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Belle, o diário de uma garota de programa

Belle, o diário de uma garota de programa

4.7
6 Capítulo
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Sinopse

Índice

Meu nome é Isabela. Pode me chamar de... Belle! Eu amo São Paulo, amo seu descaso, sua simplicidade, o clima, as cores. Amo, acima de tudo, o anonimato. Eu sou uma mulher comum, moro em uma cidade comum, em um prédio comum, com pessoas comuns, tenho gostos comuns e levo uma vida comum. Desde pequena quis ser atriz, então lhes presenteio com uma realidade inquietante: Minha vida não é tão comum quando descrevo. Ou talvez seja, levando em consideração esta nova era de liberdade sexual que vivemos. A verdade é que a minha profissão é uma das mais antigas do mundo, eu sou uma garota de programa. Acompanhante, vadia, bitch, prostituta, meretriz, quenga ou simplesmente puta. Não importa como me chame, é apenas uma questão de semântica. Por sempre gostar de arte e ter esse sonho infantil de me tornar uma famosa e desejada atriz, acabei me tornando uma prostituta diferente, não uma prostituta de luxo, mas uma prostituta especializada em realizar fantasias sexuais e contracenar em cenas perversas e até mesmo engraçadas. Eu não julgo o desejo de ninguém, não seria coerente levando a vida que levo. E para falar a verdade eu sempre fui contra a moral e os bons costumes, desde muito pequena. Sou bonita, jovem, inteligente e extremamente sedutora. Você deve estar pensando que eu poderia ter o mundo aos meus pés, que eu poderia ser uma ótima advogada, ou até mesmo uma cirurgiã. Eu penso que estou exatamente aonde eu gostaria de estar. Você deve estar se perguntando o porquê, e eu entendo... Eu também já me perguntei. Segundo o site de pesquisa Wikipédia, prostituição é: "a troca consciente de favores sexuais por dinheiro", talvez essa seja a resposta. Eu gosto de sexo, e gosto de dinheiro. E gosto de compartilhar minhas histórias... Um pouco exibicionista? Nem tanto.

Capítulo 1 Bete Balanço, por favor

Quarta - feira. 21h30

Ainda com a toalha enrolada em meus cabelos sinto uma preguiça enorme de secá-los, é mais prazeroso ficar na minha varanda observando o movimento da Avenida, sempre gostei da noite e das luzes que se acendem quando o Sol vai embora, e é aqui, nesta varanda que gosto de ficar após finalizar mais um atendimento feito à um cliente. Não tenho um relacionamento sério - não tenho nem ao menos vontade de manter um - mas sei como funcionam os casamentos e noivados, os dias da semana são voltados para estes, os comprometidos. Eles chegam, pagam, gozam e precisam ir embora antes das 22h. Suas esposas não podem desconfiar, não chegam sequer imaginar onde estão seus maridos e noivos, que são tratados por elas como propriedade privada. Propriedade uma ova! Mal sabem elas em que pernas eles se perdem de segunda à quinta-feira.

Não me sinto culpada, gosto de acreditar que até apimento as relações. Na verdade acho que é quase como um serviço público: é um mal necessário. Eu cuido dos companheiros infelizes destas mulheres. Quer dizer... Eles chegam irritados, com um nível altíssimo de stress e eu sou paga para fazê-los relaxar, ouvir suas lamúrias e acariciá-los. Falam do trabalho, das esposas frígidas, dos filhos problemáticos e rebeldes, das filhas que estão começando a ter sua sexualidade aflorada, do chefe filho da puta que os assedia moralmente, da secretária gostosa que não para de provocá-los, da cunhada insuportável que está morando de favor em sua casa... Eu sou quase uma esposa de aluguel, mas não tenho a responsabilidade chata de cuidar da casa e dos filhos. Eu preciso ouvi-los e fazê-los gozar, apenas. Não é bom o tempo todo, ouvir as chateações de um homem de meia idade não é nada agradável, mas é um ônus da profissão.

Você deve estar pensando sobre o que aconteceu na minha vida para que eu tomasse as escolhas que tomei, e eu posso garantir que foi uma decisão consciente e até mesmo inteligente. Não passei fome, não tive uma infância sofrida, estive sempre longe da miséria e estudei nos melhores colégios. Tive até mesmo aula de francês, acredita? Também não fui abusada por nenhum parente, nem mesmo pelo meu pai. Na verdade ele sempre me amou incondicionalmente e me protegeu, me tratando sempre como uma pedra preciosa, o que causava um pouco de revolta na minha mãe, que essa sim... Possuia instabilidades de humor. Nunca pensei que ela tivesse alguma relação com minhas decisões, e não quero pensar agora se algo influenciou. Ela era ciumenta, amava meu pai mais que a si e isso criou uma certa rivalidade entre nós duas, afinal de contas, quando eu nasci, eu era a nova rainha do pedaço. Ela dizia que eu me colocava desta forma, subia na cadeira e gritava: "Quem é a única princesa do papai?", e meu pai me tomava em seus braços e confirmava que eu era a única princesa de sua vida. Acho que é por isso que hoje sou tão autoconfiante do meu poder de sedução e faço o que quero dos homens... Se eu era a única princesa da vida do meu pai, por que não conseguiria ser a princesa da vida de qualquer outro homem?

