mesmo, cair debruçado sobre a mesa a sua frente e simplesmente morrer, ou,
é claro, aceitar a proposta que seu "amigo" havia oferecido.
Na verdade, Jorge Vargas e Eduardo Brown nunca foram
completamente amigos. Ainda jovens, tiveram um pequeno desentendimento
por conta de dinheiro, é claro, e por outras coisas que Jorge levaria ao
túmulo se pudesse. Ambos estudaram juntos na faculdade e abriram seus
negócios, o problema, pelo menos para Jorge, é que seu "amigo" se tornou
muito popular e virou uma competição entre eles. Com isto, os dois travaram
uma guerra e acabou que, à beira da falência, Jorge se viu obrigado a pedir
ajuda à Eduardo.
Foi assim que a proposta surgiu.
- Você está mesmo querendo que nossos filhos se casem? -
questiona Jorge parado em frente ao Eduardo.
- Sim, vai ser bom para as duas famílias. Vocês poderão ser alguém
novamente e perdoo a dívida.
- E o que você ganha com isso, afinal?
- O resto das suas ações - dispara Eduardo. - Isso será o
pagamento que irei receber.
- Por que tem tanto interesse em ações que estão fodidas?
- Porque quero mostrar a você como se salva um império de
verdade, mas não se preocupe, você e sua família serão recompensados.
Terão uma boa fortuna e o melhor de tudo, sua filha será minha nora e meu
filho, o seu genro.
- E desde quando isso é bom para nós? Estaremos decidindo o
destino dos nossos filhos, e sabemos que não somos tão amigos assim, pois
temos nossas diferenças em relação ao passado.
- Sim, você está certo, temos as nossas divergências, mas nada tão
grave, pelo menos agora... Se passaram muitos anos, Jorge... Gael, se
casando, ao menos irá tomar jeito e deixará de viver em puteiros fuleiros,
sujando meu nome, já sua filha terá dinheiro para sobreviver. Você não quer
que sua família passe fome, quer?
Eduardo se debruça sobre a mesa, encarando o homem à sua frente,
com a fisionomia aflita. É claro que Jorge não queria que sua família
passasse necessidades, tão pouco obrigar sua filha se casar com um
completo estranho.
Mas, afinal, que escolha ele tem?
Sabia que se explicasse a situação para sua filha, ela entenderia,
afinal, Laureen sempre foi uma boa entendedora.
Será mesmo que ela entenderia o destino que ele estava dando a ela?
- Você tem certeza de que quer essas ações só para me humilhar e
mostrar como se salva um império?
- Sim, é isso mesmo, para alguns pode ser ridículo, já para mim,
vitória é sinônimo de poder.
Jorge coça o alto da sua cabeça careca e se posta em pé, fechando os
botões do seu paletó.
- Quanto tempo tenho para dar uma resposta?
- Um dia, é o que irei esperar. Aceite, é o melhor a se fazer.
Era visível o suor na testa de Jorge e seu pomo de adão subindo e
descendo vigorosamente.
- Entrarei em contato para dar uma resposta.
Eduardo assente e um sorriso nada convincente se forma em seu
rosto.
- Ótimo, espero que seja uma decisão sensata.
Jorge também esperava por isso.