- Mayte! Espere! - Luanna corria em minha direção enquanto gritava. - Está indo almoçar? Eu vou com você. Tenho que voltar antes de meio dia e meio.
Não te entendo você... Se eu não trabalhasse a tarde, iria almoçar em casa, comida caseira!
- Não me importo, tanto, com comida caseira. E não tenho ninguém esperando em casa. A comida desse restaurante é bem gostosa e saudável. Então prefiro não ter o trabalho de cozinhar todos os dias.
Conversávamos enquanto caminhávamos em direção ao restaurante.
Luanna é uma boa colega de trabalho. Sempre simpática com todos. Mau conversamos, pois o restaurante era bem na esquina da rua da escola. Apenas alguns passos e já estávamos sentadas à mesa.
-Amiga. Você não pensa em namorar, não? Não é chato ficar sozinha? Meu marido me deixa louca quase sempre e meus filhos dão bastante trabalho. Mas depois de 10 anos casada, não sei o que faria sem eles.
-Não digo que nunca. Mas... Não tenho essa vontade e não quero filhos. Gosto da minha paz e tranquilidade. Não almejo nada a mais do que eu já tenho.
-Mas e se aparecer alguém? Um cara ou uma mulher bacana? Não vai dar uma chance? Nenhuma?
-Eu já disse. Não é que eu não vá aceitar um romance com alguém. Eu só não tô afim de procurar um. E nem aceitar qualquer coisa. Se alguém bacana aparecer eu decido. Até lá, vou aproveitar a minha paz e solidão!
-Certo, então... E como vai a escrita? Tendo boas inspirações ultimamente? Me surpreende uma pessoa que. Não quer um relacionamento ser tão romântico.
-Uma coisa não tem ligação, tão direta com a outra, assim... A codependência de um com o outro é uma imposição, quase. Um pode ser sem o outro. Afinal existem muitos que "amam" demais mas não são nada românticos.
-Contra isso, não tenho argumentos. - A fala dela foi cessando lentamente enquanto o olhar dela se desviava para algo que estava atrás de mim. Uma expressão de estranheza e curiosidade. - Olha, Mayte! - mudando de assunto - Nunca vi pessoas tão bem vestidas e com ternos tão caros, nesta região. Será que se perderam? - Olhei rapidamente e voltei a olhar para ela. Não poderia estar mais desinteressada
Terminamos o nosso almoço em silêncio. Nós despedimos em frente ao restaurante. Ela caminhou de volta a escola. Eu caminhei sentido oposto. Estava indo para a praça próxima dali. Havia muitas árvores e bancos sob ela. Local bonito e fresco. Queria observar as pessoa ali para ter alguma ideia nova. E só de me aproximar da praça eu já podia sentir o frescor das sombras das árvores, trazida pelo vento que soprava em meu rosto. Brisa fresca no outono calorento do Brasil.
Escolhi o meu banco favorito. Dele eu conseguia observar a praça inteira. Sentada, fechei os olhos e respirei fundo. Clima fresco. Tempo claro. Perfeito para um passeio na praça. Suspendi minha bolsa, a apoiei em minhas pernas e abri o zíper. Mas quando olhei... Não estava lá. Meu caderno de anotações não estava lá. Como não estava lá? Ele sempre está lá! Minha vida está toda lá. Não... Foi desesperador não encontrá-lo onde deveria estar! Como podia não estar lá. Eu nunca o deixo em outro lugar. Sempre guardo de volta na bolsa. Naquela bolsa.