A sala de espera parecia apertada. Não fosse sua necessidade urgente para arrumar um emprego, Sophie daria meia volta e sairia daquele lugar, mas não era só isso; também tinha o fato de que não sabia muito bem onde estava se metendo, e como chegara até ali. Sua amiga conhecia uma pessoa, e essa pessoa trabalhava para Eric Carter, o dono daquela empresa. Apesar de saber que não tinha muitas chances, Sophie se dedicou e resolveu acordar cedo e ir para a entrevista. Não iria perder nada, apesar do que ouvira sobre seu possível futuro chefe não ser nada agradável. Eric Carter parecia ser o tipo de homem frígido e sério demais para ser real, mas Sophie não quis acreditar. Não valia a pena depositar mais descrenças à sua lista mental dos motivos que potencialmente fariam com que não fosse aceita:
Primeiro: Era jovem e não tinha experiência;
Segundo: Seu possível futuro chefe parecia exigente demais;
Terceiro: Estava cansada de espalhar currículos e receber vários nãos seguidos;
Quarto: Não tinha mais dinheiro e vontade para tentar.
Sophie estava ali há meia hora e havia candidatas melhores, sem dúvida. Mesmo assim, quando a mulher apareceu e anunciou seu nome, ela suspirou audivelmente e ajeitou a postura. Sophie Simmons se dirigiu para a sala do sr. Carter sem muita crença de que conseguiria algo, esperando ver um homem de meia idade de barba por fazer e com olheiras gigantes sob os olhos cansados demais. Porém, quando bateu à porta, ouviu uma voz jovem e masculina demais, aveludada demais para ser de um homem de meia idade. Sophie abriu a porta, obedecendo a ordem " pode entrar".
Ela certificou-se de que seu coque de cabelos dourados estava no lugar e que a saia lápis preta e a blusa branca não estavam vulgares demais e andou e sentou na cadeira acolchoada de visitantes. O homem que ergueu o olhar certamente não era de meia idade:
Ele tinha óculos de armação preta e fina, apoiado num nariz perfeito, masculino; tinha olhos azuis intensos e queixo quadrado e salpicado por uma barba por fazer sexy. Tinha cabelos escuros e uma boca de lábios finos.
- Srta. Simmons, presumo? - Perguntou ele. Sophie acordou de seu choque interior, fazendo que sim. Ela segurou a bolsa vermelha no colo com força. O sr. Carter, Eric, a avaliou, Sophie notou. Não era o tipo de avaliação que um homem num cargo dele faria. Ele parecia gostar do que via. Parecia querer, na verdade. - Está interessada na vaga? - Sophie respirou fundo e olhou ao redor. A sala era opulenta, mas ainda assim era um escritório. Apesar de antipessoal, tinha um charme peculiar. Tinha uma mesa de mogno, vidros nas janelas e persianas e estantes. Tinha objetos metálicos e decoração refinada que destoava do ar moderno.
- Sim.
- Por quê? - Quis saber ele.
Era uma pergunta simples, mas Sophie não conseguiu responder. Isso fez com que um sorriso erguesse os cantos dos lábios do homem. Ele a olhou com presunção.
Sophie foi bombardeada com uma enxurrada de perguntas: alguns pessoais, outras profissionais. Eric parecia interessado em cada palavra que saía de sua boca, o que a fez ficar confiante o suficiente para prosseguir com a entrevista.
Eric se inclinou na cadeira acolchoada e preta, e ele pegou uma caneta nas mãos e encarou Sophie, como se procurasse algo.
- Me diga, srta. Simmons - ele disparou, pegando Sophie de surpresa. Ela notou que a gravata escura e a camisa branca pareciam muito caras -, alguma vez já recebeu uma proposta de emprego?
- Sim.
- E você se interessou?
- Sim - respondeu ela.
- Está interessada em trabalhar comigo?
Sophie assentiu. Não havia nada mais o que fazer. O olhar de Eric avaliou-a novamente, e então, ele disse, surpreendendo-na:
- Está contratada, mas... - a palpitação de Sophie acelerou, mas esperar o resto da frase foi o mais complicado - eu tenho algo a lhe oferecer. É uma proposta, como todas que já recebeu. - Ele se inclinou e apoiou os cotovelos na mesa. - Você só precisa pensar e dizer se aceita. Isso não afetará minha decisão. Eu estudei o currículo de todas as candidatas e avaliei qual seria melhor. Você foi uma das escolhidas para a triagem. Minha equipe pediu para que eu avaliasse e eu sinceramente acho que é qualificada.
