O enterro de Danna, sua irmã gêmea, foi antecipado, e ela, atrasada e furiosa, estava inconformada com aquela situação. Sua irmã, sua doce Danna, morta pelas mãos daquele selvagem marido. Deusa sabia desde o início que aquilo não ia realmente dar certo. Como poderia ter escapado dela o cuidado com sua amada irmã? O único que amava na sua vida.
Mas Danna era assim, evitava contar para os demais que tinha uma irmã gêmea, e a havia afastado de sua vida. Tudo porque Deusa, em muitas ocasiões, quando descobria que sua irmã se envolvia com um tipo errado, assumia a dianteira e já acabava com tudo. Seus pais sempre quiseram que tivessem vidas independentes, e para eles pesava que, por serem gêmeas univitelinas, iriam passar uma copiando a vida da outra. Assim, até em colégios diferentes, elas foram educadas.
Seu carro, um Ford, acabava de estacionar próximo ao cemitério. Decidida a não ser reconhecida, pelas razões óbvias, queria antes de mais nada ver aquele sujeito que destruiu o que mais amava. Da sua irmã, ela iria se despedir em outro momento, íntimo, pessoal, não em uma pantomima criada para juntar pessoas chorando.
Usava um vestido elegante negro em lã vicunha. Levava um chapéu Fedora com um véu e óculos escuros. Claro, não podia faltar o escarpam negro brilhante, pois afinal era o enterro de Danna e estava vestida para sua irmã.
O cementério era um parque, possuindo uma ampla área verde, trilhas, bosques e demais atrativos naturais. Proporcionava aos visitantes um ambiente tranquilo e sereno. Assim, além de fazer a homenagem ao seu familiar, o visitante pode passear pelo local e aproveitar a paisagem natural.
Naquele momento, desciam a sua amada Danna ao jazigo subterrâneo. Havia muitas pessoas, personalidades famosas, muitos familiares da família Forbes, e lá no palco, dando seu último discurso, o infame Andrew Forbes. Atrás dele, haviam dois homens de terno negro, que deviam ser agentes da polícia. Mas todos sabiam que Andrew não ficaria muito tempo preso, já que ele era considerado a maior fortuna no país. Competia inclusive com as fortunas de Dubai.
Aquele homem tinha as sobrancelhas grossas e a mandíbula larga e quadrada. Sua altura chamava a atenção, assim como o fato de seu corpo bem modelado pelos exercícios ser uma prova de força. Covarde, como um homem deste tamanho, pode atacar Danna, esguia e delicada.
Deusa observava tudo à distância. Deusa estava observando aquela cena entre umas árvores, e a cada movimento dele ao descer daquele púlpito fazia virar o estômago, quando muitas pessoas, aproximando-se dele com um choro dramático, pareciam apoiar aquele infeliz. Quando o apoio, na verdade, teria sido para Danna. Deusa se emociona, entre o ódio e a indignação, aquela despedida à distância, arrancando suas lágrimas enquanto sua pequena irmã é baixada ao jazigo, repleto de flores e coroas.
Se em algum momento pensam que Deusa ia ficar em silêncio sem corrigir esta situação, estavam todos enganados, pensava Deusa que se dirigia à casa de campo de seus pais. Esta casa havia sido usada por eles até o dia de sua morte, outro trágico acidente. Estava vazia e era seu lugar de viver quando voltava ao seu país de origem. A casa era simples, mas com interior elegante e minimalista. Não tinham fotografias familiares, já que as lembranças das pessoas se guardam na mente. Deusa não se apegava às coisas e isso era um fato. Diferente do seu Duplex em Londres, esta casa seria perfeita para que Deusa estivesse até completar o seu plano de vingança. Fazer a vida de Andrew Forbes um inferno até que ele perdesse completamente a razão e por suas próprias mãos fizesse a justiça, ou entregando-se à ruína, ou enlouquecendo. A morte não era vingança, já que seria paz para a consciência. Teria ele uma? Bem, isso já não importava mais.
Ao chegar à casa de campo, veio uma sensação de nostalgia. Sua última estadia foi há mais de 5 anos, e agora, aos seus vinte e quatro anos, ela já não era mais uma jovem dependente. Sua própria fortuna como modelo havia dado a Deusa uma condição de não ter que depender de ninguém mais.