Eu estava grávida de oito meses. O fumo preenchia o apartamento, o alarme de incêndio ensurdecia. Liguei desesperada ao meu marido, Miguel. "Miguel, fogo! O prédio está a arder! Não consigo sair!" Ele mal me deixou falar. "Estou com a Sofia nas urgências. O tornozelo dela está torcido. Liga para o 112." E desligou. O meu marido escolheu uma torção de tornozelo em vez da minha vida e da do nosso filho. Pouco depois, desmaiei, o fumo a roubar-me o ar. Acordei no hospital, a barriga vazia. O nosso bebé não sobrevivera. Miguel veio ter comigo, com uma preocupação forçada, sem uma lágrima pelo nosso filho. "Estas coisas acontecem", disse ele, encolhendo os ombros. A dor transformou-se em clareza gelada. Mas a verdade era ainda mais escura: ele enviara mais de 50.000€ da nossa conta conjunta para a irmã dele. E no dia do incêndio? Um presente de cinco mil euros para Sofia, para o seu carro novo. A "urgência" dela? Uma mentira descarada para encobrir a compra do carro. Eles estavam a celebrar enquanto eu lutava para sobreviver. Este homem não me amava. Ele nem sequer me viu. Decidi que a sua série de mentiras e traições não ficaria impune. O divórcio seria apenas o começo. Eu queria justiça.