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Após Você Partir

Após Você Partir

5.0
3 Capítulo
53 Leituras
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Sinopse

Índice

"Após Você Partir" é uma narrativa envolvente que explora os abismos da perda, a jornada da cura e o renascimento que o amor pode proporcionar.

Capítulo 1 Prólogo

Eu estava ali, ao lado da cama onde Jennifer lutava contra o câncer com toda a sua força, mas agora, seu corpo cansado não conseguia mais resistir. Eu segurava sua mão, tentando conter as lágrimas que insistiam em escapar dos meus olhos.

— Jhon… — sua voz era fraca, mas cada palavra carregava um peso imenso.

— Estou aqui, Jenni —, respondi, minha voz embargada pelo choro contido.

— Eu sei que vai ser difícil... Viver sem mim… —, ela começou, sua respiração ofegante entre as palavras.

Meu coração se apertou com a dor da realidade que se aproximava. — Não sei se consigo, Jenni. Você é tudo para mim.

Ela apertou minha mão com toda a força que lhe restava. — Você tem que prometer, Jhon. Prometa que vai continuar vivendo. Prometa que vai encontrar felicidade, mesmo sem mim.

As lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto agora. — Eu prometo, Jenni. Eu prometo.

Jennifer sorriu fraco, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. — Obrigada... Agora, pegue isso.

Ela me entregou uma carta, seu último presente para mim. Eu segurei aquelas palavras como se fossem o tesouro mais precioso do mundo, sabendo que jamais poderia lê-las sem desmoronar.

— Jenni… — minha voz falhou.

— Ela é para você, Jhon. Leia quando estiver pronto. Eu te amo.

Aquelas foram suas últimas palavras antes que ela fechasse os olhos pela última vez.

[...]

Hoje é o dia 675. Todo santo dia parece uma luta, uma batalha para continuar, uma dança macabra entre viver e apenas... existir. "É melhor morrer do que perder a vida", parece clichê, né? Mas às vezes a verdade é assim mesmo, escondida em mensagens de para-choque de caminhão.

O sol, insolente, espreita pelas frestas das cortinas, como se tentasse invadir meu pequeno santuário de melancolia. Eu o ignoro, assim como ignoro a lista interminável de tarefas pendentes na minha mesa.

Meu telefone toca, mas eu não tenho vontade de atender. Provavelmente, é mais um editor querendo saber onde diabos está a minha próxima matéria. Talvez eu devesse enviar-lhe uma história sobre como é afundar em um oceano de dor e sobreviver apenas para sentir o peso da água por toda a eternidade.

No entanto, eu não posso me dar ao luxo de cair ainda mais fundo nesse abismo. Tenho um trabalho, uma vida (se é que posso chamar isso de vida) que ainda precisa ser vivida, mesmo que seja apenas uma sombra daquilo que já foi.

Eu me levanto, relutante, e me arrasto até o banheiro. Olho para o reflexo no espelho e mal reconheço o homem que me encara de volta. Olhos vazios, semblante cansado. Não é de se admirar que as pessoas pararam de perguntar como estou. Eu sou o retrato perfeito da desolação.

Depois de um banho rápido, me visto com a primeira coisa que encontro no armário. Quem se importa com a aparência quando a alma está em frangalhos?

Desço as escadas do meu apartamento silencioso e entro no meu carro e dirijo até o trabalho. O tráfego está caótico como sempre, mas eu não me importo. O mundo ao meu redor pode estar em movimento, mas eu estou estagnado. Preso em uma teia de lembranças, incapaz de avançar.

Chego ao escritório e sou recebido pela agitação habitual do trabalho. Todos correm de um lado para o outro, telefones tocando sem parar, o som constante de teclados sendo martelados. É como se eu estivesse em um mundo paralelo, observando tudo acontecer à minha volta, mas incapaz de participar.

Sento-me em frente ao meu computador e encaro a tela em branco. É irônico como posso escrever sobre as vidas e os dramas dos outros, mas quando se trata de expressar os meus próprios sentimentos, as palavras fogem de mim como areia entre os dedos.

