Estou grávida de 8 meses e presa num inferno ardente. O fumo enche os meus pulmões, o alarme grita incessantemente. Liguei desesperadamente para o meu marido, Tiago, um bombeiro. Ele salvar-me-ia, ele sempre salvou, certo? Mas a chamada demorou uma eternidade. A sua voz estava tensa, irritada. "Estou no meio de uma emergência!" Ouvi. Por baixo do caos, uma voz feminina sussurrava perto dele. Mais tarde, a devastadora verdade: a sua "emergência" era a sua meia-irmã, Sofia, no Centro Comercial Alegria, com... um tornozelo torcido. Ele abandonou um incêndio de nível três, onde eu e o nosso filho nos asfixiávamos, para socorrer uma banal torção. O fumo inalado e o stress extremo levaram o nosso Pedro. Quando Tiago finalmente me confrontou no hospital, defendeu a sua escolha, e a sua família, liderada pelo sogro Artur, acusou-me de ser "egoísta" e "emocionalmente instável". Até Sofia, a "vítima", veio choramingar. Deixada para morrer com o nosso filho no ventre, enquanto ele corria para a sua irmã por um arranhão! Esta era a recompensa por ser "forte"? A dor de perder o meu bebé era avassaladora, mas a traição, a deslealdade, e a audácia de me reescreverem como vilã, partiu-me em mil pedaços. Como pude amar um homem assim? O meu mundo desabou, mas eu não. A dor moldou-me, a raiva deu-me força. No tribunal de divórcio, eles vieram com advogados e desculpas. Mas eu tinha os registos das minhas chamadas não atendidas. O relatório do Rui, o bombeiro que me salvou. O relatório do hospital, que descrevia a morte do meu filho. E o meu veredito final: "Não quero dinheiro. Quero justiça. E quero que fiquem fora da minha vida para sempre." O seu jogo tinha acabado.