Não tenho boa autoestima, mas é suficiente.
Não posso continuar me criticando assim, preciso ir.
Saí do meu quarto, que compartilho com minha colega Daniela. Ela é estudante de medicina e está no seu último ano, assim como eu. Mas meu foco era o Jornalismo, as investigações, a espionagem. Às vezes sonhava em ser a melhor repórter do país e, quem sabe, do mundo. Sonhar não custa nada. Ao sair para o campus da universidade, tropeço em Dani, que já saiu da aula...
- Dari, é sua vez de fazer a vigilância noturna na biblioteca - pergunta, fazendo-me parar.
- Sim, Dani, estou atrasada, não me espere acordada. Hoje vamos fechar tarde - digo correndo.
- Não, amiga, eu vou sair pra balada. Tem uma festa no novo clube que fica perto da biblioteca, vai lá - me diz com entusiasmo.
- Não. Você sabe que eu preciso estudar, amanhã entrego minha última prova e não quero chegar atrasada. Vou embora, não quero receber broncas da senhora Margot - digo fazendo uma careta.
- Boa sorte com isso - diz ela e vai.
Atravesso todo o campus correndo com minha mochila batendo nas costas. Um dia desses isso vai me derrubar. Levo alguns livros que peguei emprestados da biblioteca, os cadernos e uma pesquisa que chamou minha atenção uma tarde enquanto navegava pela internet. Tratava-se de um possível tráfico de armas nas empresas Simonovic.
Essa notícia circulou de boca em boca durante meses, pois todos conhecíamos a reputação do dono da referida empresa. Ele era um conquistador; toda semana saía com mulheres diferentes desde a morte de sua noiva. Mas nunca havia sido ligado à máfia. O mais interessante é que ele não confirmou nem negou nada, o que é estranho, pois ele sempre foi muito comunicativo com o mundo da informação.
Por estar perdida em meus pensamentos, tropeço em meus próprios pés e caio de bruços na entrada da biblioteca. Meu colega de curso, Ton Michel, está assistindo a todo o meu pequeno espetáculo.
- Dari, você se machucou? - pergunta preocupado, estendendo a mão para me ajudar a levantar.
- Não, não. Obrigada, Ton - digo envergonhada.
- Você está atrasada e conversando com caras - diz a senhora Margot com aquele olhar frio e autoritário.
- Desculpe, senhora Margot. Eu me caí e o Ton me ajudou a levantar. Preciso ir, obrigada de novo - digo, dirigindo-me a Ton.
- Vá para casa, Ton - ordena a senhora Margot.
Para evitar que Ton levasse uma bronca, entrei na biblioteca.
A senhora Margot sempre me repreendia, mas pelo menos me livrava de suas longas palestras sobre me afastar dos rapazes e focar nos estudos.
Não era uma recalcada, mas também não tinha vontade de sair com caras. Eu apenas me concentrava nos meus estudos universitários. Com minhas excelentes notas e recomendações, consegui uma fabulosa bolsa na melhor universidade. Estava orgulhosa, assim como meus pais.
Eles não podiam arcar com meus estudos, praticamente nada, já que éramos uma família de classe baixa e enfrentávamos dificuldades financeiras.
Por isso, queria me formar rápido e com honras, assim conseguiria um bom emprego em pouco tempo.
Embora não tivesse experiência, a recomendação da universidade era mais do que suficiente.
- Novamente sonhando acordada - me diz a senhora Margot.
- Desculpe, você pode me dizer o que devo fazer hoje? - pergunto.
- Você ficará responsável pela biblioteca sozinha. Eu preciso sair - comenta enquanto me observa - Por mais louco que isso possa parecer, confio que você fará um bom trabalho. Vamos fechar à meia-noite. Deixe as chaves com o segurança. Você sabe como tudo funciona - diz ela enquanto pega sua bolsa e vai embora.
Margot era uma mulher de cerca de cinquenta anos com um caráter insuportável. Diziam muitas coisas sobre ela, como que havia matado seu primeiro e único marido para cobrar a herança, mas a verdade é que ela não era uma mulher rica. Eu sabia disso pelas suas roupas. Ela vivia amarga, não tinha filhos, falava seis idiomas e tinha quatro diplomas universitários. Então, era uma ótima pessoa. Comigo não era tão cruel, apenas me aconselhava, embora outros dissessem o contrário.
Sempre que trabalhava, a senhora Margot me deixava usar a internet e levar livros para casa. Hoje eu precisava continuar investigando o caso Simonovic, apresentaria como trabalho final.
Já estava trabalhando há quase duas horas, eram oito da noite e eu não tinha conseguido avançar nas minhas investigações porque a biblioteca estava cheia. Precisava ajudar os alunos do primeiro ano e registrar todos os livros que saíam da sala. Somente estava permitido entregar quatro por semana, se você tivesse o cartão de membro. Havia certo protocolo.
Quando tenho um pequeno respiro, abro meu e-mail pessoal. Queria saber se tinha alguma mensagem do banco. Estávamos prestes a perder a casa dos meus pais. Ao abrir a caixa de entrada, um e-mail chama minha atenção.
Era da empresa Simonovic. Um calafrio percorre meu corpo. Oh meu Deus, eu havia me metido em problemas.
Certamente eu seria sequestrada e morta. Como descobriram que eu estava investigando sua possível relação com a máfia? Embora estivesse certa de que era mentira. Esta empresa se ocupa das novas inovações tecnológicas. Automaticamente, apago a mensagem, mas minhas mãos suam. Decido recuperar o e-mail e me fazer de corajosa. Mas ao ver o assunto da mensagem, que diz "sentindo sua falta", isso definitivamente não fazia sentido. Decido reunir coragem e abrir a mensagem.