Ela olhou para o relógio em seu pulso. Estava atrasada, mais uma vez. Os nervos a atacaram quando ela percebeu que não tinha muito tempo até o início do seu turno no KFC. Com um último suspiro, ajustou a mochila nas costas e entrou no restaurante. Ao passar pela porta, foi recebida pela visão familiar da cozinha, onde os funcionários trabalhavam em ritmo acelerado, empilhando caixas de frango e preparando acompanhamentos. O barulho das fritadeiras e as conversas animadas eram um lembrete constante de sua nova realidade.
- Gabriela! - chamou Bruno, seu gerente, assim que ela entrou. Seu tom de voz era uma mistura de frustração e exasperação. Ele era um estrangeiro como ela, mas isso não parecia amenizar sua impaciência. - Você sabe que precisamos de você na linha de frente. Por que não está pronta?
Gabriela forçou um sorriso, tentando esconder a ansiedade que começava a se formar no fundo de sua garganta.
- Desculpe, Bruno. Eu me perdi um pouco com o caminho. O trânsito estava pior hoje.
- O trânsito? Isso não é desculpa! - Ele gesticulou com as mãos, seu sotaque latino pesado fazendo com que cada palavra parecesse mais intensa. - Você precisa aprender a se organizar. O cliente não espera, entendeu?
Ela assentiu, sentindo-se um pouco envergonhada, mas também frustrada. Lidar com o idioma ainda era uma barreira, e as broncas constantes só a deixavam mais insegura. Todos os dias, tentava fazer o seu melhor, mas o medo de cometer erros a seguia como uma sombra.
Bruno deu uma última olhada crítica antes de se voltar para os outros funcionários. Gabriela respirou fundo e começou a se preparar para o turno. Apesar das broncas, seu trabalho no KFC era uma oportunidade valiosa, mesmo que não estivesse nas suas expectativas iniciais ao sonhar em viver na América. Ao longo do dia, as horas pareciam se arrastar, e ela se esforçava para atender os clientes com um sorriso, mesmo quando as palavras não saíam como queria.
Após algumas horas de trabalho, finalmente saiu para a pausa do almoço e decidiu dar uma volta nas ruas. O ar frio de Nova Iorque a refrescou, e, ao caminhar, não pôde deixar de sentir uma mistura de esperança e desânimo. Ao passar em frente a um prédio glamouroso, um cartaz chamou sua atenção. "Vaga para Faxineira - Escritórios Pierce Company. Contato: RH".
Ela parou e analisou a oferta. Faxineira. A princípio, parecia um retrocesso, mas a ideia de não ter que interagir tanto com o público era tentadora. Além disso, a remuneração poderia ser até melhor do que a que tinha atualmente. Em seu celular, anotou o número de contato. Poderia ser uma boa oportunidade para um novo começo, longe das broncas e do nervosismo.
Enquanto continuava caminhando, pensava sobre a empresa por trás do cartaz. Ela não fazia ideia de que o prédio pertencia a Michael Pierce, um bilionário que era dono de várias franquias de perfumes ao redor do país. Raras vezes ele aparecia na empresa, que era administrada por Louis, um amigo de Michael. Gabriela mal podia imaginar que sua vida estava prestes a mudar.
Com o coração acelerado, ela decidiu que entraria em contato assim que pudesse. Era hora de dar um passo em direção ao futuro que sempre sonhou, e talvez essa nova oportunidade pudesse abrir portas que ela nunca imaginou serem possíveis. O que estava reservado para ela no novo mundo, onde os sonhos e as dificuldades coexistiam a cada esquina? Gabriela estava prestes a descobrir.