Estávamos casados há três anos, mas logo após nosso casamento, recebi uma ótima notícia da universidade dos meus sonhos de outro país. Fui aceita em um dos cursos da universidade, o que me levou a ir estudar lá. Desde então, Charles e eu não nos víamos há três anos. Enquanto eu estava fora, ele passava todo o tempo com a mulher que realmente amava.
Agora que, finalmente concluí meus estudos e voltei para casa, para pôr um fim ao nosso casamento de fachada. Eu havia decidido que era hora de parar de ter esperança em coisas que nunca aconteceriam.
No caminho para casa num táxi, mandei uma mensagem para Charles:"Precisamos conversar."
Não demorou muito para que eu chegasse na nossa casa vazia. Deixei minhas malas de lado e fui até a sala de estar, me sentando no sofá para esperar. A casa tinha a aparência e o cheiro como se ninguém tivesse morado nela há anos. Nossa foto de casamento ainda estava pendurada na parede, o que me incomodou e me deixou triste ao mesmo tempo.
Olhei para a tela do meu celular, e vi que Charles ainda não tinha respondido. Imaginei que talvez ele não voltaria para casa naquela noite, mas fiquei sentada ali por um bom tempo, imersa em meus pensamentos. De repente, ouvi o barulho de um carro parando lá fora. Me levantei num pulo do sofá, e senti meu coração disparar. Será que eu ainda tinha alguma expectativa do meu marido insensível? Talvez. Ou talvez não. No momento seguinte, cerrei os dentes e apertei minhas mãos trêmulas, me lembrando de que:"Estou aqui para acabar com isso."
De repente, a maçaneta da porta se moveu e a porta se abriu. Charles acendeu as luzes, o que projetou uma sombra alta dele no corredor. Então, ele entrou. Ele usava um terno preto-carvão e uma camisa branca imaculada. Sua expressão era de cansaço, mas isso não diminuía seu rosto anguloso e suas maçãs do rosto salientes. Tudo continuava igual. Ele ainda exalava uma aura gélida que eu podia sentir a metros de distância.
Conforme ele se aproximava, meu coração acelerava e minha respiração ficava cada vez mais ofegante. Eu não conseguia acreditar que tinha me esquecido de como ele era lindo. Ele era como um deus que não pertencia ao mundo dos mortais, com um charme que simplesmente fazia com que as pessoas se rendessem.
Com o passar do tempo o transformou num homem mais maduro e cativante. Desviei o olhar quando senti minhas bochechas ardendo.
Ele foi até o sofá e se sentou, e eu me sentei no sofá à sua frente.
Nesse momento, ele me encarou com seus olhos frios e incisivos. A primeira coisa que pensei foi abaixar a cabeça e evitar olhar para ele, mas forcei meu queixo a se erguer, enquanto via meu reflexo nos seus olhos escuros.
"Está de volta," ele disse no seu tom monótono habitual, o que teria me deixado irritada se eu já não o conhecesse tão bem.
"Sim," respondi, mantendo o tom da minha voz tão indiferente quanto o dele.
"Meu advogado acabou de te mandar um e-mail." Charles afrouxou a gravata, fazendo com que seu peitoral musculoso aparecesse por baixo da camisa.
" Está bem, vou dar uma olhada." Engoli em seco e mantive uma expressão neutra.
Peguei meu celular e abri o aplicativo de e-mail, e o assunto do último e-mail na minha caixa de entrada me chamou a atenção imediatamente: acordo de divórcio. Embora eu estivesse esperando por isso, ainda assim, senti como se alguém tivesse enfiado uma faca bem no meu peito. A dor foi rápida e chocante, e a única razão pela qual fui grata por ela foi porque ela me cegou do charme de Charles por um segundo.
"Está bem. Vou assinar." Após ele dizer isso, guardei meu celular e olhei de volta para meu futuro ex-marido. Em breve, ele não seria mais meu. Foi bom enquanto durou, fingir ser a senhora Moore, mas isso tinha que acabar agora, e eu precisava expulsar o senhor Moore do meu mundo.
"Não quer ler o acordo primeiro?"
"Não é necessário. Tenho certeza de que o senhor Moore tratará bem sua ex-esposa," acrescentei, forçando um sorriso. Ex-esposa... Eu seria a ex-esposa dele em breve, mas não tinha certeza se estava de acordo com um termo tão direto assim.
"Você ficará com a casa da Rua Garden. E o apartamento no centro..."
"Quando?" interrompi Charles.
"O quê?" ele perguntou, franzindo a testa, e me olhando com seus olhos inquisidores.
"Quando vamos assinar os papéis?" perguntei suavemente.
"Vou marcar um horário com meu advogado," respondeu Charles, abaixando ligeiramente o queixo.
"Ótimo. Vou esperar sua ligação."
Após um momento de silêncio, ele olhou para mim novamente.
"Rita não está bem de saúde. Só quero realizar o último desejo dela," ele explicou.
Ao ouvir isso, cerrei o punho e engoli o nó na minha garganta. Realizar o último desejo dela? Que homem maravilhoso. Mas ele precisava fazer isso às minhas custas? Bom, eu não tinha o direito de ficar magoada com isso. Afinal, eu era apenas uma falsa senhora Moore, uma substituta.
"Entendo." Apenas assenti, embora, no fundo, eu estivesse cheia de coisas que queria dizer na cara dele.
"Se precisar de mais alguma coisa, pedirei ao meu advogado para incluir no acordo."
"Não, estou bem. O que estiver lá, já é o suficiente." Mais uma vez, curvei meus lábios num sorriso fraco.