Sophie se sentiu agradecida. Certamente não esperava aquilo, mas estava ansiosa para a proposta. Ela esperou atentamente as próximas palavras dele:
- Sexo. Quando eu quiser. O que eu quiser. Quem eu quiser. Eu vou triplicar o que ganharia normalmente e lhe dar uma boa vaga quando possível, se for uma boa profissional, claro. Além disso, lhe darei o que precisar - disse ele. Sophie franziu o cenho e encarou Eric. O tom da voz de Eric não mudou e ele não parecia mais feliz ou menos feliz. Seus olhos exibiam o mesmo olhar frio e sua expressão ainda estava sério. - O que me diz?
Sophie sentiu revolta. Algo muito parecido com nojo e asco. Ela o encarou. Todo aquele tempo que passou na frente dele... ele estava provavelmente pensando em coisas sujas. Eric Carter era obsceno e frio. Sophie não conseguia achar uma palavra adequada para cuspir na cara dele.
- Está propondo que eu seja sua acompanhante? - Perguntou ela, não acreditando no que dizia. - Que eu seja sua prostituta?
Eric inspirou e observou Sophie silenciosamente por algum tempo. Ele voltou a se reclinar no encosto da cadeira e disse:
- Não preciso de seus protestos, srta. Simmons. É uma proposta, e como qualquer outra, está livre para decidir se a aceitará ou não. Como eu disse, a senhorita já está contratada. Sua resposta não irá interferir na escolha - ele disse, como um discurso ensaiado, a voz entediada.
Ela levantou.
Sophie queria acertar um tapa na cara dele. Era o que ele merecia, certo? Mas bater nele não lhe daria nada, e não faria com que sua revolta diminuísse. Por isso, ela deu meia volta, sem falar nada e andou até a porta, sentindo o coração palpitando.
Se saísse, poderia perder a chance de ter um emprego. Se ficasse, teria que decidir se aceitaria se deitar com Eric ou não. Ela nem o conhecia, mas sabia que um homem com bom senso não faria isso. Não lhe ofereceria uma proposta dessas. Não a olharia com olhos cheios de luxúria.
Sophie não soube quanto tempo ficou na frente da porta, mas Eric voltou a seus afazeres como se ela não estivesse lá. Sophie olhou por cima do ombro para Eric e buscou força de vontade para responder à sua pergunta:
- Eu aceito.
O que poderia perder?
O homem ergueu os olhos novamente, e um sorriso malicioso desenhou seus lábios.
- Uma boa decisão, srta. Simmons.
Sophie não acreditava no que acabou de concordar. Ela iria mesmo fazer aquilo? O que todos à sua volta pensariam quando descobrissem? Sophie se aproximou da mesa de Eric, as bochechas ardendo. Na verdade, todo seu corpo começara a arder. Ela o encarou bem.
- O que vou precisar fazer?
- Não se preocupe, srta. Simmons. Eu não mordo. Não se não quiser, pelo menos - ele disse. - No momento certo eu vou informá-la. Não irá se machucar ou correr perigo. Eu sou atencioso e sempre sei o momento certo de parar.
Ele era louco.
Foi isso o que Sophie pensou. Um homem não faria uma proposta daquelas e agiria assim, como se aquilo não fosse importante. Ele notou o olhar de Sophie, porque parou de anotar em seu bloco de notas e a encarou, tirando os óculos cuidadosamente.
- Mais alguma pergunta?
Não havia pergunta alguma que ela pudesse fazer, mas encontrada no fundo da confusão de sua mente, ela ousou:
- Por que eu?
- Você é bonita, srta. Simmons, e aposto que deve ser graciosa. De fato, sei que isso parece loucura, mas como disse, não precisa se preocupar. Agora, se não se importa, eu tenho trabalho a fazer. Está dispensada.
Sophie não conseguia entender. Não conseguia achar nenhuma resposta que fosse boa o bastante para responder aquela pergunta. Não sabia o que ele queria de fato. Não sabia se conseguiria lhe dar e não sabia se seria capaz. Ela era apenas sua futura secretária.
- Vou lhe mandar um email confirmando sua admissão e quando deverá começar - disse ele. - Tenha um bom dia, srta. Simmons.
Sophie saiu do escritório do sr. Carter com as pernas trêmulas. A ideia de ter que se entregar a um homem que nem conhecia e o fato de ele ser seu chefe a fazia notar que aquilo era uma loucura. O que a fizera ter a brilhante ideia de aceitar tudo aquilo?
Não ter nada a perder não era o suficiente.
Talvez atração? Eric era um homem atraente, mas isso não a faria assinar um contrato invisível com um estranho. Um acordo selado com o diabo.
Sophie torceu para que não se arrependesse.
Mas não havia volta.