Lúcia passou seus dedos na cicatriz lembrando da sensação daquele metal perfurando seu corpo e da quentura que sentiu, aquela cicatrizes pequena e circular era mais do que uma lembrança da tentativa de Sol de matá-la.
Era também uma prova viva das palavras de Sol, que não importava para onde ela fugisse Cauã irá a sua atrás porque nunca se esqueceria dela assim como ela também nunca se esqueceria dele e aquela cicatriz era um grande lembrete.
Lúcia sentia isso, sentia-se como um animal sendo caçado era como se cada dia que passava fosse mais encurralada, ela sentia ele chegando cada mais perto, mais perto e mais perto tão perto ao ponto dela nunca mais poder fugir dele mas ao mesmo tempo que esse cessação lhe apavorada também lhe enchia de ódio.
Depois daquele tiro, Lúcia já não era mesma, era como se realmente uma parte dela estivesse morta, estava cheia de ressentimento e seus pensamentos eram constantemente de vingança que na cabeça dela era justiça.
Lúcia sentia como se sua vida estivesse acabada, ela tinha se tornado uma sombra durante aqueles últimos dias trancada na casa da Beth trabalhando como empregada.
Lúcia tirou a toalha do cabelo que a um ano atrás eram pretos e compridos, agora estava altura dos ombros e até foi pintado de loiro deixando apenas uma distância de um dedo da sua verdadeira cor na raiz, era como fosse uma outra pessoa.
Lúcia abanou a cabeça amargamente ao recompôs-se e saiu do banheiro, mas teve um grande susto quando chegou no quarto e viu sua mãe a sua espera de pé.
- Mãe...que susto – Lúcia falou assustada ao ver sua mãe imóvel.
- porque você não bateu a porta? – Lúcia perguntou brava se sentindo invadida por sua mãe continua invadir sua privacidade como quando era criança.
- Eu chamei por você mas você não me ouvia, eu fiquei gritando feito uma louca até perceber que você estava no banho...
Lúcia você está surda? você noção do susto que eu tive quando eu fiquei chamando por você e você não respondia?
- desculpa mamãe, estava no banho, não conseguia ouvir – Lúcia se justificou.
- o que aconteceu, porquê me procura as? – Lúcia perguntou tentando mudar de assunto enquanto abrir pequeno guarda roupa que partilhava com a sua mãe.
- ou minha menina não se faça de esquecida, você sabe muito bem o porquê?
- não, não sei – Lúcia falou desentedida.
- Lúcia Torres não me deixa louca, o táxi já está esperando por você quase a uma hora – Glória falou irritada.
- despachante, ele vai cobrar cada segundo Lúcia você tem noção disso? se arruma rápido cadê as suas malas? Glória perguntou olhando a sua volta e ao ver as roupas da Lúcia no guarda-roupa ficou ainda mais indignada.
- Lúcia você quer me deixar louca né? porque você não fez as malas ainda? O que você esta esperando – Glória falava brava enquanto tirava a pequena mala de mão que tinham.
Embora Glória não recebesse salário mesmo trabalhando feito escrava, Lúcia recebia por trabalhar como uma das ajudantes em arrumações da Mansão, salário muito baixo da média que ainda assim ajudou a ambas a comprarem suas coisas pessoais, como roupas e calçados.
Glória pegou rapidamente todas poucas roupas que estavam no armário que eram da Lúcia jogou na cama deixando Lúcia completamente zangada
- mamãe... para – Lúcia tentou impedi-la mas Glória afastou- a usando apenas uma mão.
- não comece, você está atrasada o carro está esperando por você – Glória falava ofegante enquanto colocava todas as coisas da Lúcia na mala de forma bem desajeitada rapidamente.
- mãe, nós já falamos sobre isso eu não quero ir para lugar nenhum, eu vou ficar aqui com a senhora – Lúcia começou a retirar a roupa da mala contrariando Glória.
- Lúcia não discuta comigo, você não vai ficar nessa casa nem mais no segundo você não vai ser empregada da sua tia eu não vou permitir que você continue limpando o chão dela, tirando as bandejas, lavando os lençóis da cama dela...já chega
Hoje mesmo, você vai sair dessa prisão, você vai ser livre, vais arranjar um emprego decente e que valorizam seus trabalhos, vais terminar os estudos e muito mais importante do que isso você vai ser feliz casada com um bom homem.
- não, eu não vou sem você – Lúcia agarrou as mãos de Glória com lágrimas nos olhos.
