O chão de pedra gelada e a água fria eram a minha realidade. Despertei com os gritos e o desprezo do meu próprio filho, Tiago. "Acorda, preguiçosa! A avó disse para ires buscar água ao poço." A voz da Dona Amélia vinha da cozinha, carregada do habitual desprezo. "Este dinheiro mal chega para a comida do Tiago. Tu comes demasiado. Uma boca inútil que só sabe gastar." Um tapa ardeu na minha cara, mas o fogo da raiva dentro de mim ardeu muito mais. Eu tinha renascido. Voltei para este corpo, neste mesmo passado de sofrimento, onde morri de hipotermia na neve, expulsa de casa. Descobri a verdade na minha vida passada: o meu marido, Diogo, o "herói" fuzileiro, não estava morto. Ele vivia uma vida de luxo em Lisboa, com a sua prima, Sofia. Beijavam-se apaixonadamente e planeavam casar. Para piorar, Sofia, que se fazia de frágil, tinha roubado a minha identidade e as minhas notas de secundário para entrar na universidade, construindo uma carreira sobre a minha ruína. Quando os confrontei, Diogo e a sua mãe, Dona Amélia, lançaram-me para o chão gelado na neve, abandonando-me para morrer. O ódio daquela noite, onde descobri a traição e o roubo da minha vida, foi tão profundo que me trouxe de volta. Agora, de volta ao presente, com o meu filho a atirar-me pão duro, a vingança seria minha. Este não era o começo de uma vida nova, era a continuação de uma guerra que eu ia, finalmente, vencer.