A água gelada subia pelas minhas pernas. Grávida de oito meses, em trabalho de parto, eu estava presa num túnel inundado em Lisboa, no meio da pior tempestade do século. Desespero era pouco. Pela décima vez, liguei para o meu marido, Tiago. Ele finalmente atendeu, mas ouvi uma voz feminina ao fundo e a sua voz era fria, irritada. "Não consigo chegar aí agora", disse ele, "a Helena (#minhamelhoramiga) torceu o pé, e o cão, coitado, quase se afogou." Ele estava a levá-los ao veterinário de urgência. Ele desligou na minha cara, mandando-me ligar para o 112. Desmaiei ali mesmo. Quando acordei no hospital, a minha barriga estava vazia. O nosso filho tinha morrido. Tiago continuou a agir como vítima, preocupado com a "pobre" Helena e o cão dela. Chegou a chamar-me egoísta por querer o divórcio, enquanto a minha sogra me culpava pelo sofrimento do filho. Mas a verdade era ainda mais cruel. Descobri evidências da traição dele na nossa própria casa: o lenço da Helena na mesa de cabeceira, o champô dela na nossa casa de banho, o chá favorito dela no nosso armário. Ele estava com ela enquanto me deixava morrer. Como ele pôde? Como pôde mentir tanto, culpar-me e falar de "nossa" perda, quando ele estava com outra? A dor transformou-se em aço frio. Não ia ser mais uma vítima na sua narrativa. Na mediação, decidi desmascará-lo. Eu tinha as provas, o apoio da minha mãe e uma advogada implacável. Estava na hora de lutar, não só pelo meu divórcio, mas pela minha sanidade e pela memória do filho que ele abandonou.