Naquela noite, em uma festa badalada num terraço, Breno entregou a Isabela Fontes, uma jovem loira, uma pulseira delicada - uma réplica da que a avó dela usava, uma história que ele já tinha me contado cem vezes. "Bela, isso me lembrou você", ele disse, com a voz suave, íntima. Ela sorriu radiante, inclinando-se para ele, os olhos brilhando, e então seu olhar cruzou com o meu, com um brilho triunfante e venenoso.
Quando Isabela ronronou sobre a inauguração de uma galeria, Breno riu. "A Eliza vai com a gente. Nosso jantar de aniversário é nessa noite." Ele se virou para mim, um sorriso forçado implorando para que eu entrasse no jogo. Mas eu já tinha chegado no meu limite. "Acabou, Breno", sussurrei. "E meu nome é Eliza." Ele pareceu genuinamente perdido, incapaz de se lembrar do meu nome verdadeiro, enquanto Isabela e seus amigos zombavam do seu esquecimento.
Seus olhos, arregalados e confusos, buscaram meu rosto. "Eliza? Do que você está falando? Seu nome é... sempre foi..." Ele parou, completamente desnorteado. Um gosto amargo de fel encheu minha boca. Ele se lembrava de cada detalhe trivial da vida de Isabela, mas do meu nome de verdade? Era um branco total.
Mais tarde, ele me deixou abandonada em uma estrada escura e sinuosa depois que me recusei a pedir desculpas a Isabela. Meu celular estava sem bateria, e eu tropecei, quebrando o tornozelo. Enquanto eu estava ali, sozinha e ferida, soluçava: "Por que eu fiquei? Por que desperdicei cinco anos com ele?". Breno, enquanto isso, ia embora, uma inquietação que o corroía por dentro borbulhando sob sua raiva, apenas para retornar a uma cena de horror.
Capítulo 1
Ele se lembrava do nome do bicho de estimação dela de infância, do dia exato em que se conheceram e da sua marca favorita de um chá artesanal super específico - mas em cinco anos, ele não conseguiu se lembrar que eu era alérgica a camarão. Estava bem ali, rosado e brilhante no meu macarrão, um lembrete cruel do quão pouco de mim realmente existia na mente dele. Olhei para o prato, depois para Breno, o homem que eu amava, o homem que no momento ria com uma loira conhecida do outro lado do restaurante. Meu estômago se revirou, não pela alergia, mas por uma doença mais profunda e corrosiva.
"Eliza? Está tudo bem?" A voz de Breno cortou o falatório do restaurante.
Ele finalmente tinha olhado na minha direção. Seus olhos, geralmente tão quentes, agora tinham um brilho de preocupação distante. Ele nem tinha notado o camarão até eu empurrar o prato para longe.
"Camarão", eu disse, com a voz vazia. "Você sabe que sou alérgica."
O sorriso dele vacilou. Um rubor subiu pelo seu pescoço. "Ah, meu Deus, Eliza, me desculpe. Eu esqueci completamente. Deixa eu pedir outra coisa pra você. Chef, uma nova massa para a minha namorada, sem camarão, por favor! Erro meu!"
Ele era rápido em agir, sempre. Rápido em se desculpar, rápido em consertar o problema visível. Mas o problema real, aquele que apodrecia dentro de mim, ele ignorava todas as vezes. Um novo prato chegaria, mas meu apetite tinha desaparecido. O vazio no meu peito tinha se tornado grande demais para qualquer comida preencher.
Mais tarde naquela noite, chegamos a uma festa badalada num terraço. As luzes da cidade se borravam lá embaixo, uma tapeçaria cintilante que eu mal notei. Breno, como sempre, era um ímã. No momento em que entramos, seus olhos varreram a multidão, encontraram seu alvo, e ele se foi.
Ele passou por mim, um toque fantasma nas minhas costas, e foi direto para Isabela Fontes. Ela era jovem, loira e linda, envolta em um vestido que brilhava sob a luz da lua. Ela era como uma sereia.
Ele entregou a ela uma pulseira delicada e brilhante. Era uma réplica de uma que a avó dela usava, uma história que ele já tinha me contado cem vezes.
