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Anelize Precisa Dizer Adeus

Anelize Precisa Dizer Adeus

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1 Capítulo
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Sinopse

Índice

Está mais do que claro que Anelize precisa superar o amor que sente por Nicholas e parar de procurá-lo. Mas será que a razão conseguirá falar mais alto que o coração?

Capítulo 1 Anelize Precisa Dizer Adeus

Nel tentaria mais uma vez, mesmo com a certeza gritando-lhe que voltaria a falhar.

Sua razão aconselhava-a a fazer daquele o último encontro, mas cada vez que ia até Nick seu sentimento vencia. Como ela poderia deixá-lo ir? Como podia aceitar que suas vidas deveriam seguir separadas? Depois de todas as promessas de eternidade, como simplesmente partir para outra como se seu sentimento fosse apenas uma paixonite?

Mas será que havia um meio de ficar com Nicholas? Ela só conhecia um, mas para torná-lo real ela necessitava de uma coragem que ainda não possuía. Em alguns momentos se sentia tentada a dar essa prova de amor, a praticar essa loucura para que ele pudesse aceitá-la em sua nova vida de maneira completa. Mas na hora H a coragem sempre faltava.

Nel não sabia como ficar, mas também não queria dizer adeus.

Seus passos em geral apressados pareciam travados naquela tarde. Seu destino era a casa de Anaklara, a irmã que muito à contragosto ajudava-a a encontrar-se com Nick. A única familiar que sabia que a relação dos dois continuava censurava Anelize:

— Será que não percebe que está definhando? Nenhum amor pode valer tanto sofrimento, mana. Você deveria deixá-lo em paz. Por favor, deixe esse homem pra lá!

Anelize se sentia culpada por obrigar a irmã a ajudá-la com os encontros. Anaklara odiava fazer aquilo, mas estava afundada em dívidas e Anelize sempre a convencia pagando — e muito bem — pelo favor.

Uma se sentia um lixo por propor. A outra se sentia um lixo por aceitar. E assim aquele círculo vicioso progredia.

Antes que a mais velha pudesse tocar a campainha da irmã, a porta se abriu, e a primeira encontrou o olhar de reprovação da segunda.

— Eu trouxe o dinheiro — disse Anelize como se aquilo fosse justificativa suficiente.

— Entra. Vamos acabar logo com isso.

Anelize tentou fingir não notar os olhos vermelhos da irmã e seu olhar de sofrimento, mas não se conteve:

— Também não é pra tanto, Klara.

— É sim! Você já se olhou no espelho, Lize? Olhe pra você também!

Anaklara puxou a outra até a frente de um espelho circular de moldura dourada que simulava raios solares. Anelize foi forçada a ver o que evitava. Havia tampado os espelhos da própria casa, só deixando o menor deles, o do banheiro, disponível para a própria higiene. Fugia de espelhos porque eles lhe mostravam o mesmo que a irmã via — e que via na irmã.

Olheiras, ressecamento da pele, cabelos desgrenhados. Toda a falta de autocuidado escancarada.

— E tem mais — continuou Anaklara — Quando ele está aqui… eu sinto tudo, Lize. Todo sofrimento, a vontade dele em te deixar, de seguir em frente. Será que você não percebe que é a única que quer manter isso?

— Não é verdade. Ele também me ama. Sinto muito se você sofre por…

— Não, você não sente. Não se importa com ninguém além de si mesma, Lize! Vamos logo com essa droga!

Anaklara caminhou até um quarto que transformara em biblioteca. Havia uma mesa redonda de mármore, circundada por duas cadeiras e onde descansava um diário onde Anaklara anotava cada encontro em detalhes. Anelize a seguira e as duas se sentaram à mesa.

— Você trouxe?

— Sim — respondeu Anelize, entregando uma aliança à irmã, similar à que carregava no próprio dedo.

Anaklara colocou-a no centro da mesa, envolveu as mãos da irmã com as suas e começou a chamar por ele. Por Nicholas Dantas, o marido morto da irmã.

Não demorou para que a medium estremecesse, e quando falou era um timbre masculino que saía de sua boca.

— Nel.

Não era uma pergunta ou um tom de surpresa agradável. Era mais uma constatação desapontada. Definitivamente nada do que Anelize esperava.

— Nick — ela respondeu apertando ainda mais as mãos da irmã.