"Venha ver Rita amanhã." Charles se levantou e começou a andar de um lado para o outro na minha frente, dizendo sua última observação com firmeza. Ele não estava me pedindo para ir ver sua namorada, mas me ordenando. O que ele pensava de mim? E por que eu deveria ir ver aquela mulher? Ele só queria jogar sal na minha ferida?
"E por que eu faria isso?" perguntei com uma expressão séria.
"Não quero que ela se sinta culpada pelo nosso divórcio. Diga a ela que está apaixonada por outra pessoa. Garanta a ela que nossa decisão de terminar o casamento não tem nada a ver com ela." Após dizer isso, ele parou na minha frente e olhou nos meus olhos mais uma vez.
"Tudo bem."
Eu queria recusar, mas, por algum motivo, sempre achei difícil dizer não a ele. Tudo o que ele precisava fazer era olhar nos meus olhos e pedir, e eu cedia sem qualquer resistência.
"Obrigado. Te busco amanhã. "
"Não precisa. Só me envie o endereço e eu irei."
Após me lançar um último olhar, Charles foi embora.
Enquanto eu observava sua figura se afastando, lágrimas surgiram nos meus olhos. Passamos os últimos três anos escondendo nosso casamento. Ninguém sabia disso, exceto nossa família e amigos próximos. Há alguns meses, a mídia noticiou o noivado de Charles e Rita. Fotos de Rita experimentando vestidos de noiva também foram publicadas e circularam por toda a Internet. Que casal perfeito!
Passei algumas noites olhando para essas fotos e, todas as vezes, meus olhos se desviavam automaticamente para Charles. Naquela época, pensei que não deveria perder a esperança em nós. Eu acreditava que, enquanto eu permanecesse casada com ele, ainda haveria uma chance de ele se apaixonar por mim e, então, nosso relacionamento se tornaria real. Eu o amava e, enquanto eu o amasse, isso era o suficiente.
Só percebi muito tempo depois que eu também precisava que ele me amasse de volta, e não apenas por um tempo. Eu queria que ele me amasse tanto quanto eu o amava.
Passei os últimos três anos esperando por ele. Tentei ao máximo mostrar meu carinho e preocupação, apesar da distância entre nós, mas não recebi nada em troca. Um dia, acordei e permiti que a realidade me deixasse em frangalhos.
Nesse dia, a Scarlett carente e necessitada teve uma morte dolorosa e, do seu corpo, surgiu uma nova, uma Scarlett com uma armadura tão espessa que nenhuma espada ou lança poderia perfurá-la.
Subi para o meu quarto com minhas malas e desempacotei minhas roupas. Em seguida, tomei um banho e vesti uma camisola. O quarto parecia não ter sido tocado desde que eu saí. Não havia nenhum objeto fora do lugar ou sequer um amassado nos lençóis. Era óbvio que Charles não o usava nos últimos três anos, já que provavelmente estava morando em outro lugar com Rita.
Pensar nisso me fez estremecer. Então, fui para a varanda tomar um pouco de ar fresco. Para minha surpresa, vi o carro de Charles ainda estacionado na entrada da garagem. Por que ele ainda estava aqui? Ele não deveria estar correndo de volta para sua amada Rita?
Enquanto eu olhava fixamente para o carro dele, meu celular começou a tocar. Era minha melhor amiga, Tiana. Atendi a ligação." Ei, Tiana!" "Sua vadia!
Bem-vinda de volta!"
"Obrigada."
"Ainda estou em viagem de negócios. Sinto muito por não ter conseguido te buscar no aeroporto hoje."
"Tudo bem. O trabalho vem em primeiro lugar."
"Você voltou para ficar ou vai embora novamente na primeira oportunidade?"
"Acho que vou ficar por enquanto."
"Ótimo! Venha trabalhar na nossa emissora de TV então. Quero dizer, você é perfeita para o cargo. Você se formou em comunicação, sua voz é agradável de ouvir e você é linda. As pessoas vão te amar. Você se encaixará perfeitamente. O que acha?"
"Tudo bem."
"Você falou com Charles?" De repente, a voz de Tiana ficou baixa, como se ela quisesse sondar algo.
"Sim." Olhei novamente para o carro de Charles na entrada da garagem.
"E ele te contou sobre a namoradinha dele?" ela continuou.
"Sim."
"Que idiota sem vergonha! Como ele ousa falar dela para você?"
"Tudo bem, Tiana. Ele me pediu para ir ver Rita amanhã, e eu aceitei."
"O quê? Você aceitou se encontrar com aquela vadia que roubou seu marido? Você enlouqueceu, Scarlett? Aquela mulher seduziu Charles e o incentivou a se divorciar de você. Sinceramente, não sei por que ela está desperdiçando sua energia. A família Moore não a aprovou para Charles há três anos. O que a faz pensar que eles mudaram de ideia agora?" Tiana estava praticamente gritando do outro lado da linha.
"Tudo já foi dito e feito. A essa altura, só quero deixar o passado para trás," eu disse com um sorriso leve.
"Deixar o passado para trás? Scarlett, você ainda o ama, não ama?"
Não respondi. Claro que eu ainda o amava. Eu nunca deixei de amá-lo.
"Scarlett!" O grito de Tiana me trouxe de volta à realidade.
"Estou cansada, Tiana. Te ligo amanhã, tá bem? Até logo."
Após encerrar a ligação antes que Tiana pudesse protestar, respirei fundo. O carro de Charles ainda estava lá, e não parecia que ele pretendia ir embora tão cedo. Mas o que eu tinha a ver com isso?
De repente, o cansaço finalmente me dominou. Então, voltei para o meu quarto e me deitei na cama. Deitada de costas, olhei para o teto e esperei o sono chegar. Alguns momentos depois, ouvi alguém bater na porta.
Esfregando o sono dos olhos, saí da cama e abri a porta, encontrando Charles parado do lado de fora.