Um dia, ao retornar de uma longa viagem, João avistou, ainda de longe, luzes piscando na frente de sua casa. Quando se aproximou, seu coração gelou ao ver uma ambulância e um carro de polícia estacionados. Desesperado, ele correu até a porta, onde um policial, com expressão sombria, informou-lhe que Maria havia sofrido um ataque cardíaco fatal.
João ficou devastado. A culpa e a dor o consumiam enquanto ele encarava a realidade da perda de Maria. Durante o velório, ele mal conseguia conter as lágrimas. Sentia-se como se um buraco negro houvesse engolido sua alma. As lembranças das vezes que dissera "não" à sua esposa assombravam-no, cada negativa uma punhalada em seu coração já despedaçado. Em um momento de grande desespero, ajoelhou-se ao lado do túmulo de Maria, olhou para o céu e fez uma promessa com voz trêmula: nunca mais diria "não".
Noite sem Fim
A promessa, feita em um momento de dor intensa, parecia ao mesmo tempo uma penitência e uma forma de honrar Maria. Mas, ao voltar para casa, João se viu perdido. A casa estava vazia, fria e cheia de lembranças de um passado que ele não podia mais mudar. Incapaz de enfrentar o silêncio, João se entregou à bebida.
Os dias seguintes foram um borrão de noites sem dormir e garrafas vazias espalhadas pela casa. João evitava o sono, temendo os pesadelos que certamente viriam. Ele se trancava em seu próprio mundo, recusando-se a aceitar a realidade da ausência de Maria. Amigos e vizinhos tentaram ajudar, mas ele afastava todos, recusando-se a falar ou aceitar companhia.
As noites tornaram-se especialmente difíceis. João sentava-se na poltrona que Maria tanto gostava, uma garrafa de uísque na mão, e falava com a escuridão. Contava histórias de suas viagens, pedia desculpas por todas as vezes que dissera "não" e implorava por um sinal, qualquer coisa que lhe dissesse que Maria o perdoava.
Certa noite, depois de dias sem dormir, João chegou ao limite. Seu corpo estava exausto, sua mente um turbilhão de emoções conflitantes. Ele se olhou no espelho e quase não se reconheceu. A barba crescida, os olhos fundos e vermelhos, o rosto marcado pela dor e pelo álcool. Naquele momento, percebeu que não podia continuar daquele jeito. Maria não gostaria de vê-lo assim. Ele precisava honrar a memória dela de uma maneira diferente.
Enfrentando a Vida Sem Maria
Determinou-se a mudar. Deixou a garrafa de lado e saiu para tomar um pouco de ar. Caminhou pela cidade até o amanhecer, lembrando-se dos bons momentos com Maria e das promessas que fizera. Quando o sol começou a nascer, sentiu uma estranha sensação de clareza e renovação. Decidiu que era hora de enfrentar a vida sem Maria de maneira diferente.
Voltou para casa e limpou toda a bagunça. Jogou fora as garrafas vazias e arrumou cada cômodo, como se estivesse se preparando para um novo começo. Tomou um longo banho, barbeou-se e colocou roupas limpas. Sentiu-se renascer, pronto para enfrentar o mundo novamente.
João sabia que a estrada era o único lugar onde ele poderia encontrar algum consolo. Decidiu voltar ao trabalho, mas com uma nova determinação: nunca mais recusaria um pedido, nunca mais diria "não". Pegou seu caminhão e foi até uma empresa de um amigo, onde conseguiu um frete para Volta Redonda, no estado do Rio.
Chegando em Volta Redonda, foi à empresa descarregar seu caminhão. Ao término, o encarregado perguntou se ele poderia levar uma carga para a Bahia. Nesse momento, a lembrança de sua promessa ecoou em sua mente. Tentou dizer "não", mas as palavras não saíram. Aceitou o trabalho, carregou seu caminhão e partiu para a Bahia, sem saber que essa decisão seria o início de uma nova jornada cheia de aventuras e desafios que mudariam sua vida para sempre.
Com o coração ainda pesado, mas com uma nova determinação, João estava pronto para encarar o mundo. E assim, com sua promessa guiando cada passo, ele partiu rumo ao desconhecido, preparado para transformar a tristeza em aventuras e encontrar a alegria nas pequenas coisas da vida.