Erick Montreal estava em Paris a trabalho.
Reuniões longas, contratos assinados, números que fechavam perfeitamente - como sempre. Dono de uma renomada rede de restaurantes de luxo, ele conhecia aquele ambiente melhor do que conhecia pessoas.
O jantar de negócios acontecia em um de seus próprios restaurantes. Mesa grande, executivos conversando alto, risos calculados. Tudo previsível.
Até que ele a viu.
Ela estava sozinha, a duas mesas de distância.
Não aguardava ninguém.
Não parecia deslocada.
Apenas... escolhida por si mesma.
Baixa, delicada, mas com uma presença que não pedia licença. Os cabelos moreno iluminado emolduravam o rosto com naturalidade, e os olhos azuis percorriam o ambiente com atenção serena. Não observava quem entrava. Não buscava olhares.
Aquilo o desarmou.
- Quem é a mulher da mesa ao lado? - perguntou ao maître, em tom casual demais para alguém tão atento.
- Não sei, senhor. Pediu jantar completo. Sozinha.
Sozinha.
Erick sentiu algo que não sentia havia anos: curiosidade sem estratégia.
Ele fez um gesto discreto ao garçom.
- Envie uma bebida. Por minha conta.
Não era cantada. Era costume.
Minutos depois, ele viu quando o garçom se aproximou dela, murmurando algo baixo. A mulher ouviu, ergueu o olhar... e balançou a cabeça em negativa.
- Ela recusou - informou o garçom, constrangido.
Erick não sorriu.
Não se ofendeu.
Ficou... intrigado.
Ela pagou a conta, levantou-se com calma e saiu sem olhar para trás. Nem uma vez.
Pela primeira vez naquela noite, Erick perdeu o foco da reunião.
O lobby do hotel estava silencioso quando ele retornou. Era tarde. O dia pesava nos ombros. Ao entrar, viu-a novamente.
Ela estava no balcão da recepção.
O mesmo vestido.
O mesmo porte.
Agora mais alerta.
Quando os olhos azuis encontraram os verdes, algo mudou no ar.
Ela franziu levemente o cenho.
- Coincidência interessante - ela disse, antes que ele abrisse a boca.
- Estou hospedado aqui - respondeu Erick, sincero. - Imagino que você também.
Ela cruzou os braços, mantendo distância.
- Você costuma mandar bebidas e depois seguir as pessoas até o hotel?
Aquilo o pegou de surpresa.
- Não. E não estou te seguindo.
- Foi o que pareceu - ela rebateu, direta.
Ele respirou fundo, controlado.
- Meu nome é Erick Montreal. O restaurante onde jantamos... é meu.
- Isso deveria me impressionar? - ela perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Não.
Definitivamente, não era.
- Só explica a coincidência - disse ele. - Nada além disso.
Ela o observou por alguns segundos. Avaliando. Não como mulher - mas como alguém acostumada a ler intenções.
- Então estamos esclarecidos - disse ela, pegando o cartão do quarto. - Boa noite.
Ela se afastou em direção ao elevador. Antes de entrar, voltou-se apenas o suficiente para lançar um aviso silencioso:
- E para constar... eu recusei a bebida porque não gosto de gentilezas que vêm com expectativa.
As portas se fecharam.
Erick permaneceu imóvel no meio do lobby, sentindo algo raro se instalar no peito.
Não era desejo imediato.
Era algo pior.
Interesse genuíno.
E ele teve certeza de uma coisa:
aquela mulher não seria fácil de alcançar -
e exatamente por isso, ele não conseguiria simplesmente esquecê-la.