"Bela, isso me lembrou você", ele disse, com a voz suave, íntima.
Ela sorriu radiante, seus dedos traçando as pequenas joias. "Breno, você sempre se lembra das coisas mais doces. Sabe exatamente o que me dar."
Ela se inclinou para ele, a mão repousando casualmente em seu peito. Era um gesto familiar, um que fez meu maxilar travar. O jeito que ela olhava para ele, com os olhos brilhando, era uma performance antiga e dolorosa.
Então os olhos dela piscaram na minha direção, um sorrisinho brincando em seus lábios. Um brilho triunfante e venenoso. Ela desviou o olhar rapidamente, voltando-se para Breno.
"A gente tem que ir naquela inauguração da galeria nova no próximo mês, Breno", ela ronronou. "Lembra? Você prometeu que iríamos juntos, como nos velhos tempos."
Breno riu, balançando a cabeça. "Bela, podemos ir, mas a Eliza vai com a gente. Na verdade, já temos planos para essa noite."
Ele se virou para mim então, um sorriso forçado no rosto. "Não é, meu bem? Nosso jantar de aniversário é nessa noite."
Seus olhos pareciam implorar para que eu entrasse no jogo, para amenizar o constrangimento. Mas eu já tinha chegado no meu limite. Cansada da farsa, cansada de ser um segundo plano.
"Acabou, Breno", eu disse, minha voz mal um sussurro, mas que cortou o barulho festivo como um caco de gelo. "E meu nome é Eliza."
As risadas, a música, a conversa - tudo morreu. O silêncio repentino foi ensurdecedor, esmagador. Os olhos de Breno, arregalados e confusos, buscaram meu rosto.
"Eliza?", ele repetiu, a testa franzida. "Do que você está falando? Seu nome é... sempre foi..." Ele parou, genuinamente perdido.
Um gosto amargo e ácido encheu minha boca. Ele tinha feito de novo. Por cinco anos, eu o corrigi pacientemente. "É Eliza, Breno. Não Elisa. Nem Alisa. Eliza." Todas as vezes, ele prometia se lembrar. Todas as vezes, ele esquecia. Mas ele conseguia se lembrar do nome da professora do jardim de infância de Isabela, seu tom de azul favorito, o sabor exato do sorvete pelo qual ela chorou quando tinha sete anos. Ele se lembrava de cada detalhe trivial da vida dela, mas do meu nome de verdade? Era um branco total.
Isabela soltou uma risadinha aguda e zombeteira. "Ah, Breno, querido. Ela só está fazendo drama. Você sempre erra o nome dela. É fofo, na verdade."
Os amigos de Breno, um grupo de socialites ricos e superficiais, se juntaram à risada.
"É, Breno, lembra quando você a chamou de 'Brenda' no baile de caridade?", um deles gargalhou. "Clássico!"
Outro interveio: "O cara é uma enciclopédia ambulante de fatos inúteis, mas nomes? Esquece!"
As palavras deles me atingiram, me deixando dormente. Senti meu corpo esfriar, a última centelha de calor se apagando. Breno viu meu rosto então, viu de verdade. A zombaria no ar desapareceu de sua expressão, substituída por um horror crescente.
"Eliza, eu... eu sinto muito", ele gaguejou, estendendo a mão para mim. "Eu não sei o que há de errado comigo. Vou melhorar, eu prometo."
Era tarde demais. A fonte de emoção dentro de mim havia secado. Não havia mais raiva, apenas um vazio doloroso. Eu não podia fazer uma cena aqui. Não agora. Não assim.
Respirei fundo, forçando o nó na minha garganta a descer. "Só me leve para casa, Breno", eu disse, com a voz vazia.
Ele pareceu aliviado, quase desesperado. "Claro, meu bem. Vamos."
Isabela, sempre oportunista, deu um passo à frente. "Ah, Breno, minha casa não é longe. Pode me deixar lá? É no seu caminho, né?" Ela olhou para ele com expectativa, depois para mim com outro sorriso de escárnio.
Breno olhou para mim, uma pergunta silenciosa em seus olhos.
Eu não respondi. Apenas me virei e fui embora, passando por eles, em direção à saída. Que me seguissem. Ou não. Não importava mais.