— Eu te pedi para não voltar, Nel.

— Não posso. Não posso deixar você.

— Se não parar, vai perder a si mesma. E vai perder a Klarinha também.

— Anaklara é forte.

— Nel, quando eu venho ela sente toda a dor. Meu sofrimento, minhas memórias e sensações, revive minha morte. Se a olhasse bem, assim como ela faz por você, perceberia que a está machucando. Essa permissão que ela me dá, ela se sente violada com isso. Violada por mim, pelo seu dinheiro e pelo fato de que você tem me amado mais do que a ela.

Anelise observou Nick, o corpo da irmã que o continha. Era um corpo de fato enfraquecido, de ombros caídos, triste. Sem propósito.

— Prometemos nunca abandonar um ao outro — relutou.

— Eu sei. Mas precisamos abrir mão da promessa. Ou isso vai matar a vocês duas.

— Eu andei pensando que…

— Sei no que andou pensando, e não vai resolver. Suicídio vai te levar para um hospital espiritual por um longo tempo, e não pra mim. Você precisa aceitar.

— Eu não quero te esquecer. E não quero que me esqueça.

— Mas eu vou. Nel... eu vou reencarnar em breve.

— Você não pode! Não pode me abandonar assim, Nick! Por favor, não…

As lágrimas haviam vencido. Nick também chorava, através dos olhos de Anaklara, por um sofrimento que naquele momento era de ambos.

— Isso é muito maior do que nós.

— Nick…

— Você não está sozinha. Ame os que a amam. Por favor, pare de abusar assim da Klara. Nosso tempo acabou…

AnaKlara estremeceu de novo. Nick havia ido embora.

Anelize desabou. Perdera-o. A dor que agora anuviava seus olhos a fez demorar longos segundos para perceber que a irmã não voltara a ter cem por cento do domínio sobre o próprio corpo.

Convulsionava.

Anelize foi tomada de um profundo medo ao perceber o que sua teimosia havia feito à irmã. Era como Nick dizia: ela podia ser a responsável pela morte da própria irmã, a pessoa mais próxima que possuía e aquela a quem fazia definhar em sua obsessão.

Aflita, ligou para a emergência e tomou as medidas que lhe indicaram ao telefone. Depois, por minutos que pareceram horas, ela esperou que o socorro chegasse.

Pelos próximos dias, não sairia do pé de sua cama. Foi durante esse tempo que percebeu a efemeridade da vida e a certeza da morte.

Era cruel ter a irmã ali, em coma, mas não podia fazer nada. Era cruel não ter mais Nick em sua vida, mas também não podia fazer nada.

Era o que deveria ter feito desde o princípio: nada. Deixar partir o que se foi. Algo tão simples, mas que teria salvo a irmã daquele estado inerte.

Então fez a única coisa que podia. Pediu à luz que existe no universo e tudo que a compôe — mentores, anjos, o próprio Nick — que ajudassem a irmã a se recuperar. Jurou que seguiria em frente e protegeria Anaklara a partir dali, que nunca mais arriscaria a vida da irmã.

Se foi pelo destino de Klara ou pelo pedido de Nel, não se sabe, mas o coma cessou e as irmãs puderam voltar a se ver e se abraçar. Ana, alguns dias depois, contou sobre o ataque que sofreu enquanto Nicholas deixava o seu corpo e de como teve que lutar contra aquilo que ela sequer sabia do que se tratava.

— Por favor, não me peça para fazer aquilo de novo, Lize. Eu não tenho preparo, talvez com tempo e treinamento, mas…

— Shhh, descanse. Nunca mais vou te pedir nada assim.

— Você jura?

— Juro.

Naquela noite, vendo a irmã dormir, Anelize sorriu agradecida. Sua lição poderia ter sido mais severa. A irmã podia ter sido ceifada e isso ensinaria a Nel, mas também a destruiria por dentro. Mas a vida havia sido paciente com ela, mesmo que não mercesse.

Foi até a janela e admirou a noite lá fora. Uma coruja piou bem perto — o animal favorito de Nick — e ela o sentiu junto de si. Ele de fato estava no quarto, bem atrás dela sem que o pudesse ver. Era a despedida. Reencarnaria a seguir.

Ele sorriu quando ela finalmente disse:

— Eu te amo, Nick, e por isso te deixo partir.

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