- por favor mamãe eu imploro me deixe ficar aqui com a senhora, não tem nada de valor para mim depois dessa porta – Lúcia começou a chorar de modo inconsolável.
Na verdade Lúcia não queria mais deixar nada para trás muito menos a única pessoa da sua família que ela tinha realmente, Lúcia vivia atormentada por ter deixado o seu pai morto.
Glória era tudo para ela era insuportável a ideia de também ter que deixar ela naquela casa que era tratada como escrava e humilhada de uma maneira horrível.
- Por favor mamãe.. eu não quero ir eu quero ficar com você.
- Lúcia você vai e não se fala mais nisso – Glória gritou zangada contendo sua dor por novamente ser obrigada a se separar dela.
Mas Glória sabia que era extremamente importante afastar Lúcia da sua tia pela sua própria segurança, Beth odiava Lúcia e disso Glória não tinha dúvida.
- aqui você não está segura, entenda que enquanto estiveres no ninho da cobra da Beth sua vida corre muito mais perigo e o pior essa propriedade também é uma prisão para você eu não posso permitir isso não mais.
- você tem uma vida toda pela frente meu amor, por favor.. preciso que você seja livre porque senão tudo que eu e seu pai fizemos serão em vão, eu não tirei você da cadeia de Cauã para colocar você na cadeia da Beth isso não vai acontecer Lúcia, não vai...
- Então vamos juntas, eu não posso deixar a senhora aqui mamãe eu não posso – Lúcia contínuo chorando.
- minha princesa Deus sabe o quanto eu gostaria de poder sair com você desse lugar mas a verdade é que eu fiz um acordo com a sua tia eu vou ficar aqui e em troca ela vai deixar você em liberdade – Glória pegou um envelope branco selado e colocou sobre as mãos trémulas da sua Lúcia.
- Beth cumpriu com a parte dela do acordo, uma nova oportunidade, um recomeço, nesse envelope tem tudo o que você vai precisar para sua nova vida, uma nova identidade autêntica e uma nova história, não olhe isso com pouca fé, seja grata por essa opinião minha princesa muitos gostariam de ter uma segunda oportunidade e você hoje tem.
- como podes me pedir isso mamãe, senhora acha que eu posso fechar os olhos e esquecer tudo que eu vivi nesses 20 anos a senhora acha que eu posso esquecer o papai e a forma como o perdi
Eu estava lá, quando ele caiu no chão sangrando e morto, eu nem tive tempo para dizer o amava e admirava e pior eu deixei ele e hoje a senhora me pede para fazer o mesmo, para abandona-la aqui... eu não quero essa maldita oportunidade sem paz e sem você.
- Lúcia, você não tinha escolha, o que aconteceu com o seu pai...
- é minha culpa, é minha, a tia Beth tem toda razão não importa o quanto eu me esconda a culpa sempre vai me perseguir e me aprisionar.
- como você pode dar ouvidos a bruxa da Beth Lúcia, será que você não percebe que ela só disse isso para te atormentar, a sua tia é louca não lhe dê ouvidos
Quando foi que isso aconteceu me conte quando foi que a Beth falou com você Glória ficou preocupada porque tua filha não ter contado nada para ela
- não mamãe, ela está certa eu sou a culpada e essa culpa não me deixa nem de dia e nem de noite, desde que o papai morreu todos os dias eu tenho pesadelos com aquele momento, isso me atormentar constantemente e agora a senhora quer que eu saia por aquela porta e nunca mais volte.
Como eu vou conseguir continuar vivendo então porque eu já não durmo por causa desse grande preso que sinto agora também vou carregar esse outro fardo de deixá-la aqui nessa torturar em meu lugar... eu não posso.
- você pode e você vai, primeiro porque você prometeu isso ao seu pai e você não pode quebrar essa promessa e segundo porque a culpa não é sua, nós somos seus pais e juramos proteger você com a nossa vida e estamos apenas a cumprir com a nossa promessa.
- mas eu também tenho medo, eu sinto que assim que eu sair por aquela porta Cauã vai me encontrar, isso me apavora, eu sinto que ele está me rodando sinto que ele está me farejando como animal, mamãe por favor, por favor... não me interessa a vida fora dessa casa longe de sí pois não me sinto segura, não me sinto protegida apenas ao seu lado é que eu realmente estou.
- eu sei perfeitamente tudo o que sentes, eu já senti isso também, sem proteção ou esperança mas filha acredite em mim a vida é uma caixa de surpresa e quando menos esperas ela se abre para você.
