The Contract

Giulia Salvatore

Nunca pensei que minha vida fosse dar tantas voltas. Olho para minha chefe com um sorriso gigante no rosto e só consigo pensar que o meu diploma de publicitária se transformou em diploma de palhaça. É como se eu tivesse jogado na loteria e acertado em cheio no azar.

Nós fomos contratados para cuidar do marketing do Alexander Brooks, mas adivinha só? Além de odiar o cara, sua imagem estava mais detonada do que carro de corrida em acidente. Ele era um verdadeiro animal, um "festival de grosseria" sobre rodas. Tem tanto adjetivo ruim que eu poderia citar, mas a lista é tão longa que daria para escrever um livro.

Mas aí, depois que ele terminou com a ex-insuportável, o Alexander decidiu tacar o "foda-se" em modo turbo. O cara saía para a balada quase toda noite e se envolvia em tanta polêmica que nem a equipe de RP do Neymar daria conta. Era um verdadeiro foguete indo em direção ao abismo.

E é nessa hora que a equipe dele resolve fechar contrato com a agência onde eu trabalho, e eu me vejo em uma situação que nem nos meus pesadelos mais doidos eu imaginaria: na sala de estar do Alexander Brooks.

Mas espera, a história fica melhor, porque Deus não só estava me testando, ele decidiu fazer a versão deluxe da pegadinha. Tínhamos um plano para melhorar a imagem do Alexander e nada melhor do que fazê-lo voltar a ser o chato de sempre. E a solução para isso? Uma namorada de mentira! Afinal, nada como um romance fake para acalmar a mídia. O problema é que todas as candidatas com cara de santa foram vetadas pelo Honor. Ele disse que precisava de alguém confiável, como eu. Palavras dele, não minhas. E foi assim que, depois de muita insistência e um cheque bem gordo, eu me tornei a palhaça oficial.

No contrato falso que estava na mesa de centro, estava escrito: "Namorada de Alexander Brooks por um ano". E agora eu me vejo oficialmente no papel de alguém que tem um relacionamento de mentira com um piloto de Fórmula 1. Quer mais caos? Impossível.

- Graças a Deus! - Horner suspira aliviado quando vê o Alexander descendo as escadas da mansão.

Ele está claramente de ressaca, com uma cara de quem foi atropelado por um carro de corrida. Pelo que o Twitter estava falando, o cara não só saiu ontem à noite, como levou uma caravana de mulheres com ele. Uma para cada estilo, como se fosse um desfile de moda.

Além de ser a namorada do rapaz da Red Bull, agora também vou ser conhecida como a rainha dos chifres. Sensacional.

- Desculpa, esqueci da reunião. - Ele sorri de forma sarcástica e eu reviro os olhos.

- Como você consegue ser tão tapado? - Pergunto para minha chefe em português, num momento de desabafo. Ela me olha com reprovação.

Mas é impossível não soltar umas verdades, né? Apesar da curiosidade estampada no rosto dele, ele não diz nada. Apenas se senta à nossa frente e eu respiro fundo, encarando-o com um misto de irritação e vontade de rir.

Se isso for um teste, meu querido Deus, eu já te aviso que vou falhar espetacularmente. Eu xingo esse cara quase toda corrida. Mas enfim, ele me analisa com aquele sorrisinho de quem acha que está por cima.

- É ela? - Horner assente e Alexander solta um elogio surpreendente: "É bonita". Reviro os olhos, ele está falando como se eu fosse uma bolsa de grife.

- Pelo jeito, ela não gosta muito de mim - ele comenta, e eu não perco a oportunidade de responder.

- Pelo jeito não, eu não gosto mesmo - solto um sorriso sarcástico, enquanto minha chefe e o chefe dele reviram os olhos e soltam um suspiro cansado.

- Ela é de confiança e talvez seja a única que consiga te ajudar, então para de encher o saco e assina o contrato, Alexander - Seu chefe o repreende.

Com uma cara emburrada, ele nem se dá ao trabalho de ler o contrato, apenas o assina e empurra para mim, com um sorriso irônico no rosto, como se já soubesse o que estava ali. Eu pego o papel, sabendo muito bem o que está escrito, e assino antes de entregar para minha chefe.

- Oficialmente namorados - Adriana fala, segurando os papéis com um sorriso.

Bem, se isso é oficial, então é melhor eu me preparar para um verdadeiro espetáculo. Estar ao lado de Alexander Brooks, ser sua namorada de mentira, é como participar de uma corrida de montanha-russa. Só espero que no final dessa jornada turbulenta eu não termine com o estômago revirado e o coração em pedaços.

A ideia de como tudo começaria era ótima! Afinal, não dava para esconder que eu trabalhava para a nova agência de marketing que cuidava da Red Bull. Mas também não podíamos simplesmente aparecer de mãos dadas do nada. O plano era eu trabalhar com o Alexander Brooks, nos aproximarmos com o tempo e boom, sermos o casal do século, ou melhor, do ano.

Então, lá estava eu no GP de Bahrain. Apesar de todos os pedidos para que eu usasse uma camisa da Red Bull, eu ignorei e decidi vestir um lindo vestido azul royal, tomara que caia, combinado com um tênis que combinava com ele.

Ao passar pela entrada credenciada como imprensa, vejo minha chefe e ela balança a cabeça, sabendo que vai ter confusão assim que ele embarcar para a sede da empresa no Brasil.

- Ah, não começa, Dri! - Dou dois beijos no rosto dela e seguimos em frente. - Não acredito que estou aqui!

Por alguns minutos, esqueço totalmente o motivo pelo qual estava ali e deixo a minha criança interior se soltar. Sabe quantas vezes já assisti às corridas pela TV? Desde pequenininha, quando meu avô colocava a transmissão aos domingos durante o almoço.

