O cheiro de fumaça invadiu os meus pulmões, acordando-me. Com 8 meses de gravidez, a minha primeira ação foi proteger a minha barriga. O alarme de incêndio gritava. Liguei para o meu marido, Leo. "O prédio está a arder! Há fumaça por todo o lado!" A resposta dele? Um suspiro impaciente. Então, ouvi-a: a voz da Clara, a sua "alma gémea platónica", a chorar por um cano rebentado. A ternura com que Leo a tranquilizou foi um golpe. "A Clara não tem mais ninguém", ele disse, antes de desligar, abandonando-me num edifício em chamas. Os bombeiros salvaram-me, mas no hospital, a minha barriga estava vazia. O nosso bebé tinha-se ido. Leo chegou, irritado, com o perfume dela, e disse: "Estas coisas acontecem." O pai dele, Ricardo, tentou forçar-me a perdoá-lo, preocupado apenas com a "reputação da família". Não foi um acidente. Foi uma escolha. O meu marido escolheu consertar o cano de outra mulher em vez de salvar a sua esposa grávida e o seu filho. "Não foi culpa de ninguém," ele murmurou. Mas a verdade ardia mais que o fogo. E se não fosse um mero caso, mas um plano mais sombrio? Naquele momento, enquanto a dor me consumia, a clareza veio. "Vamos divorciar-nos." Não era drama, era sobrevivência. E eu não só pediria o divórcio, como desenterraria cada mentira, cada traição. A verdade seria a minha arma, e a minha liberdade, o meu novo começo.