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Sob o mesmo teto

Sob o mesmo teto

5.0
5 Capítulo
79 Leituras
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Sinopse

Índice

Quando Laura, uma chef talentosa lutando para manter o restaurante da família, e Rafael, um empresário frio e implacável, recebem a inesperada notícia de que precisam se casar para herdar a vasta fortuna de Dom Anselmo Montenegro, suas vidas tomam um rumo inesperado. O testamento exige mais do que uma união formal: um herdeiro deve nascer dessa aliança forçada, complicando ainda mais o já delicado acordo. Laura, uma mulher guiada por emoções e marcada por um passado de perdas, encontra-se em constante choque com Rafael, cujo mundo é regido pela lógica e pela necessidade de controle. Presos em uma mansão imensa e repleta de histórias, os dois são confrontados não apenas pelo contrato que os une, mas pelos fantasmas de seus passados e pelas complexidades de suas personalidades opostas. Enquanto negociam termos que vão além do papel, Laura e Rafael descobrem que o ódio inicial pode dar lugar a algo muito mais profundo - e perigoso. Em meio a trocas de farpas, momentos de vulnerabilidade e a pressão para cumprir o acordo, sentimentos começam a surgir, desafiando ambos a repensar tudo o que acreditavam sobre amor, confiança e o que significa formar uma família. Repleto de tensão emocional, diálogos intensos e momentos apaixonantes, este romance explora o poder transformador das conexões humanas e os riscos de permitir que o coração entre no jogo. Uma história onde o desejo e o dever se chocam, revelando que o amor pode nascer nos lugares mais inesperados.

Capítulo 1 Fumaça na Cozinha – Laura Ferrer

O cheiro de pão queimado invadia o ambiente apertado da cozinha enquanto Laura tentava, pela terceira vez naquela manhã, acertar o tempo exato do novo forno. Suas mãos agitavam-se nervosamente sobre o timer enquanto um dos ajudantes derrubava uma bandeja de pratos limpos no chão. O som do vidro estilhaçando parecia ecoar mais alto do que o habitual, como se o universo estivesse zombando dela.

"Cuidado, André! Você quer quebrar mais alguma coisa ou já terminamos com os prejuízos de hoje?" Laura gritou, sem sequer desviar os olhos do forno.

"Desculpa, chefe," respondeu o jovem, apressando-se para limpar a bagunça.

Laura suspirou, esfregando o rosto com as mãos enfarinhadas. Estava cansada. Não era apenas o cansaço físico de quem acorda antes do sol para preparar a cozinha, mas o cansaço de lutar contra a maré de problemas que ameaçava engoli-la.

O Bistrô da Luar, como chamava carinhosamente o restaurante que havia aberto três anos atrás, era sua vida. Um sonho que ela alimentava desde menina, quando cozinhava com a mãe em um apartamento pequeno e barulhento no subúrbio. Naquela época, ela não tinha nada além de panelas velhas e o desejo de criar algo bonito. Hoje, ela tinha um restaurante. Mas o sonho vinha acompanhado de pesadelos: fornecedores atrasados, clientes escassos e contas acumulando-se mais rápido do que as reservas.

"Laura!" a voz aguda de Paula, a garçonete mais antiga, interrompeu seus pensamentos. "A senhora no balcão está reclamando que o cappuccino está frio."

"Claro que está," resmungou Laura, já arrancando o avental. "Com esse tempo infernal, até o sol deve estar pensando em desistir."

Ela atravessou o pequeno salão, que contava com apenas quatro mesas ocupadas. A maioria dos clientes era de casais idosos e trabalhadores da vizinhança, pessoas simples que vinham pelo ambiente acolhedor e os preços acessíveis. A reclamação veio de uma mulher de cabelo perfeitamente tingido de loiro, sentada ereta como uma crítica gastronômica à espera de um desastre.

"Posso ajudar?" Laura perguntou, ajustando o sorriso mais educado que conseguiu conjurar.

"O cappuccino," disse a mulher, apontando para a xícara como se fosse venenosa. "Está morno. Não deveria ser servido assim."

"Claro," Laura respondeu, engolindo a irritação. "Vou preparar um novo para você." Enquanto refazia a bebida atrás do balcão, sua mente vagava. Todo dia parecia uma batalha, e o peso de tudo recaía sobre seus ombros. Mas, como sempre, Laura engolia o orgulho, mantinha a compostura e fazia o que precisava ser feito. Afinal, o restaurante não era apenas o seu sonho, mas também o sustento da família. Com a saúde da mãe se deteriorando, ela não podia falhar.

Quando o cappuccino foi servido novamente à mulher e a reclamação foi apaziguada, Laura olhou para o relógio. Ainda era só 10 da manhã, mas o dia já parecia interminável. Ela se escorou no balcão, os olhos presos no movimento lento da rua do lado de fora. Foi então que a campainha tocou.

"Estamos fechados para novos pedidos até o almoço," ela começou, sem nem olhar para quem entrava. "Não vim para comer." Laura levantou o olhar e encontrou um homem de terno elegante, segurando uma pasta de couro. Ele parecia deslocado naquele ambiente simples, como uma peça de xadrez em um tabuleiro errado. "Laura Ferrer?" perguntou ele.

"Sim, sou eu. Quem é você?"

"Sou Paulo, advogado da família Montenegro."

Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa. Montenegro? O nome soava familiar, mas distante, como algo que ela já tinha lido nos jornais ou ouvido em uma conversa de terceiros.

"Preciso de um momento do seu tempo," continuou o advogado, estendendo-lhe um envelope. "É sobre o testamento de Dom Anselmo Montenegro."

O coração de Laura acelerou, mas não de forma agradável. Ela nunca tinha conhecido nenhum Montenegro, então por que um advogado dessa família estava ali, com aquele tom formal e aquele olhar cheio de expectativas?

"Você deve estar enganado," respondeu, limpando as mãos no avental. "Não conheço nenhum Dom Anselmo."

"Entendo sua surpresa, senhorita Ferrer, mas posso garantir que não há engano."

Com relutância, Laura pegou o envelope. Assim que começou a ler as primeiras linhas, sentiu as pernas enfraquecerem. Casamento? Um herdeiro? Um contrato envolvendo milhões? As palavras dançavam em sua mente enquanto ela tentava processar o que estava acontecendo.

"Isso... isso só pode ser uma piada," disse finalmente, devolvendo o envelope ao advogado.

"Não é uma piada. É uma oportunidade."

Laura cruzou os braços, o olhar desafiador. "E se eu não aceitar?"

O advogado hesitou antes de responder, sua expressão endurecendo. "Talvez seja interessante você considerar o impacto financeiro disso. Especialmente se levar em conta os custos médicos da sua mãe."

A menção à mãe de Laura foi como um golpe. Ela queria mandar aquele homem embora, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Sabia que o tratamento era caro, e as opções, escassas.

O advogado não esperou resposta. Apenas entregou-lhe um cartão e se dirigiu à porta. "Pense com calma, senhorita Ferrer. Eu volto amanhã para discutirmos os detalhes."

Laura ficou ali, parada, com o envelope nas mãos e a cabeça rodando. Naquele momento, não sabia o que era pior: o absurdo do que tinha acabado de ler ou a sensação incômoda de que sua vida nunca mais seria a mesma.

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