A manhã se arrasta lentamente para a tarde, e eu continuo a fingir que estou trabalhando. A verdade é que estou apenas passando o tempo, esperando pelo momento em que poderei voltar para casa e me perder na monotonia da solidão.

Hoje foi um dia de trabalho bom, consegui fugir de todas interações sociais desnecessárias. No entanto, antes que eu possa escapar, sou abordado por um colega novato e curioso que se chama Benjamin.

— Jhonatan, você está bem? — Ele pergunta, preocupado.

Eu sorrio, um sorriso que não alcança meus olhos. — Estou ótimo —, eu respondo, uma mentira tão familiar que quase acredito nela.

Ele parece hesitar por um momento, como se soubesse que algo está errado, mas finalmente se afasta e me deixa sozinho com meus demônios.

Começam conversar sobre mim, eu escuto, não estou tão longe. Parecem intrigados comigo, como se estivessem tentando decifrar algum enigma.

— Esse Jhonatan é estranho —, diz Benjamin.

As pessoas são mestres em fingir preocupação, mas no fundo estão apenas julgando, sempre prontas para apontar o dedo. A hipocrisia reina na sociedade moderna.

Gustavo dar de ombros. — Ah, Jhonatan... Ele é um caso perdido. Já tentamos interagir com ele, socializar, mas sempre nega os convites. Nunca participou de nenhuma confraternização da empresa.

— Ele parece tão... frio —, comenta Benjamin.

Enquanto me afasto, tentando bloquear os murmúrios sobre mim, uma voz feminina se destaca. É Júlia, uma colega que sempre foi gentil, mesmo que nossas interações sejam raras.

— Não sei, só sei de uma coisa, ele é muito gato, isso sim. E esse tom sério dele deixa ele ainda mais gato —, comenta Julia, com um risinho travesso.

Fico um pouco desconcertado ao ouvir suas palavras. A noção de alguém me achando "gato" parece tão distante e estranha, especialmente agora que estou tão fechado para o amor.

As palavras de Julia me fazem lembrar o quão isolado estou. Por mais que as pessoas possam me ver como atraente por fora, por dentro continuo sendo apenas um homem ferido, lutando para encontrar sentido em um mundo que parece tão injusto e cruel.

Respiro fundo, e sigo meu caminho para casa, deixando para trás os comentários de Julia e os olhares curiosos dos colegas. O peso da solidão parece se intensificar sobre meus ombros ainda mais. O sol começa a desaparecer no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e rosa, mas para mim, não há beleza nisso. Apenas mais um dia que se vai, sem sentido ou propósito.

Dirijo pelas ruas vazias da cidade, imerso em meus próprios pensamentos. O rádio está ligado, mas mal consigo ouvir a música que está tocando. Minha mente está ocupada demais.

Quando finalmente chego em casa deixo-me cair no sofá, sentindo-me como um estranho em minha própria casa. O silêncio é ensurdecedor, e o vazio ao meu redor é quase palpável.

Pego uma foto dela, que está em cima da mesa de centro. Seus olhos brilham na fotografia, cheios de vida e alegria. Fecho os olhos e me lembro de sua risada, de seu toque suave, mas tudo o que consigo sentir é o vazio que ela deixou para trás.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto me afundo ainda mais na minha própria dor. Eu sei que deveria tentar seguir em frente, encontrar uma maneira de viver novamente, mas é tão difícil quando a única coisa que eu quero é tê-la de volta ao meu lado.

Eu ouço o som de lá de fora a agitação da cidade, mas deixe o mundo seguir seu curso lá fora; eu não faço mais parte dele. Estou preso neste ciclo interminável de tristeza e desespero, e não vejo qualquer escapatória.

Deixo a foto escorregar de minhas mãos e fecho os olhos, permitindo-me ser consumido pela escuridão da noite. Talvez, apenas talvez, no silêncio da noite, eu possa encontrar um pouco de paz.

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