O cheiro a queimado acordou-me, fumo denso a invadir o quarto. Grávida de oito meses, o meu instinto foi proteger a minha barriga. Liguei para o meu marido, Lucas, um bombeiro, a minha esperança. Ele estava no local do incêndio. Mas, pelo rádio de um colega, ouvi-o dar uma ordem gelada: "Minha prima, Clara, está no 1204. Ela tem problemas de coração. Eu vou entrar por ela primeiro." Sabia que eu estava ali, grávida do seu filho, no apartamento ao lado. Fui resgatada, mas tarde demais. Inalação de fumo e choque induziram um parto prematuro. Perdi o nosso bebé. No hospital, Lucas e a mãe, Helena, não mostraram pesar, mas irritação. "És forte, Sofia. Eu sabia que aguentarias", disse ele, enquanto Helena encolhia os ombros. Ser 'forte' significava ser deixada para morrer? Meu corpo estava em frangalhos, mas a crueldade deles era um veneno ainda pior. Como podiam o pai do meu filho e a sua família priorizarem uma prima manipuladora sobre a minha vida e a do nosso bebé? Nesse vazio de dor, a clareza surgiu. "Eu quero o divórcio", declarei. Tentaram pintar-me como instável, mas a raiva substituiu as lágrimas. Eu iria desvendar a verdade por trás da sua traição. Minha força, antes explorada, seria agora a minha arma.