O que mais irritava a mamãe era durante a madrugada. Eu acordava gritando após um pesadelo e só conseguia dormir novamente quando papai me levava para a cama deles, e ali, no meio dos dois, eu me sentia protegida e querida, e dormia como uma princesa. No dia seguinte mamãe brigava comigo, dizendo que eu deveria dormir na minha própria cama, e eu prometia ter entendido, mas durante a madrugada. Era a mesma história, eu gritava, soluçava e chorava desesperadamente, mas quando ele aparecia para me salvar... Ah, ele era meu herói, que aparecia de pijama.

Papai gostava muito de uma banda da época, "Barão Vermelho", e ouvia sempre uma música que dizia: "Pode seguir a tua estrela, o seu brinquedo de star. Fantasiando em segredo o ponto aonde quer chegar. O teu futuro é duvidoso, eu vejo grana, eu vejo dor no paraíso perigoso que a palma da tua mão mostrou. Quem vem com tudo não cansa. Bete Balança, meu amor". SENSACIONAL! Quem tem um sonho não dança... Tornou-se na hora minha música predileta, e quando ele chegava do trabalho eu estava lá, cantando para ele. Queria até mudar meu nome de Isabela para Elisabete, apenas para que as pessoas pudessem me chamar de "Bete". Bete Balanço, por favor.

Até que um dia, sem que eu entendesse muito bem, papai foi embora. Eles haviam se separado, e nem a mamãe nem ele me explicaram o que aconteceu. Eu o via em alguns finais de semana, e estes eram os melhores finais de semana da minha vida, mas eu era triste durante o decorrer dos outros dias. E incrivelmente, assim que papai saiu de casa, meus pesadelos pararam de me atormentar e eu não mais acordava durante a madrugada para ficar na cama junto com eles. Consegui dormir sozinha na minha cama, mas desde então fui tomada de uma carência e vazio incomuns.

Decidi bebericar uma taça de vinho, Jorge realmente me cansava ao aparecer às 20h00 na Quarta - Feira, e nunca me deixava na mão, o seu horário estava sempre reservado. Começo a acreditar que ele está apaixonado por mim, mas pelo que tenho entendido o casamento dele não está mais no fio da navalha como antes, ele me garantiu que após ter sua sessão junto a mim consegue voltar para casa totalmente relaxado e até trata melhor sua esposa. Viu? Realizo um trabalho fundamental na vida destes casais, deveria ser terapeuta, deveria cobrar dobrado por isso. Deveria ser presenteada cada vez em que apimento um relacionamento e os faço se grudarem. No fim da noite esses homens voltam para suas casas, no conforto e segurança de suas famílias e eu continuo sozinha. Mas não ligo para isso, tenho um melhor amigo na minha vida que me basta... O Emílio, ele é um fofo, mas um filhinho-de-papai filho-da-puta. Infelizmente não posso contar sobre minha profissão para ele por medo que não entenda e me julgue como apenas uma vagabunda que cobra por fazer homens nojentos gozarem. Longe de mim sair com homens babacas - não que isso não tenha acontecido no início da minha profissão - mas agora cheguei no patamar de poder selecionar meus clientes e tenho prezado por duas coisas: Higiene e segurança. Esses são quesitos básicos para que eu possa atender um cliente. A primeira regra é que, independente de como ele chegue, o primeiro passo é tomar um banho. Cobro caro porque acabo cedendo minha água, luz e toalhas, que precisam ser muito bem lavadas posteriormente. As roupas de cama deveriam ser trocadas após cada atendimento, mas assumo que não é o que acontece toda vez. Tenho dois quartos no meu apartamento, e um deles é utilizado apenas para meu trabalho. É organizado, limpo e possui um toque sensual, o outro é totalmente bagunçado. Saltos, saias, escovas e todo tipo de bagunça jogado para todos os lados... Sou uma pessoal comum, não disse?

Não tenho nenhum vício, a não ser a série FRIENDS e batata Ruffles. Não quis dizer que nunca usei drogas, já usei... Principalmente quando "batia calçadão" - prometo contar minhas experiências posteriormente - mas nunca me viciei seriamente em nada. Acho que depois que meu pai foi embora de casa eu nunca mais me apeguei fortemente à ninguém. Minto mais uma vez, sou totalmente apegada ao Emílio, meu amigo que chamo carinhosamente de "Boneco de pano", fazendo uma brincadeira por conta de seu nome, comparando-o à boneca Emília do Sítio do Pica - Pau Amarelo.

Merda. O telefone está tocando... É o Marcelo. Um outro cliente, estudante de jornalismo, filhinho de papai cheiradorzinho de cocaína de merda. Toda vez que me liga em cima da hora é que está próximo e pronto para subir. Preciso secar meus cabelos, o dever me chama...

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