Era uma noite comum, mas ele não sentia mais a excitação da juventude. O tempo já havia deixado suas marcas, mesmo que ele se mantivesse eternamente jovem. Centenas de anos e toda fortuna, não preenchia o vazio deixado por sua amada.
Seus pensamentos estavam longe, como sempre, até que uma interrupção cortou o silêncio de sua mente. Uma batida suave na porta.
- Entre - ele disse. A voz grave, quase como um sussurro.
A porta se abriu e uma figura jovem entrou. Ana, amiga de infância. Seus passos hesitaram por um instante, mas ela não querendo incomodar tomou coragem e avançou, segurando uma pasta cheia de documentos.
- Pensando, na Alice novamente? Perguntou Ana.
- Não consigo evitar, de pensar nela, é a única coisa que me mantém vivo até hoje! Respondeu Alexandro.
- A reunião com o conselho está marcada para...ela parou de repente, os olhos se fixando nele. Por um momento, o tempo pareceu desacelerar. Seus olhos negros pareciam penetrar em sua alma, e algo em seu olhar, tão profundo e enigmático, a fazia sentir uma mistura de admiração e medo.
Alexandro levantou os olhos, um leve sorriso curvando seus lábios.
- Ana, eu sei de tudo. Sua voz era suave, mas carregada de respeito. Afinal, ele sabia tudo sobre cada um em sua empresa, uma habilidade que sua imortalidade lhe dava. Ele a centenas de anos.
- Sabe? - Ana tentou controlar o entusiasmo, sentindo-se ainda mais ansiosa ao ver o seu melhor amigo, saber que ela faria parte da reunião.
- É claro, você conseguiu o que sempre desejou. - Respondeu ele.
- A reunião... Devo revisar alguns pontos com o conselho antes de comparecer. A proposta de expansão da nossa linha de medicamentos está praticamente pronta! - Disse ela.
Ele a observou com mais atenção, percebendo o entusiasmo em sua voz, embora seus olhos à traíssem. Uma certa apreensão. Ela estava nervosa. Isso, de algum modo, demostrava um pouco de humanidade, mais próxima daquilo que ele desejava entender, mas não podia.
- Não se preocupe com isso agora. - Ele respondeu. Levantou-se de sua cadeira e caminhou lentamente até a janela. Sua postura elegante e serena contrastava com a tensão no ambiente.
- O que eu quero saber é o que você pensa sobre o que estamos criando aqui? Perguntou ele.
Ana sentiu um frio na espinha. Não estava preparada para algo tão pessoal. Ele a desafiava a questionar suas motivações e olhar além dos interesses da família, com a criação do novo medicamento.
- Bem... - Ela hesitou, tentando encontrar palavras que não a fizessem parecer uma simples amiga...
...acho que a proposta tem um grande potencial. Estamos em um ponto crítico no desenvolvimento de novos medicamentos, para apagar as memórias dos mortais. - Respondeu Ana.
- Existem questões éticas a considerar, não podemos apenas focar nos lucros. - Afirmou Alexandro. Virou-se para encará-la, uma leve diversão nas sombras de seu olhar.
- Ética - Ele repetiu.
- como assim - Perguntou Ana. Com uma leve ironia.
- A ética é uma ilusão para a maioria. Na verdade, é uma maneira de justificar a fraqueza humana. Respondeu Alexandro
Ana se sentiu uma idiota, o peso de suas palavras, como se ele estivesse falando não apenas sobre o projeto, mas sobre algo mais profundo. Algo que ela ainda não compreendia. Mas Alexandro estava se referindo a diferença entre os mortais e imortais. Por que ao contrário dele, ela desejou ser uma vampira. Ele foi forçado contra sua vontade à se tornar uma criatura imortal.
- Não acredito nisso. - Disse Ana. Sua voz era firme, apesar da sensação de insegurança que lhe corroía por dentro.
- A ética nos guia. Se não tivermos ela, perderíamos o mínimo da nossa humanidade. - Afirmou Alexandro.
- Você acha que é possível manter a humanidade em um mundo como o nosso? - Perguntou Ana.
- Talvez - respondeu Alexandro. Sua voz agora estava mais baixa, quase como um sussurro, mas carregada de uma profundidade que a fez prender a respiração.
- O que você faria se soubesse que, às vezes, para salvar o pouco que lhe resta humanidade, você precisa sacrificar um pouco dela? - Perguntou Ana.
- Eu faria de tudo, para ter minha humanidade novamente! - Respondeu Alexandro.
Engoliu em seco. A sensação de desconforto aumentava. Algo nele a deixou confusa, mas não conseguia compreender. Ela deu um passo para trás, tentando retomar o controle de seus pensamentos.
- Eu... não sei. Mas espero que, mesmo em um mundo difícil, ainda possamos proteger os segredos das famílias vampirecas! - afirmou Ana.
Alexandro observou-a por um momento, como se estivesse ponderando suas palavras. Então, de repente, seu olhar suavizou, e ele se afastou, voltando a sua posição original na janela.
- Talvez você ainda tenha muito a aprender Ana, mas vejo algo em você... Algo raro. - disse ele.
Ana não soube o que responder. Ela estava desconcertada, as palavras dele reverberando em sua mente. Ela sabia que algo ali não estava certo, mas também não podia negar que, de alguma forma ele estava estranho.
- Nos Vamos juntos na reunião, então? - Ela tentou mudar de assunto.
Alexandro olhou para ela mais uma vez, um sorriso nos lábios.
- Sim, Ana. Até mais. - Respondeu ele.
Quando a porta se fechou, ele voltou a se concentrar na vista. O peso do que ele era e o que se aproximava eram inevitáveis. Ele sabia que algo estava prestes a mudar.
Mas, como sempre, ele manteria seus segredos nas sombras. Afinal, ele sabia o que aconteceria a quem se aproximasse demais de sua família. no entanto, ele não podia impedi - la que ela entrasse na família.