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Entrelaçados

Entrelaçados

4.9
15 Capítulo
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Sinopse

Índice

Descobri num filme (do qual não entendi nada) que até mesmo o amor pode ser teorizado pela física. Segundo a teoria quântica, nossos átomos estão todos entrelaçados, num emaranhado de conexões, infinitas. Então resolvi teorizar também. Se eu estou entrelaçado com alguém e vibro numa mesma energia que esse alguém, é possível que possamos nos comunicar, mesmo à distância. O que eu fizer ou pensar movimentará átomos e partículas infinitamente pequenas e será reproduzida a outra pessoa da mesma maneira. Se estivermos entrelaçados, portanto estamos atraídos energeticamente. O que eu quero dizer é que alguém foi capaz de provar que o amor é pura física e acho que ninguém deveria ter tentado.

Capítulo 1 ENTRELAÇADOS

CAPITÚLO I

Eu tinha apenas algumas horas de sono e acordaria de ressaca. Eram quatro da manhã e não fazia muito tempo que eu havia voltado da “Festa de despedida da Gale”.

Devo dizer que esse nome é um tanto contraditório, mas não há outro que melhor defina minha partida para Cambridge.

Há pouco mais de uma semana recebi a carta parabenizando-me pela aprovação na graduação em Ciências Físicas na Universidade. Morava há dez anos em Londres com meu pai e agora estudaria em uma das melhores universidades do mundo, não que eu esteja me gabando.

Minha mãe era o motivo que tornava a ideia de Cambridge ser ainda mais interessante além do fato, é claro, de Isaac Newton ter se formado lá. Meus pais se separaram após ela ter aceitado a proposta para lecionar na Universidade. Eles precisariam se mudar para Cambridge, mas meu pai possuía um importante cargo numa indústria química e bem, ele não aceitava a ideia de simplesmente deixar tudo para trás e recomeçar. Aquilo era importante para minha mãe, no entanto ele também tinha responsabilidades. Eu decidi ficar com Jim até me formar no colégio.

Ela vinha me visitar aos finais de semana e isso pode parecer loucura, mas a separação foi a melhor decisão que meus pais tomaram. Caso meu pai tivesse ido para Cambridge ou minha mãe recusado o convite, um deles estaria infeliz e consequentemente iriam pedir divórcio de qualquer forma. Agora, ao menos, estão felizes. Não sei se em algum momento, um deles se arrependeu quanto as suas escolhas, mas mesmo que sim, haviam se habituado a elas e por isso pareciam satisfeitos. Embora eu sentisse muita falta de Mandy nesses últimos anos, a felicidade dela era suficiente para me consolar.

As aulas começariam em uma semana, o que era tempo suficiente para me acostumar com a nova vida longe de Londres, de meus amigos e de meu pai, que certamente faria falta assim como minha mãe há alguns anos já que o fato da mesma ter partido nos aproximou e por alguma razão, ele se sentia culpado por esse feito. E mesmo passando por um conflito emocional intenso, ele nunca deixou com que isso influenciasse em suas atitudes como pai. Serei eternamente grata por isso.

O despertador tocou às seis da manhã e eu praticamente havia passado a noite em claro, apenas tirando cochilos pensando no que encontraria quando assim chegasse a meu destino.

Eu estava em meu quarto e observei meu pai pela janela ajeitando minhas malas no carro.

A enorme camada de nuvens impedia que os raios solares a penetrassem. Era uma manhã de sábado muito fria e a neblina nos aconselhava a sermos cautelosos na estrada. Vestia um casaco preto, calça jeans e o cachecol azul claro envolvia meu pescoço. Sentei-me no colchão e observei o quarto por um instante. Eu apenas pensava em meu pai e nas diferentes reações dele toda vez que abrisse a porta do quarto vazio.

Jim me aguardava no carro sem nenhuma pressa e parecia pensativo. Sem me virar para trás, sentei-me no banco passageiro e dei um suspiro.

― Não esqueceu nada? – perguntou ele.

― Saberei assim que chegarmos lá.

Ele olhou desaprovando.

- Foi uma piada. –expliquei. - Não havia muito para esquecer.

De fato, não havia, mas meu pai entenderia o meu tom cômico se não fosse pelo mau humor, o que não era comum. Eu tinha duas horas para descobrir o que o angustiava.

Gostaria que Rachel e Max estivessem comigo, mas certos caminhos nos faz abrir mãos de coisas importantes e cabe a nós mesmos decidir segui-los ou não.

Estávamos há meia hora na estrada e Jim ainda permanecia em silêncio, talvez estivesse preocupado com as condições climáticas, porém era ele quem me preocupava.

― Virá me visitar aos finais de semana?

Perguntei a fim iniciar um assunto.

― Claro. Achei que já tínhamos discutido isso.

― Eu sei, mas você tem seu trabalho na indústria e não quero ser um tipo de compromisso.

― De forma alguma. Não quero que volte a pensar dessa maneira.

