Eu estava grávida de nove meses, a vida prestes a florescer dentro de mim. O nosso apartamento, o nosso ninho de amor, parecia o lugar mais seguro do mundo. Até que o cheiro acre do fumo me sufocou e o som crepitante do fogo encheu o ar. As chamas cercavam-nos. Gritei pelo Pedro, o meu marido, o pai do meu Lucas, implorando por ajuda. Mas do outro lado da linha, com música de fundo, ele inventou uma desculpa ridícula: um cano de gás rebentado na casa da sua "amiga" Sofia. Deixou-nos ali, a mim e à minha mãe, presas no inferno, enquanto o nosso Lucas lutava pela vida no meu ventre. Fomos resgatadas, mas era tarde demais para o nosso filho. O Lucas não sobreviveu. O mundo ruiu. A dor era um vazio abismal. Pensei que era apenas um homem fraco, incapaz de gerir uma emergência. Mas então vi as fotos. Enquanto o nosso apartamento ardia e o meu bebé morria, Pedro não estava a "salvar" ninguém. Estava na festa de aniversário da Sofia, noutra ponta da cidade, a rir e a brindar, completamente alheio ao nosso sofrimento. Ele nem sequer se deu ao trabalho de inventar uma mentira credível. Ele presumiu que eu era estúpida. Aquele riso na foto, o abraço na Sofia, incendiou algo novo em mim. Não era dor. Era raiva. Pura e gelada. Saí daquele hospital com um único propósito: despedaçar a vida que ele tanto protegia. E prometi a mim mesma que ele pagaria por cada segundo daquele riso, por cada brinde, enquanto o meu Lucas virava fumaça.