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Notas sobre nos

Notas sobre nos

5.0
5 Capítulo
24 Leituras
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Sinopse

Índice

Elisa Monteiro tinha tudo o que sempre sonhou: uma vida organizada, estável, ao lado de Federico Mancini, um homem que oferecia segurança, controle e a promessa silenciosa de um futuro previsível. Mas quando Nikos, um músico talentoso e intenso como as melodias que toca em seu saxofone, retorna inesperadamente à ilha de Capri, Elisa percebe que algumas notas do passado nunca se calaram completamente. Agora, ela se vê dividida entre a calmaria segura do empresário Federico Mancini, pai amoroso e parceiro confiável, e a paixão avassaladora e imprevisível de Nikos, que sempre foi como uma tempestade que ameaça desestruturar tudo ao redor. Enquanto Elisa tenta encontrar equilíbrio entre desejo e razão, Nikos está determinado a reconquistá-la, compondo melodias irresistíveis que tocam profundamente sua alma e desestabilizam seu mundo perfeito. "Notas Sobre Nós" é um romance intenso sobre escolhas impossíveis, sentimentos arrebatadores e destinos que insistem em se cruzar. É sobre a música que embala nossas vidas, sobre paixões que desafiam o tempo e sobre a certeza devastadora de que, quando o coração se divide, ninguém sai ileso.

Capítulo 1 ELISA

O Mundo é um Moinho – Cartola

O cheiro de tinta impregnava o pequeno ateliê, misturado ao aroma persistente de café requentado. Lá fora, o mundo fervia - buzinas furiosas, passos apressados, vozes se atropelando em um caos frenético. Mas ali dentro, no coração daquele espaço apertado, o tempo parecia desacelerar.

Elisa deslizou as mãos pelo rosto, sentindo o pigmento seco manchar sua pele. Azul e vermelho. Os olhos castanho-claros, fundos e exaustos, estavam fixos na tela à sua frente. A pintura inacabada refletia o estado da sua própria vida: um esboço sem conclusão, um grito contido em cores. Na tela, sombras se misturavam às chamas, como se algo estivesse prestes a emergir de um labirinto de vermelho e preto.

Ela queria ir embora. Queria ficar. Entre o desejo de partir e a necessidade de permanecer, sentia-se suspensa, presa entre o que devia e o que queria.

O celular vibrou sobre a mesa. Elisa hesitou. Poderia ignorar. Poderia continuar ali, pintando, tentando transformar dor em algo compreensível. Mas sabia. Sempre soube.

Com os dedos sujos de tinta, pegou o aparelho e atendeu.

- Alô? - A voz saiu rouca, cansada.

- Elisa, é o Dr. Carvalho.

O tom cauteloso do médico apertou seu peito antes mesmo das palavras seguintes.

- Sua mãe... a situação se agravou. Seria bom se viesse ao hospital.

O mundo parou. As palavras chegaram até ela, mas demoraram a fazer sentido.

- Estou indo.

As ruas pareciam distorcidas enquanto caminhava. O corpo se movia, mas a mente estava longe, perdida entre lembranças de risos compartilhados, domingos preguiçosos e a lenta invasão de consultas, exames e aquela palavra que virou sua vida do avesso: terminal.

Quantas vezes adiou sonhos por causa da mãe? Quantas passagens de avião nunca compradas? Quantas exposições recusadas?

"Mais um pouco, só mais um tempo".

Mas o tempo, impiedoso, seguiu seu curso sem esperar por ela.

Quando entrou no hospital, foi recebida pelo bipe intermitente das máquinas e pelo aroma gélido de antisséptico. O coração batia forte demais, apertado, um peso que se espalhava pelos ossos.

E então, lá estava ela. Frágil, pequena demais para alguém que sempre fora sua fortaleza.

Mas, ainda assim, sorriu ao vê-la. Um sorriso cansado, mas carregado de amor.

- Você veio... - A voz da mãe era um fio.

Elisa sentou-se ao lado dela, segurando sua mão magra e fria. Queria dizer tantas coisas, mas todas se perderam no silêncio.

- Não se prenda a mim, filha... - O murmúrio da mãe era fraco, cada palavra um esforço. - Você tem que viver. Promete que vai? Promete que vai pintar o mundo?

As lágrimas que Elisa vinha segurando caíram.

- Mãe, eu... não sei se posso... - A voz quebrou.

A resposta foi um aperto fraco em sua mão.

E, pouco depois, um último suspiro.

Longo. Derradeiro.

Duas semanas depois, a mala estava feita - ou o que chamava de mala. Algumas roupas, pincéis, telas vazias e o vazio ensurdecedor de quem perde um pedaço de si.

O convite da galeria repousava sobre a mesa.

"Exposição: Fragmentos de Cor – Capri".

Uma oportunidade que, até então, parecia distante. Agora, era um salto no escuro.

Fugir ou seguir? Ir ou ficar? Talvez os dois ao mesmo tempo.

O avião cortava as nuvens enquanto Elisa olhava pela janela. Lá embaixo, a imensidão do oceano. Lá atrás, a saudade cravada na pele. Lá na frente, o desconhecido.

Encostou a testa no vidro frio, sentindo o coração bater em um ritmo estranho - uma mistura de medo, dor e uma esperança tímida que não ousava admitir.

Fechou os olhos.

"Vai... pinta o mundo".

A voz da mãe ecoou em sua memória como uma melodia distante.

E, pela primeira vez em semanas, Elisa permitiu-se sonhar.

Ela não sabia o que Capri lhe reservaria.

Mas sabia - com aquele instinto que mora no fundo do peito - que sua vida estava prestes a mudar.

De um jeito ou de outro.

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