Comecei minha vida aqui na Rocinha, trabalhava para pagar um quartinho que mal me cabia, fui arrumando mais trabalho e conquistando minhas coisinhas até estar no barraco que estou hoje, não é grande coisa, mas consegue ser aconchegante até demais pra mim.
Caminhei até a parada de ônibus e me sentei no banco, tinha algumas pessoas sentadas ao meu lado o que me deixava um pouco mais tranquila. Não é como se esse bairro fosse perigoso, mas aqui é o Rio.
Fiquei observando a rua à minha frente, eu já tinha decorado cada detalhe de tanto olhar todos os dias, mas bruscamente um carro tampou a minha visão e no mesmo instante eu fechei a cara. Em uma aula nós tivemos contato com os estudantes de medicina e um riquinho mimado ficou fuçando toda a minha vida até descobrir que eu moro em favela, ele faz questão de ser o meu diabo pessoal como se nós estivéssemos no ensino fundamental.
- A favelada não quer carona não? - Rio de relance abaixando a minha cabeça, mas com certeza eu não iria engolir essa.
- O que foi, seu paizinho brigou com você e você quer alguém para descontar? - Fiz beicinho antes de dar uma boa risada e encará-lo - Nós já estamos sabendo que o seu pai é um corrupto de merda!
Assim que minha última frase entrou nos ouvidos dele, o cara se transformou num touro bravo. Ele ameaçou sair do carro, mas o amigo dele o segurou. Bernardo é filho de um empresário de elite, que atualmente está sendo investigado por ajudar políticos com corrupção.
O meu ônibus chegou e eu entrei sem dar mais nenhuma atenção para eles. Fui o caminho inteiro escutando música e logo cheguei na minha última parada. Eu ainda tinha um pequeno trajeto a pé até chegar na entrada da Rocinha. Dei uma bela caminhada até chegar em casa, cumprimentei alguns vapores que falavam comigo e ignorava outros que sempre soltavam piadinha.
No mesmo instante em que coloquei a chave na porta eu escutei os tiros sendo disparados, era só o que me faltava depois de um dia cheio ainda ter que aguentar uma invasão. Entrei e tranquei a porta, passei direto para o banheiro, tomei um bom banho e me deitei na cama.
Passaram-se dez, vinte, trinta minutos e nada... Eu continuei deitada esperando eles resolverem para poder dormir, mas acabei escutando um estrondo maior e muito perto para ser um tiro. Me levantei da cama no mesmo instante e corri para a sala.
Congelei no mesmo lugar quando eu vi o Caveira invadindo a minha casa todo ensanguentado. Ele se sentou no meu sofá e levantou o olhar para o meu, olhei para porta vendo que ele tinha arrombando.
- Vai ficar igual uma estátua aí? Tira logo essa merda de mim! - Que filho da p*ta!
No momento eu nem conseguia raciocinar direito, fui até a cozinha e peguei uma cadeira para encostar na porta. Ignorando totalmente a presença dele eu fui até o meu quarto e peguei algumas coisas que eu poderia usar para impedir que ele morresse na minha casa ou adiantar o processo. Voltei para a sala e percebi que ele mantinha a camisa pressionando o ferimento, já deve ter levado tantos tiros que já é até treinado.
- Você sabe que eu não sou médica, né? - Perguntei séria.
- Me passaram a visão que você vai ser enfermeira, não é a mesma coisa? - Ele gemeu baixinho, mas o suficiente para que eu pudesse ouvir.
- Olha, eu vou te ajudar, mas você tem que prometer que assim que sair daqui nós vamos esquecer completamente um do outro e fingir que você nunca entrou aqui, pode ser? - Ele concordou - Sim ou não?
- Você tá muito afim de levar um tiro né garota? - Ele me olhou completamente indignado.
Assim que o sangue estancou eu tirei a camisa dele de cima e limpei a ferida, como ele me pede para remover uma bala que nem sequer estava ali? Eu fiz um curativo e me sentei na cadeira bem à frente dele.
- Você tem que ir no postinho, as meninas de lá tem mais equipamentos para cuidar da sua ferida e já estão acostumadas. Isso aí não vai aguentar por muito mais que algumas horas e você pode morrer, você sabe né?
- Demorou, só vou esperar a poeira baixar e vou embora - Concordei. - Quanto você quer?
- Quero seguir a minha vida normalmente e que alguém conserte a minha porta. - Respondi, eu não tinha o menor interesse em ganhar nada dele.
- Amanhã eu mando algum menor vir olhar isso para você. - O radinho dele tocou e eu me afastei para dar privacidade a ele.
Entrei na cozinha e comecei a preparar um macarrão, estava faminta. Quando voltei para a sala ele não estava mais lá, só o rastro de sangue que ele havia deixado.
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Esta é uma obra fictícia!
O livro contém: Cenas de sexo explícito, violência e drogas.
A autora não faz apologia e não compactua com quaisquer cenas que o crime se faz presente.
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