ensinar a arrombar fechaduras. Gia pisca para mim. - Por Houdini, do que você está falando? - Arrombamento de fechadura. Me ensina. Ela balança a cabeça como se quisesse limpá-la, então, abre mais a porta. - Entre e explique. - Certo. - Respeitando a germafobia da minha irmã, eu evito abraços e beijos enquanto entro cautelosamente na casa de arenito que ela divide com seus milhões de colegas de quarto. Ela me leva para seu quarto e, enquanto caminhamos, luto contra a tentação de arrumar a miríade de bagunça ao redor. - Sente-se. - Ela aponta para uma cadeira no canto, ao lado de um manequim. Ela está maluca? Essa cadeira tem quatro pernas, o pior tipo. Prefiro cadeiras de escritório, pois geralmente têm cinco pernas, ou banquetas, já que tendem a ter uma ou três. Ela gostaria que eu pedisse a ela para lamber um poste do metrô? Um sorriso malicioso aparece em sua boca com batom escuro. - Foi mal. Não é um número primo de pernas. O que eu estava pensando? Seu cérebro poderia ter derretido. Escondendo meu rolar de olhos, eu passo por um baralho e outra parafernália de mágico espalhados por todas as superfícies próximas, não parando até que estou ao lado de um pufe sem pernas. - Você se importa? Dando de ombros, Gia tira um deck de cartas do bolso e o entrega para mim pelas pontas dos dedos. - Você se sentiria mais à vontade se eu lhe desse este deck para organizar? Afundando na cadeira, estreito meus olhos para o deck. - Cinquenta e dois? Com um suspiro, ela joga uma das cartas em uma mesa próxima – como se já não estivesse uma bagunça. - Cinquenta e um agora. - Cinquenta e um não é primo. Ela olha para o deck. - Não é? - Três vezes dezessete é cinquenta e um. Como você passou da quarta série? - Provavelmente, você fingiu ser eu para gabaritar no teste de matemática. - Ela deixa cair mais quatro cartas na mesa. - Quarenta e sete está melhor? - Obrigada. - Pego as cartas com cuidado – Deus me livre de tocar em sua majestade higiênica com meus germes. - O que você queria que eu explicasse antes de me ensinar? - Comece com a parte do trabalho da vida. - Ela se senta na abominação com pernas inadequadas. - Eu não sabia que você tinha um. São as coisas do pet virtual que você está sempre me mostrando? - Por aí. - Começo a classificar as cartas da maneira lógica óbvia: numerando as cartas que são primos primeiro, seguidas das demais. - Eu não tive a chance de dizer a você antes, mas tenho trabalhado com a ala pediátrica do hospital NYU Langone. Se eles souberem que estou envolvida com pornografia... - Volta tudo. Trabalhado com eles como? - Tenho testado a versão beta do meu projeto pet em RV como um tipo de terapia para crianças em tratamentos de longa duração. - Levanto os olhos da minha classificação e vejo um rosto idêntico ao que vejo no espelho todos os dias: oval com maçãs do rosto salientes, nariz forte e olhos azuis arregalados. Claro, ao contrário da minha irmã artista, meu cabelo tem sua tonalidade loira morango natural, enquanto ela tornou o dela mais escuro do que um buraco negro. Eu também não uso muita maquiagem. Seus olhos esfumados fariam um guaxinim se apaixonar loucamente, e sua base é pálida o suficiente para uma gueixa vampira. - A ideia é reduzir a dor e a ansiedade das crianças - continuo enquanto ela acena com a cabeça em aprovação. - Isso não é ruim para o trabalho da sua vida. Então, como a pornografia do diabo se encaixa? Eu olho para a bagunça ao meu redor. - Você se importa? Gia solta um suspiro. - Se isso te faz falar mais rápido, fique à vontade. Quando me levanto e começo a arrumar, me acalmo o suficiente para articular meus pensamentos. - Eu também não te contei, mas minha empresa teve problemas financeiros há um tempo e o Grupo Morpheus comprou. Ela torce o nariz.