Entrei na adolescência depressiva, com complexo de pobre menina rica, justamente porque ele não tinha nenhum cuidado comigo. Tentei apagar todas as memórias ruins da minha infância e pré adolescência. Mas tinha duas coisas que eu não conseguia esquecer: meu primeiro surto, quando entendi que meu pai usava minha beleza desde sempre pra fechar bons negócios.
E eu entendi porque tinha 12 anos quando um cliente tocou em minha mão. E ele não se manifestou contrário a isso! Me tranquei em meu quarto, chorando desesperada, e minha mãe sem saber o que fazer, mandou o motorista buscar Thales e Emily para conversarem comigo:
- Aquele velho nojento me tocou e meu pai não fez nada!
- Desculpe amiga, mas minha mãe diz que seu pai é um idiotä que é capaz de te vender para angariar clientes!
- Mas não pode, gente! Isso é abuso. Sua mãe é conivente com isso?
- Minha mãe é uma sonsa, Thales.
- Então a gente precisa dizer pra ela deixar de ser. Já pensou, prima? Seu pai te vende pra um desses velhos nojentos?
- Acho que ele não faria isso! Mas já pensou se ele obriga a Bianca a casar com um deles?
- E não é vender do mesmo jeito?
Fiquei apavorada! Contei pra minha mãe, com medo de ter que me casar ainda criança, e então começaram as brigas. Meu pai gritava, descontava nela, mas ela não cedia! Não deixava mais ele receber clientes em casa, e eu não tinha permissão de sair do quarto quando tinha visitas, a menos que ela me buscasse!
Meu pai era outra pessoa. Começou a passar noites fora de casa, alegando que estava atendendo os clientes, minha mãe chorava disfarçada, e rezava!
Depois, a transformação! Eu tinha 14 anos quando meu pai mudou da água pro vinho! Era presente, os dois estavam sempre juntos, sorrindo, ele trazia presentes pra mim e pra ela, não passava mais nenhuma noite fora de casa, era meu amigo, quando não podia ir até meu quarto, me levava pro escritório pra gente ficar perto. Passei a admirar meu pai ao extremo, ele estava virando uma potência no ramo do direito, já tinha uma vasta carteira de clientes, era inteligente, safo. Aquela fase ruim passou. Mas eu? Era a idiota tímida e depressiva que via os meninos se aproximando de mim por causa do dinheiro e fala do meu pai, então aprendi a ser mais reservada e manter todos os homens longe. E Thales me ajudava muito nessa parte!
Depois que finalizei minha maquiagem, enterrei isso na memória novamente. Eu estava com uma calça preta, um cropped manga longa dourado e meus cabelos loiros soltos. Uma maquiagem fatal e botas pretas de salto fino, no meio da pista, dançando despreocupada, rodeada por meus amigos. A gente tinha terminado o primeiro semestre na universidade, éramos jovens e estavamos relaxando.
De longe, o dono da boate, um bom vivant acostumado a ter tudo o que queria, me observava...