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Mamãe de mentira

Mamãe de mentira

5.0
52 Capítulo
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Sinopse

Índice

Ela o despreza, mas ele depende dela desesperadamente. Uma mentira está prestes a ser revelada, questionando o oposto do amor: seria o ódio? Antônio está à beira da ruína financeira e sua funcionária o culpa por seu estilo de vida promíscuo. Daniela sente uma aversão profunda por tudo o que seu chefe representa, então, quando ele ameaça demitir em massa, ela decide iniciar uma greve. O conflito começa no ambiente de trabalho, mas rapidamente se espalha para suas vidas pessoais, causando um verdadeiro caos. Por acaso, a jovem descobre o maior segredo de seu chefe: ele está escondendo a verdade sobre sua ex-esposa. Um mal-entendido leva Daniela a se passar pela mãe da pequena Duda, oferecendo a garantia de que os empregos serão mantidos. Assumindo o papel de sua homônima, eles se veem envolvidos em uma rede cada vez maior de mentiras para sustentar essa farsa. Bárbara P. Nunes nos apresenta uma história em que um verdadeiro amor pode surgir a partir de uma pequena mentira.

Capítulo 1 A grevista

Daniela

Estou furiosa, meu chefe está ameaçando demitir todo o setor em que eu trabalho, com exceção de mim e outras duas moças.

Antônio é um dos seres mais asquerosos que eu conheço, trata todos como objetos que podem e serão comprados.

Desde que me filiei ao sindicato temos nos estranhado pelos corredores. Sim, ele mantém uma fábrica de costura em seu escritório, diz que é para não esquecer de onde veio.

Um populista com ar de empreendedor, é o que ele aparenta ser; mas, se realmente não tivesse esquecido a pobreza, não demitiria as pessoas no auge desta crise — Daniela, — Stephanie me chama, interrompendo meu devaneio, — ele está te esperando, anda...

A sigo pelo corredor de mármore, ela abre a porta e o observo falar no celular, o cabelo escuro cai suavemente pelo pescoço, os olhos escuros encontram os meus e ele sorri aquele sorriso sacana tão característico enquanto faz um gesto para que eu entre.

Obedeço e ergo uma sobrancelha em sinal de que não vou ceder um milímetro sequer.

— Eu já te ligo, estou com a orquestradora da greve aqui...

Ele desliga o aparelho e ficamos nos encarando em silêncio por alguns minutos.

— Quer dizer que a senhora está armando uma greve?

— Quer dizer que o senhor está demitindo essas pessoas sem qualquer consideração? — Ele franziu o cenho e eu cruzei os braços.

— Já falei sobre isso, o país está em crise... Prefere que eu abra falência e não pague ninguém?

— Você poderia, por exemplo, rever a diretoria e parar de colocar as mulheres com as quais se relaciona e não entendem nada de mercado para cuidar da empresa. Ou então tirar todos os puxa-sacos que você tem e contratar uma boa equipe de marketing...

— Agora você entende até mesmo de marketing?

— Claro que sim, eu consumo e sei muito bem que ver uma mulher só de calça jeans em um anúncio não me dá vontade de comprar a tal bendita calça. Acha que preciso de uma pós-graduação para saber o que uma propaganda me inspira?

— Por que você tem que ser tão difícil? Já sei, é o seu nome. A partir de agora evitarei toda e qualquer Daniela que cruzar o meu caminho. É isso, deve ter a ver com o nome...

— Meu nome? — Sentei-me enquanto ele passou as mãos pelos cabelos, visivelmente desestabilizado.

— Daniela, não tem como... Me entenda; eu, mais do que ninguém, queria que fosse diferente e...

— Eu já te pedi uma chance, deixe-me tentar do meu jeito?

— Eu não posso! Se der errado, essa gente vai para a rua sem nada... É leviano de sua parte!

— Não foi leviano colocar as estudantes de moda que te mostravam mais do que linha e agulha para comandar esse povo até a ruína...