Lembras da nossa conversa sobre amor e paixão, aquela minha primeira paixão me fez sentir exatamente isso o que você está sentindo agora que não há esperança que você nunca mais será livre que o medo vai continuar te perseguindo pelo resto da sua vida mas não é verdade minha filha.
Aquela relação me fez sentir isso porque ele não era apenas o homem mais bonito da cidade como era um campeão de luta de ringue ele era incrivelmente forte, ele derrotava todos os seus oponentes de maneiras incríveis ele como uma benção na minha vida eu era tão nova eu fugi da casa dos meus pais e fui ficar com ele e como ele era dono de uma academia de fachada eu também comecei a trabalhar lá e assim começou o meu pesadelo.
Ele era obsessivo e extremamente ciumento sem falar que era um grande traidor e mentiroso, quando a ficha caiu já era tarde demais eu tinha me tornado a garota dele todo mundo no bairro sabia, e ele jurava que tentasse fugir ele me encontraria para se vingar.
Eu fiquei ao lado dele por medo até que um dia eu encontrei o seu pai, estava chovendo forte então entrei numa padaria para me abrigar quando eu vi o seu pai vestido como um homem de 60 anos, usando óculos e um corte de cabelo ridículo eu olhei e percebi que ele não tirava os olhos de mim.
A mulher que estava na mesa com ele concretamente Beth ficou completamente furiosa ao ponto de jogar café nas minhas roupas como uma namorada ciumenta.
Depois daquele incidente eu pensei que nunca mais nos voltaríamos a ver até seu pai me procurar na academia, eu não sei como mas ele me encontrou e foi lá apenas para se desculpar pela grosseria da Beth e também para me oferecer um outro café.
Eu rejeitei o convite pois tinha pois tinha consciência do perigo que ele corria por estar lá falando comigo e para pior meu namorado tinha chegado e me arrastou pelo cabelo furioso por ver seu pai falando comigo.
Seu pai tentou me defender e apanhou uma surra tão grande que eu fiquei com dó dele então eu fui visitar ele no hospital as escondidas e a gente começou a se encontrar às escondidas, eu estava presa aquela homem mas seu pai me resgatou apesar de todos os obstáculos.
Eu passei os últimos 20 anos da minha vida completamente feliz e sem inseguranças, porque eu passei a confiar na minha segunda oportunidade e se tornou meu foco aproveitar cada dia que tinha como se fosse o último
- ele nunca te procurou – Lúcia perguntou surpresa.
- claro que sim, depois de você nascer mas ou menos 3 anos ele me encontrou mas naquele momento Lúcia eu tinha algo que ele não sabia, eu tinha uma fortaleza a minha volta, a família que eu construí com o seu pai, eu já não tinha medo dele mas sim de perder você então eu lutei como uma leoa e venci não só a ele como também a Beth.
Lúcia fora dessas muralhas tem alguém te esperando para ser seu abrigo, seu porto seguro e acredite em mim quando você encontrar essa pessoa o medo que você sente vai diminuir constantemente e sua determinação vai aumentar e mesmo que um dia esse desgraçado volte a surgir acredite em mim o amor vai fazer você vencer.
Então não se prive de encontra-lo, essa pessoa será seu parceiro no crime e na vida, será sua alegria e sua tortura, o amor é mágico mas acima de tudo é o tempero certo para a vida de qualquer pessoa e acima de tudo nessa vida eu quero que você o encontre pois isso vai te fortalecer e sarará todas essas feridas.
Você vai ter que usar tudo o que você aprendeu como Lúcia Torres como proteção como uma grande lição, continue sendo bondosa e amorosa com as pessoas mas não seja ingênua, nem tudo que reluz é ouro você precisa se defender nunca permita que ninguém te humilhe ou tire proveito de ti, defenda sempre sua integridade, sua lealdade mas acima de tudo sua liberdade.
Realiza seus sonhos todos eles, lute sem desistir por cada um deles mas acima de tudo por favor lute pela sua felicidade, deixa sua marca no mundo mais uma marca positiva, sabe qual é a marca mais positiva que você pode deixar depois de todo esse pesadelo? Por ser feliz apesar das tempestades.
Cumpra suas promessas mas não se esqueça seu principal compromisso é com a sua consciência, independente de que vier lute contra tudo e com tudo o que tiveres sempre transformando guerra em paz por perdoar e seguir em frente.
Lúcia nem sabia como contrariar sua mãe, era incrível a forma como Lúcia começou a olhar para ela, Glória era sem dúvida sua maior inspiração e lição de vida.
