O motor grita enquanto eu jogo a marcha para cima, os faróis cortando a escuridão da estrada deserta. O carro preto no retrovisor se mantém firme, colado na minha traseira.
"Segura", rosno, os dedos brancos no volante, o coração martelando no peito.
O homem ao meu lado nem se move, só me observa assustado. "Você sabe o que tá fazendo?"
"Não." Giro o volante com força. Os pneus cantam, o carro desliza, quase sai da pista. Quase.
A perseguição se estreita. O carro atrás acelera. O farol alto invade o interior, me cegando por um segundo. O suor escorre pela minha têmpora.
"Merda, merda, merda."
"Freia!"
"O quê?"
"Freia agora!"
Não penso. Piso fundo. O impacto é brutal. O cinto me crava no peito. O carro gira, rodas gritam contra o asfalto. Um estouro de vidro. Um grito sai da minha garganta antes que tudo se apague.
O silêncio é denso. Há fumaça. O gosto ferroso do sangue. Tudo distante, como se eu estivesse flutuando.
E então, os olhos.
Azuis, intensos, imóveis.
Mãos firmes deslizam sob meu corpo, um toque quente no frio do aço retorcido. Vozes longe demais para entender.
Minha visão escurece antes que eu consiga dizer qualquer coisa.