E, pra piorar, havia fotos. Ele já em Londres, com outra. Uma mulher chique, sofisticada. Três dias do fim e ele já tinha substituído me. A dúvida corroía: ele me traía? Eu realmente tinha me tornado tão insuportável?
A dor era física, como se esfaqueassem meu coração. Como foi tão fácil pra ele jogar tudo fora?
Enchi o copo de novo e esvaziei-o de um só gole.
Foi quando senti uma presença ao meu lado. Queria sumir, não ser vista naquela fossa. Tentei descer do banco, mas me virei antes.
E então, o vi.
Um silêncio denso caiu sobre nós. Contra minha vontade, ergui o olhar.
E me deparei com ele. Um anjo caído das trevas. Olhos que mesclavam verde e ouro sob cílios escuros, maçãs altas, lábios. lábios perfeitos. Um desejo absurdo e urgente me invadiu: beijá-lo, sentir sua textura.
Tudo isso em um nanosegundo.
"Ei, linda," ele disse, a voz um baixo profundo que reverberou em mim.
Um calor inesperado tomou conta do meu estômago, um zumbido correu no sangue. Fiquei sem ar, tonta, ainda presa ao banco.
Reage, Tessa. É a bebida.
Levantei-me, trêmula. "Eu. já ia embora."
"Que pena. Não aceitaria um drink comigo?" A pergunta veio envolta naquela voz que parecia um toque físico.
Devia ter recusado. Em vez disso, sentei-me de novo, dominada por uma onda de calor que incendiou cada veia do meu corpo. Quando ele sorriu, leve e perigosamente, o ambiente pareceu girar.
"Eu.", tentei, patética.
Ele tirou o paletó, e a camisa de seda revelou o corpo que a roupa apenas sugeria: ombros largos, um torso definido. Meu deus.
É o término. É a bebida., pensei, tentando me convencer.
O som do chuveiro me arrancou do sono.
Pisquei, a cabeça latejando. Meus olhos se ajustaram e o pânico veio: não estava no meu quarto.
Era um lugar luxuoso. A luz do dia entrava pelas cortinas abertas. Roupas espalhadas no chão.
Deitei de novo, tremendo, puxando o edredom. Meu Deus. Estou nua.
A confirmação veio ao levantar o lençol. Um choque. E uma sensibilidade estranha, íntima. entre as pernas.
Então, como um filme, os flashes da noite voltaram. A bebedeira, aquele homem, uma conversa truncada, e depois. um quarto de hotel.
Meu rosto queimou. Lembrei dele sobre mim, o movimento, o toque. Ele foi. tão bom.
Oh, não. Não era hora de pensar nisso. Acabei de transar com um estranho! Nunca fiz isso. Como encarar ele? O que dizer?
Tenho que fugir. Agora.
Saí da cama às pressas, vestindo as roupas num piscar de olhos. Bolsa na mão, rumei à porta.
Foi quando a porta do banheiro se abriu.
E ele surgiu.
Quase parei de respirar. Ele era. impressionante. Gotas d'água escorriam por ombros largos, um torso esculpido, coxas fortes. Marcus era um menino perto dele.
As memórias da noite invadiram-me de novo – seus beijos, seus braços, a forma como nos movíamos – trazendo uma onda de calor insuportável.
Sacudi a cabeça, tentando me controlar. Enquanto eu estava um caco de nervos, ele parecia absurdamente tranquilo, sereno.
E seu olhar. frio. Ele me olhava como se examinasse um objeto.
Com um sobrolho levemente arqueado, pegou a carteira da mesa de cabeceira. Estava cheia de notas.
Meus olhos arregalaram. Ele acha que sou uma prostituta?
A indignação feriu fundo. Aja antes que ele fale, Tessa.
Antes que pudesse oferecer dinheiro, enfiei a mão na bolsa, peguei duzentos dólares e joguei-os na cama, com um ar de quem fazia aquilo todo dia.
Cruzei os braços, firme, e encarei seus olhos agora cintilantes de raiva.
"Até que você é bonito," disse, a voz gelada. "Mas na cama. é tão medíocre que só vale isso aqui mesmo."
O objetivo era um só: humilhá-lo antes que ele me humilhasse.
"O que foi que você disse?" A voz dele era um rosnado perigoso.
Ignorando o constrangimento interno, dei um passo à frente e bati de leve em seu ombro, num gesto falsamente conselheiro.
"Olha, tenta cobrar menos no começo. Depois que aprender a satisfazer uma mulher de verdade, aí aumenta o preço."
Virei as costas e saí do quarto na velocidade da luz, enquanto sua voz ecoava furiosa pelo corredor:
"VAI SE FERRAR!"
Pois é. Eu tinha realmente acabado de irritar aquele homem. E muito.