Ela precisou reconhecer que sua mãe tem razão viver naquela casa não é exatamente uma liberdade e pior ficar lá trancada com medo também não fazia dela é uma mulher corajosa pelo contrário tornava covarde e isso era vergonhoso ela precisava seguir o exemplo da sua mãe e lutar até ao fim.
Lúcia jurou em seu coração que o dia que Cauã lhe encontrar ela estará preparada para lhe enfrentar e vencer independente do quanto custar.
Entre lágrimas Lúcia arrumou todas as suas poucas coisas naquela mala de mão e pegou o envelope depois de colocar suas calças jeans e uma camiseta para sair da propriedade da Beth.
A partir do momento que ela sairia da propriedade Lúcia Torres estaria morta para sempre, a mulher do envelope nasceria para ocupar aquele lugar.
- vou sentir muita a sua falta – Lúcia falou chorando num abraço apertado a Isadora.
Lúcia e Isadora se tornaram muito próximas durante aqueles meses, Isadora ensinou pessoalmente Lúcia como prestar serviços domésticos em grandes mansões como a da Beth.
- eu também vou sentir a sua, por favor não se preocupa com nada aqui, prometo cuidar da sua mãe – Isadora falou limpando as lágrimas.
- muito obrigada mãe Isadora – Lúcia agradeceu aflita por saber que nunca mais iria voltar vê-la.
- não precisa agradecer nós ficaremos bem e você para onde vais? – Isadora perguntou preocupada ao ver ela tão perdida olhando a sua volta.
- ainda não sei – Lúcia respondeu tentando se acalmar como se fosse um animal que fosse sair do ninho pela primeira vez.
- Lúcia me perdoa pela intromissão mas falei com uma amiga antiga de confiança que trabalha numa casa de família como governanta para te dar um emprego por lá enquanto te organizas.
- eu não quer incomodar – Lúcia falou sem jeito.
- não seria incómodo nenhum, pelo contrário segundo ela seria muito oportuno também pois parece que uma das empregadas da casa pediu demissão pois precisa sair urgentemente do país e a Rosália está muito apertada.
- mãe o que achas? – Lúcia olhou para a sua mãe que permanecia calada.
- a decisão é sua – Glória falou positiva.
- não precisa se preocupar é uma família muito respeitada daqui da cidade eu tenho certeza que é um lugar de confiança e você pode trabalhar apenas durante alguns meses enquanto te organizas sem esquecer que Rosália é uma mulher muito adorável e bondosa tenho certeza que vocês vão se dar muito bem.
- já que é da sua confiança eu aceito – Lúcia concordou aliviada por ver um problema a menos.
- excelente decisão, são pessoas muito decentes e o salário é muito melhor, pegue esse é o endereço da casa, ela se chama Rosália Miranda é a governanta, já está a sua espera podes ir directamente para lá.
- como vocês são trapaceira, já tinham tudo planejado – Lúcia sorriu surpresa ao perceber que aquelas duas mulheres já tinham planeado tudo e ela nem percebeu.
- vá de pressa não deixe ela esperando – Glória falou enquanto colocava a pequena mala no porta malas do carro.
- adeus minha querida, se cuidar – Isadora se despediu com um abraço caloroso e depois foi embora para dar um pouco de privacidade para elas.
- acho que é aqui que Lúcia torres morre – Lúcia falou tentando conter o choro.
- não, é aqui que nasce a sua nova oportunidade, a sua esperança e acima de tudo o cumprimento da sua promessa é a aqui que você recupera sua liberdade.
Lúcia e Glória se abraçaram fortemente desejando nunca mais se separar, sentindo uma dor tão profundo capaz de matar.
- eu te amo, você pode estar longe mas sempre estarás no meu coração assim como eu estou no seu minha vida – Glória falava beijando as bochechas rosadas da sua filha várias vezes.
- eu também te amo, muito mamãe... eu te amo e nunca vou me esquecer das minhas promessas eu prometo, vou lutar ...eu prometo
Era tão doloroso que ambas não conseguiam suportar então Glória afastou Lúcia e a colocou dentro do táxi rapidamente antes que seu coração de mãe fraqueja- se pela profunda dor da despedida uma despedida sem voltas.
Lúcia ficou cada vez mais aflita ao ver o carro se afastar e o grande portão se fechar com sua mãe presa lá, o preço pela sua liberdade era sempre muito caro e ela estava a sentir o gosto amargo disso cada vez que olhava para trás.