Ele retornaria para Londres sem mim e tal mudança consequentemente alteraria nossa rotina e assim como eu, Jim se perguntava como as coisas seriam daqui para frente.

Ainda era cedo quando chegamos à casa de minha mãe onde eu ficaria até a formatura. Toquei a campainha, ansiosa.

Já esperando por nossa chegada, ela me abraçou com força ao abrir a porta.

― Estou tão feliz que esteja aqui. Estou orgulhosa de você! - disse acariciando meu rosto. ― Como vai, Jim?

― Mandy. ― sorriu ele, cumprimentando-a.

Deixamos as malas na sala de estar e a acompanhamos até a cozinha. Eu e meu pai apreciávamos a casa enquanto sentávamos no balcão de mármore. Não era a primeira vez que minha mãe nos recebia, porém a organização impecável sempre nos cativava.

Ela nos preparou um lanche e conversamos sobre minha aprovação. Devo admitir que não queria pensar naquilo, porém compreendia o fato de estarem animados. E talvez esse assunto viesse sempre à tona enquanto estivesse com minha mãe e eu não queria me submeter a qualquer tipo de pressão com exceção da própria Cambridge.

Jim decidiu retornar para Londres ainda antes do almoço e enquanto o carro se afastava de nós, o observamos até que a neblina o encobrisse no horizonte.

― Vamos subir? Tenho uma surpresa para você. - disse Mandy me envolvendo em seus braços.

Pegamos as malas que se encontravam próximas às escadas e eu a acompanhei até o andar de cima. Passei a admirar novamente a casa límpida como o corrimão de madeira lubrificado. Paramos em frente à porta do quarto de hóspedes e ela abriu-a suavemente. Estava ansiosa para saber qual seria minha reação.

Deparei-me com o quarto mobiliado muito semelhante ao que eu possuía em Londres e suspeitei que talvez Jim pudesse estar por trás disso. O que mais me chamou atenção foi o grande telescópio montado próximo a enorme janela. A cama ficava encostada a parede próxima ao telescópio. Havia uma estante de livros, uma escrivaninha com um mural de fotos pendurado na parede acima e o guarda roupa. As paredes eram cor de lilás passando-me a sensação de aconchego. Eu não sabia o que dizer a ela, estava encantada.

― O que achou? ― perguntou animada.

― É perfeito... E não estou falando apenas do telescópio! Ela riu.

― Fico feliz que tenha gostado.

― Obrigada, mãe. Isso é incrível. ― disse colocando uma das malas sobre a cama já arrumada.

Enviei uma mensagem a Rachel naquela tarde dizendo que já estava na casa de Mandy e que estava bem.

No dia seguinte fomos ao cinema a fim de retornarmos a antigos hábitos; quando eu era mais nova costumávamos assistir a filmes totalmente divergentes do gênero que nos interessava, ou seja, pagávamos para assistir a um filme que provavelmente não nos agradaria. Talvez pareça perda de tempo e de dinheiro, mas posso garantir que é um hobbie bem divertido.

Assistimos a um drama que se passava na primeira guerra mundial. A personagem principal se apaixona por um soldado que irá para guerra em poucos dias, porém confesso que fiquei surpresa já que o óbvio era crer que o soldado morreria e numa reviravolta ele retorna e quando vai à busca de sua amada, descobre que a mesma falecera de tuberculose. Claro, alguém deveria morrer. Filmes como esses não me agradam por serem totalmente previsíveis. Acredito que há outras formas de explorar um drama além da morte.

Achei que Mandy pensasse o mesmo até a cena em que o soldado percebe que a garota está morta.

― Mãe, eu não acredito que você está chorando! - comecei a rir.

― "Que é? - disse irritada sem tirar os olhos da tela.

― Não achou que eles fossem ficar juntos, achou?

―- Shiu! O filme ainda não acabou...

―- Meu Deus, estou decepcionada com você! - disse brincando.

Eu não costumo chorar por qualquer coisa o que não me torna alguém insensível. Sou apenas do tipo racionalista e acho que puxei meu pai nesse sentido. Por isso, devo alertar desde já que no momento a única coisa que me traria tamanha tristeza a ponto de surgirem novas lágrimas é um possível acidente envolvendo meu telescópio. Isso certamente seria devastador.

Minha mãe me levou à Cambridge um dia antes do início das aulas. Confesso que me senti uma jovem bruxa em Hogwarts, embora não tenha chegado de locomotiva e nem vestisse um roupão preto, mas a arquitetura me fazia lembrar o famoso e fictício castelo. As fotos da internet não eram nada comparadas a vista que tive do pátio. Senti um frio na barriga, pois a expectativa só aumentava com o passar das horas.

Deitei-me cedo naquela noite e enquanto olhava para o teto pensava como seria minha vida nos próximos cinco anos, isto é, sem aqueles que me importo estarem por perto e no que deveria esperar daquele lugar tão célebre. Isso é o que descobriria na manhã seguinte.

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