— Você está insinuando algo?

— Eu não!

— Daniela, me entenda, por favor, eu não tenho condições de fazer isso. Vamos fechar essa fábrica e pronto, você será transferida para a unidade do Brás e...

— Essas pessoas são minha família e eu não posso deixar de fazer alguma coisa, ainda mais quando é possível.

— Não é, eu vetei.

— Então estamos em greve!

— Hoje é aniversário da minha filha, eu preciso sair mais cedo, eu tenho um mar de problemas..., vamos nos acertar amanhã?

— Você não está se importando nem um pouco com as filhas e problemas dessas pessoas, por que eu deveria me importar com a sua?

— Ela tem só sete anos... Aliás, — ele olhou no relógio — ela fez oito enquanto você cuida da minha vida sexual. — Corei enquanto ele arrumava papéis sobre a mesa.

— Não estou nem aí para a sua vida sexual, só quero que você trate os seus funcionários com o mesmo respeito que eles têm por você.

— Eu sempre os respeitei. Infelizmente o país está numa crise e não parece que sairá tão cedo. Daniela, amanhã eu converso com você, e juro que com todo o cuidado e delicadeza que a situação exige...

— Antônio, eu...

— Eu só quero dar isso a ela. — Ele me estendeu uma pequena caixa e fez sinal para que eu abrisse, era uma espécie de cubo onde haviam fotos da pequena e dele e de um anjo...

— A mãe dela morreu?

— Não, ela é uma médica a serviço dos Médicos sem Fronteira, uma mulher totalmente abnegada que não pensa em dinheiro e...

— Você vai buscá-la no aeroporto?

— Não, ela não vem este ano...

— Está certo, vá ver sua filha — ponderei. Minha vida toda eu passei com o coração na mão nos dias de aniversário, sonhando em ver pelo menos um dos meus pais.

— Eu prometo que amanhã cedo a gente vai sentar e entrar num acordo, quem sabe eu repasse a oficina? Eu não sei...

— Eu prometi que a gente entraria num acordo hoje ou em greve! Eu te entendo, Antônio, mas ou você suspende a demissão ou nenhuma máquina trabalhará mais. Não haverá um ponto dado por nenhuma máquina e eu te juro que farei com que todas as máquinas que estão a seu dispor fiquem na mesma situação.

— Vamos comigo, então! Eu vou até minha filha e nós comemoramos, eu a coloco na cama e a gente vai entrar em um acordo, nem que viremos a noite até achar um meio-termo.

— Está certo.

Desci com o patrão e fiz um sinal positivo para as meninas que me esperavam no caminho, algumas pessoas o cumprimentavam, mas a grande maioria não olhava em sua direção.

Em alguns minutos estávamos no carro, o trajeto todo só não foi em absoluto silêncio porque o rádio do carro tocava uma música melodiosa e triste.

A casa era algo que eu apenas vira em novelas, as paredes brancas eram imponentes, o jardim serpenteava o caminho e uma empregada boliviana veio até nós.

— Senhor Antônio, a sua mãe levou a pequena Duda. Disse que ia comprar presentes de aniversário, eu fui contra, mas ela me ignorou e saiu. — O sotaque era forte, mas o tom de voz estava repleto de carinho; ela era uma mulher forte, e seus cabelos caíam em duas tranças até a altura da cintura.

— Tudo bem, Remédios. Essa é a Daniela, uma moça da empresa. Aproveitarei que Duda não está e vou fazer uma reunião, não me interrompa a não ser que seja Maria Eduarda chegando. E não se preocupe, mamãe cuida bem dela...

Remédios girou nos calcanhares e saiu com uma expressão de desagrado, como se não concordasse com a atitude do patrão, Antônio entrou logo em seguida e eu fui atrás dele. Mal sabia que minha vida viraria do avesso depois de entrar naquela casa.

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