Embora tivesse permissão para falar com ele por ligações e mensagens, nada parecia preencher o vazio deixado pela distância do pai.
Enquanto Samara reconstruía sua vida com Hana, Ramiro tentava seguir em frente. Triste e arrependido, tentou uma reconciliação, mas Samara foi irredutível. Depois de um tempo, ele decidiu viver com Viviane, a mulher com quem havia traído sua esposa. Como Viviane não podia ter filhos, o casal adotou Rafael, um menino de 12 anos. Ele rapidamente se tornou o centro das atenções de Ramiro e Viviane. Ramiro o tratava como um filho de sangue, com amor e dedicação, ensinando tudo o que sabia, enquanto Viviane se esforçava para ser a mãe que Rafael nunca teve.
Hana cresceu e se tornou uma mulher bonita, com olhos castanhos como os do pai, pele morena e um corpo esbelto. Seus cabelos eram longos, lisos e levemente ondulados. Ela terminou os estudos e começou a faculdade de Direito, mas a convivência com a mãe tornou-se cada vez mais difícil após o término de seu namoro. Samara não compreendia as razões de Hana para terminar com Maicon, um rapaz de quem gostava muito, e frequentemente criticava a decisão da filha. O que Samara não sabia era que Maicon era abusivo e controlador, e Hana, ao perceber o ciclo tóxico, havia decidido terminar a relação.
Em uma noite tensa, durante o jantar, Hana não aguentou mais o silêncio pesado que pairava entre elas e decidiu falar o que estava em seu coração.
- Mãe... - Hana disse com a voz séria, os olhos fixos no prato, enquanto Samara olhava para ela, sentindo o clima sombrio se instalar.
- O que foi? - perguntou Samara, com a testa franzida, antecipando o que viria.
- Eu decidi que vou embora para o Brasil. Vou viver um tempo com meu pai e terminar a faculdade lá. - Hana soltou de uma vez, sem rodeios.
Samara deixou o garfo cair no prato com um barulho metálico.
- Não, você não vai! - ela respondeu, a raiva evidente no tom de sua voz .
- Mãe, eu já sou maior de idade. Você não pode me obrigar a ficar aqui.
- Por que você está tomando essa decisão agora, Hana? - Samara perguntou, os olhos já cheios de lágrimas de frustração.
Hana suspirou profundamente, tentando manter a calma.
- Porque eu não aguento mais conviver com você, mãe. Você me critica o tempo todo por ter terminado com o Maicon. Eu não gosto dele! Será que você não entende isso?
- Não, eu não entendo! - Samara respondeu, agora erguendo a voz. - Ele ama você! Sempre te tratou bem, e de repente você termina tudo assim, sem motivo.
Hana balançou a cabeça, desapontada.
- Você não sabe de nada, mãe. Maicon me privava de tudo. Eu não podia sair com minhas amigas, não podia conversar com ninguém. Ele controlava cada aspecto da minha vida!
- Isso é amor, filha. Ele só queria te proteger. - A voz de Samara era baixa, como se estivesse tentando convencer a si mesma.
Hana bateu a mão na mesa, irritada.
- Não, mãe! Aquilo não era amor. Eu estava vivendo um relacionamento abusivo! Quando percebi, decidi sair logo, antes que algo pior acontecesse.
- Mas ele te ama... - Samara murmurou, incapaz de aceitar.
- Chega, mãe! - Hana gritou, levantando-se da mesa. - Eu não aguento mais isso. Você deveria me apoiar, mas ao invés disso, está do lado dele! Eu sou sua filha!
Samara ficou em silêncio, sem saber o que responder, enquanto via a filha sair apressada da sala. Hana subiu as escadas e entrou em seu quarto, trancando a porta atrás de si. Com as mãos trêmulas, pegou o celular e enviou uma mensagem para o pai.
Mensagem On
- Pai... 😞
Após alguns minutos, a resposta chegou.
- Oi, filha! Desculpa a demora, eu estava chegando em casa. Está tudo bem?
- Eu posso te ligar? Quero conversar um pouquinho...
- Claro que pode, meu amor!
Mensagem Off
Hana imediatamente ligou, e Ramiro atendeu no primeiro toque.
- O que aconteceu, filha?
- Eu não aguento mais a mamãe, pai. - Hana disse, a voz embargada, lutando contra as lágrimas.
- Vocês ainda estão brigando por causa do Maicon? - Ramiro perguntou, com um suspiro pesado.
- Sim, pai. Ela não entende. Ela acha que eu estou errada, que eu deveria ter ficado com ele. Mas ele me controlava! Eu não tinha mais liberdade nenhuma...
- Sua mãe sempre foi difícil, Hana. - Ramiro respondeu calmamente. - Mas eu entendo você.
- Pai, eu queria te pedir uma coisa... - Hana hesitou, mas decidiu continuar. - Eu queria ir para o Brasil, ficar um tempo com o senhor. Eu sinto tanto a sua falta.
Ramiro permaneceu em silêncio, deixando o peso do pedido de Hana afundar em sua mente. O som da respiração dele era audível no outro lado da linha, e Hana segurava o celular com força, esperando a reação do pai. Quando ele finalmente falou, sua voz estava carregada de emoção, mas ao mesmo tempo, suave.
- Eu também sinto sua falta, minha filha - disse ele, num tom gentil, como se cada palavra fosse um toque de consolo. - Mas... tem certeza disso? E a sua faculdade?
Hana respirou fundo, sentindo o nó na garganta se desfazer um pouco ao ouvir a preocupação na voz do pai. - Tenho certeza, pai. Já faz tempo que eu quero ir. Eu preciso disso... Vou transferir minha faculdade para São Paulo. Falta só mais alguns anos para eu me formar - acrescentou com determinação, tentando manter a voz firme.
Ramiro fez uma pausa longa, quase como se estivesse pesando cada uma das palavras dela. O barulho suave de sua respiração voltava a preencher o silêncio.
- E a sua mãe? Ela já sabe disso? - Ele perguntou, com uma leve hesitação, como se já soubesse a resposta, mas estivesse tentando entender melhor a situação.
Hana apertou os lábios antes de responder, a lembrança da briga com a mãe ainda fresca.
- Sim, pai. Já falei com ela. Como você pode imaginar, ela não gostou nada da ideia, mas... ela não pode fazer nada. Eu não te vejo há três anos... - sua voz tremeu, traindo a saudade que ela tentava esconder. - Eu não quero mais viver assim, tão longe de você.
Ramiro suspirou profundamente, e apesar de a linha parecer carregada de incerteza, Hana percebeu um leve sorriso escondido na voz dele.
- Tudo bem, minha filha. Eu vou te mandar o dinheiro para a passagem. Resolva tudo na faculdade e me avise quando estiver pronta para vir. Não vejo a hora de te ter por perto de novo.
Hana sorriu, um alívio caloroso a invadindo.
- Obrigada, pai. Eu resolvo tudo amanhã mesmo e te aviso. Não vejo a hora de te ver também.
Ramiro respondeu com carinho, deixando claro o quanto ele aguardava aquele reencontro.
- Eu te amo, filha. Se cuida, tá?
- Eu também te amo, pai. Pode deixar.
- Obrigada, pai. Eu vou resolver tudo amanhã. - Hana respondeu, sentindo uma onda de alívio.
- Eu te amo, minha querida. Se cuida, tá?
- Eu também te amo, pai. - Hana desligou, com um pequeno sorriso nos lábios.
Ligação Off