Não hesitei pois era tudo o que eu precisava ouvir para sair correndo ao encontro de Jack.
Assim que cheguei à casa, entrei sem hesitar. Jack havia me dado uma chave reserva logo no início do nosso namoro, e eu queria fazer uma surpresa para ele.
Tudo estava silencioso demais, então presumi que ele estivesse descansando no quarto. Subi as escadas rapidamente, mas um som vindo do quarto fez meu coração disparar e minhas mãos começarem a suar frio.
Acelerando o passo, abri a porta sem pensar duas vezes e me deparei com a pior cena da minha vida. Jack, meu companheiro, estava na cama, sem roupas, com Kate Evans, uma garota que um dia considerei minha amiga.
"Eu não acredito que você fez isso comigo!" exclamei, sentindo as lágrimas escorrerem sem controle.
Kate me olhou com um sorriso debochado e falou: "Que bom te ver, Lia. Acho que agora já sabe da novidade, não é?"
Ainda atordoada, mal consegui reagir antes de Jack dizer, com frieza: "Kate vai ser minha Luna. Tudo entre nós acabou."
e para piorar, ele se inclinou e deu um selinho em Kate, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
"Jack..." comecei, mas ele me interrompeu.
"Eu, Jack Davis, rejeito Lia Mackenzie como minha companheira e futura Luna."
A dor que se seguiu foi avassaladora, como se minha alma estivesse sendo rasgada. Caí de joelhos, tentando processar o que acabara de ouvir. Sempre achei que era suficiente para ele. Por que ele me trocou? Por que fez isso? Éramos companheiros destinados pela Deusa da Lua!
Tentando aliviar a dor insuportável, sussurrei: "Eu, Lia Mackenzie, aceito sua rejeição." As palavras saíram fracas, mas carregaram todo o peso de um coração despedaçado.
Naquele momento, senti algo estranho dentro de mim, algo que não conseguia identificar.
"Agora, com licença. Você está atrapalhando o nosso momento" disse Kate, apontando para a porta com um sorriso arrogante.
Sem forças para responder, levantei-me mesmo com a dor latejando em cada parte do meu corpo e saí da casa de Jack.
Cada passo parecia mais pesado que o anterior. Eu não fazia ideia de como seria minha vida a partir dali, mas sabia que não suportaria vê-los juntos, muito menos me submeter às ordens deles. Era evidente que fariam de tudo para transformar minha existência em um inferno.
Sem rumo, fui até o lago que frequento desde a infância, o único lugar onde sempre me senti em paz. Lá, chorei por horas, despejando minha dor e questionando à Deusa da Lua o motivo de tudo isso estar acontecendo comigo. Por que eu, que sempre acreditei no vínculo sagrado com Jack, fui tão cruelmente traída?
Depois de muito refletir, tomei uma decisão difícil, mas necessária: eu precisava sair daquela alcateia. Era a única maneira de evitar mais sofrimento.
Sabia que teria que partir às escondidas, sem que meus pais soubessem, porque jamais permitiriam que saísse da alcateia.
Não queria deixá-los dessa forma, mas era o único caminho para preservar o pouco que restava de mim.
Levantei-me e fui direto para casa. Ao entrar, encontrei meus pais sentados no sofá, conversando tranquilamente.
"Achei que você só voltaria amanhã", disse minha mãe, me observando com uma expressão curiosa. "Aconteceu alguma coisa?"
"Decidi voltar mais cedo. Jack está ocupado com as responsabilidades do pai e não quis atrapalhar", menti, tentando manter a voz firme. Não queria que soubessem da verdade, muito menos que descobrissem meus planos de fugir.
"Que pena", disse meu pai com um sorriso reconfortante. "Em outra oportunidade, vocês aproveitam."
Assenti e segui para o meu quarto. Lá dentro, comecei a juntar minhas coisas rapidamente. Peguei minha mochila de viagens e coloquei as roupas que mais gostava, os itens de cuidado essenciais e todo o dinheiro que economizei com o trabalho, suficiente para garantir um lugar onde pudesse recomeçar.
Com tudo pronto, desci para jantar como se nada estivesse acontecendo. Esperei pacientemente até que a casa ficasse em silêncio e meus pais fossem dormir. Meu coração estava apertado, a culpa e o medo de partir daquela forma pesavam, mas eu sabia que não havia outra escolha.
Quando tudo ficou quieto, concluí que já era seguro sair. Sem fazer barulho, peguei a mochila e deixei a casa para trás.
Caminhei em direção à floresta, onde sabia que, àquela hora, os lobos da guarda ainda não estariam patrulhando. O peso da mochila era grande, mas o peso no meu coração era ainda maior. Mesmo assim, apressei os passos, determinada a não olhar para trás.
Já estava andando sem rumo havia um bom tempo quando decidi parar para beber um pouco de água, pois o cansaço começava a pesar. Sentei-me em um tronco caído no chão e peguei minha garrafa de água da mochila. Antes de tomar um gole, de repente, ouvi um barulho vindo do meio da floresta e congelei. Meu coração disparou. Será que eles já perceberam minha ausência e vieram me encontrar?
Olhei em volta e avistei um lobo marrom se aproximando com uma expressão desconfiada. Meu corpo começou a tremer de medo do que ele poderia fazer.
Alguns minutos se passaram, e outros lobos surgiram, liderados por um imponente lobo negro com olhos azuis tão profundos quanto o mar. Ele exalava um cheiro estranho e marcante, algo que eu não conseguia identificar por completo, já que minha loba ainda não havia despertado.
Eles pareciam se comunicar entre si, mantendo os olhos fixos em cada movimento meu.
"O... O que vocês querem?" perguntei, com a voz trêmula.
De repente, três homens altos e sérios emergiram da floresta, caminhando na minha direção.
"Venha conosco" ordenou um deles enquanto os outros dois me cercavam.
"Para onde estão me levando?" perguntei, desesperada.
"Você deveria ter pensado duas vezes antes de entrar no território de uma alcateia à qual não pertence" respondeu o homem com firmeza, sem alterar sua expressão séria.
Eles me guiaram até um carro preto com vidros escuros estacionado na estrada próxima. Sem delicadeza, me empurraram para o banco de trás. Assim que entraram, deram partida e seguimos em silêncio.
Depois de alguns minutos, chegamos a uma enorme casa, muito maior do que a da alcateia Black Moon. Sua grandiosidade exalava riqueza e poder. Presumi que fosse a casa do alfa dessa alcateia.
Fui levada até um quarto espaçoso, equipado com banheiro e closet, e o ambiente inteiro tinha o mesmo cheiro marcante do lobo negro que havia liderado o grupo. Confusa, tentei entender por que eu estava sendo acomodada ali, considerando que, para eles, eu era apenas uma invasora.
Andei até a janela e me distraí observando a paisagem impressionante que se estendia além das paredes da casa. No entanto, o som da porta se abrindo me fez virar rapidamente.
Um homem alto, de cabelos castanhos e olhar sério, entrou no quarto e ficou me encarando.
"Que... quem é você?" perguntei, dando um passo para trás quando ele começou a se aproximar.
"Não sente o meu cheiro, lobinha? Ou devo dizer... companheira?" sua voz era grave e confiante.
Demorei alguns segundos para processar o que ele acabara de dizer. "Como assim companheira? Eu já tive meu companheiro predestinado," respondi, confusa.
"Teve?" sua expressão endureceu em raiva. "Quem ousa ter o que é meu?"
Sem me dar chance de responder, ele se aproximou ainda mais, seu olhar fixo em mim como se nada pudesse desviá-lo.