Tenho certeza de que estou com um sorriso enorme no rosto, porque a Adriana tira o celular do bolso e começa a me filmar. Ela é tipo uma mãe, filmando tudo o que eu faço.

- Não esquece que você está trabalhando para a Red Bull - ela comenta quando passamos pela equipe da Mercedes, e eu tenho que me controlar para não pular de alegria.

- Caramba, por que a Red Bull patrocina tantos esportes e o único que nos interessa é esse? Você sabe que eu xingo o Alexander a cada corrida! - Já fico irritada só de lembrar daquele incidente com Sebastian Müller.

- Mas logo ele será seu namorado, então coloca a camisa com o nome dele. - Reviro os olhos. - Vou te acompanhar até lá, acertar algumas coisas com o Horner e depois vazar.

Nesse momento, eu me transformo quase numa versão da menina do exorcista, virando a cabeça bruscamente para olhar a loira.

- Preciso resolver umas pendências com o Thiago no Brasil antes de irmos para a Itália. Não posso ficar enrolando aqui.

Faço um bico, sabendo que é verdade. Deixamos o Thiago na sede do Brasil para lidar com outros clientes, mas nunca imaginamos que a agência se expandiria mundialmente. Agora, olha só, estamos cada um em um país diferente.

Apesar de estar aqui para cumprir o papel de namorada e consertar a imagem do Alexander Brooks, também sou a diretora criativa da Nexos.

Não posso simplesmente ignorar meu trabalho.

Abro a agenda do atual campeão da Fórmula 1. Além dos treinos de hoje, temos algumas entrevistas e gravações. Sim, porque agora ele decidiu criar um canal no YouTube e bombar nas redes sociais com vídeos sobre ele mesmo, na tentativa de deixar o público mais próximo e se livrar da fama de insuportável.

Vou andando distraída em direção à Red Bull e nem percebo quando os cabelos dourados de Alexander passam por mim.

- Bum dia! - Ele diz de um jeito engraçado, tentando ser simpático. Mas, cá entre nós, não engulo muito bem e reviro os olhos.

- É bom dia que se diz, namorou por todos esses anos com seu clone brasileiro e nem teve a decência de aprender nada? - Mudo o peso do corpo para a outra perna enquanto desligo meu tablet.

Ele cruza os braços no peito e me olha.

- Você é sempre tão chatinha ou é só quando estou por perto? - Ele provoca.

- Acho que esse meu lado chato fica mais em evidência quando você está por perto. Sabe, é necessário para suportar seu ego enorme e outras coisinhas mais. - Solto um sorriso cínico.

E antes que ele pudesse me responder, somos interrompidos pelos nossos chefes. Eles claramente percebem que arrumamos confusão, afinal, por que logo eu tenho que fingir ser a namorada desse cara mais idiota do Grid? Deus, será que sou uma piada cósmica?

- Vai ser difícil fazerem vocês parecerem um casal se ficarem se bicando o tempo todo. - Horner fala em tom baixo.

- Sabe como é, amor e ódio caminham juntos. Tudo isso é amor que ela sente por mim ou só tesão acumulado. - E com isso, solto o meu primeiro tapa em um piloto de Fórmula 1. - Ai! - Passo a mão no braço. - Só pode ser fã do Sebastian Müller.

- Sério mesmo? Você vai me abandonar aqui? - Olho para a Dri, que confirma com a cabeça. - Exijo um ano de bônus.

- Se vocês conseguirem fazer isso dar certo, te dou dois anos de bônus. - Dri pisca o olho antes de me abraçar. - Não mate ele, mas sim Alexander Brooks. - Ela se vira para o piloto. - Ela é a maior fã do Sebastian Müller.

- E você quer que ela seja minha namorada? - Alexander praticamente grita, e por impulso, eu tapo a boca dele.

A mão dele vai parar na minha cintura, e no processo acabo perdendo o equilíbrio, mas ele me segura. Considerando a nossa grande diferença de altura, tenho que olhar para cima para encontrar seus olhos claros fixos nos meus.

- Shh, seu idiota. - Falo entre os dentes. - Eu sei ser profissional.

- Ah, acho que pode dar certo. Vocês já estão até agindo como um casal.

E nós dois olhamos para Horner, que explode em gargalhadas ao ver nossas expressões. É nesse momento que nos damos conta do quão próximos estamos, e decidimos seguir caminhos separados.

O loiro começa a se encaminhar para uma sala, e é claro que eu o sigo. Afinal, é meu trabalho ser a assessora e a falsa namorada desse idiota à minha frente. O piloto percebe que estou na sua cola e bufa antes de se jogar no sofá.

- Por que você está me seguindo? - Ele estala a lata de energético que tem na mão.

- Além desse papel ridículo que eu aceitei fazer, também trabalho com você. - Caminho em direção ao sofá e faço gestos para que ele me ceda um lugar, já que ele está todo esparramado. - Temos duas entrevistas hoje, e logo os caras da captação de vídeo vão chegar.

Ele assente e respira fundo, passando as mãos pelos cabelos. É visível que ele está tão frustrado quanto eu, mas, diferentemente dele, precisei abandonar minha vida que tanto amo para fazer esse trabalho dar certo. Portanto, ele pode ficar frustrado o quanto quiser. Quando tudo isso acabar, ele será o queridinho do mundo.

- Não sei se você leu o contrato, mas pedi aos meus advogados para incluírem uma cláusula. - Ele me olha de soslaio. - Se conseguirmos fazer tudo dar certo em seis meses, isso acaba. Então, me ajuda, ok? Eu não queria estar aqui tanto quanto você.

- Duvido muito que você não queira estar aqui. - Ele exibe um sorriso convincente no rosto.