inexperiente, mas bem sexy. - Perguntei, quase num desafio, embora ela não tivesse tentado fazer nada comigo. Nem pegou no meu pau. - Se veio até aqui, faça direito o que veio fazer.
Ela olhava para a parede. Seria uma tática para me provocar?
- Estou louco para ver o que esconde debaixo dessa fantasia. - Cheguei bem perto. Seu cheiro parecia familiar.
Foi aí que percebi: ela era diferente. Peculiar demais para uma prostituta comum. A roupa, o jeito cauteloso de respirar, a postura ereta como quem não estava ali por escolha.
Merda, talvez não fosse quem eu esperava.
Afastei-me, soltando-a de imediato.
- Você não é quem eu pedi, ou é?
Ela permaneceu calada, como se decidisse naquele momento se deveria fugir ou não.
- Vai embora. - Murmurei, esfregando o rosto com as mãos e empurrando a mulher. - Some daqui! Eu não quero mais ninguém hoje.
Ela virou e desapareceu com uma bengala pelo corredor, como uma sombra.
Fiquei ali parado, ouvindo o silêncio tomar conta novamente. O rosto dela ficou gravado na minha mente de um jeito estranho, o tipo de imagem que o álcool deveria apagar, mas não conseguiu.
Continuei caminhando e entrei no quarto ainda atordoado, estranhei estar aberto, devo ter esquecido de fechar. A luz do abajur piscava de forma irritante, como se zombasse da minha noite de merda.
Joguei o paletó sobre a poltrona, afrouxei a gravata e me larguei na cama. O teto rodava acima de mim como uma dança cruel que só o whisky podia coreografar. Fechei os olhos e acabei cochilando.
De repente, as lembranças de momentos difíceis e cruéis que já vivi vieram como um golpe: explosões, gritos, corpos caídos.
Respirar ficou difícil. Eu estava dormindo ou estava acordado?
As paredes pareciam se fechar, a escuridão me sufocava. Eu estava de volta. Não ao quarto, mas ao campo de batalha. O cheiro de pólvora misturado ao sangue fresco inundou minha mente. Meu corpo começou a tremer, o suor escorrendo frio pela testa. Eu precisava sair dali. Gritar, fugir, mas estava preso dentro da minha própria mente, refém dos meus demônios.
Foi então que senti uma mão suave e firme, tocando meu rosto.
- Calma, você está seguro.
Minha visão foi clareando aos poucos, até que a vi. Ela estava ali, sentada ao meu lado. A mulher que eu tinha mandado embora segurava meu rosto com cuidado, tocando cada parte da minha pele, os olhos cravados nos meus, como se pudesse me ancorar à realidade.
- Respira, está tudo bem, agora. - Repetiu, seu tom quase hipnótico. - Sinta as minhas mãos, soldado. Estão quentes.
Por alguns segundos, só havia o som da nossa respiração. Meu coração desacelerava. A crise se dissolvia lentamente. O silêncio voltou, mas, dessa vez, não era sufocante.
Eu a encarei, sem entender por que ainda estava ali.
- Por que você voltou? - puxei sua roupa, vendo o brilho dos seus cabelos pretos, tão audaciosos e sensuais, quando caiu o lenço que os cobria.
Ela não respondeu.
Sem pensar, me aproximei. Eu a puxei com força pra perto de mim e a beijei. Tirei dela a chance de se resolver, de decidir se ficaria ou iria embora. Se voltou ao meu quarto é porque está a trabalho, e tenho meus desejos.
Sua boca era quente, doce, uma tentação do caralho. Meu mundo girou novamente quando apertei sua cintura sobre aquela roupa que estava me deixando louco.
"Caramba! O que essa mulher provoca em mim?"
O beijo aprofundou, cheio de urgência. Preciso e confuso, repleto de alívio e desejo. Segurei forte seu corpo pequeno, sentindo meu pau pulsar sem controle algum. Eu não a deixaria ir até que tivesse acabado.
- Quem é você, morena? - sussurrei, enquanto sentia seu gosto doce durante os beijos.
Foda-se! Eu não queria mais saber. Nada importa essa noite.