Paixão a primeira vista

Bianca entra correndo na casa de sua melhor amiga gritando seu nome

- Cris... Cris...

Cristina sai do quarto assustada com os gritos da amiga

- O que foi amiga ? Aconteceu alguma coisa ?

A casa não era muito grande, três quartos relativamente pequenos, sala, cozinha, um banheiro, onde Cristina morava com a mãe e seu irmão mais novo, tem um pequeno espaço no fundo onde elas costumam passa horas conversando, é usado como lavanderia, mas de tanto elas ficarem lá conversando, Bianca, Cris e Leo irmão mais novo de Cris resolveram improvisar um sofá feito de pallet e almofadas feitas pela dona Olga mãe da Cris, já que eles não tinham condições de comprar um . Ali era o lugar favorito das amigas.

- Sim amiga, diz Bianca dando uns pulinhos e com um largo sorriso no rosto

- Pela sua cara deve ser coisa boa, conta logo !!

- Consegui amiga, finalmente consegui um emprego!!!

As duas amigas gritam de felicidade e se abraçam rodando e pulando ao mesmo tempo

- Parabéns amiga, estou feliz e muito orgulhosa de você, diz Cristina enquanto bate palmas de tanta felicidade.

As duas se conheceram no sexto ano do ensino fundamental e desde então não se desgrudaram mais. Cristina sempre teve boas notas na escola, sempre foi muito focada e por isso era chamada de CDF o que pra muitos não era visto com bons olhos o que dificultava um pouco para Cristina fazer amizade.

Já Bianca tinha um pouco de dificuldade nas matérias devido ao tempo que ela tinha que deixar de estudar para trabalhar e o cansaço em sala de aula que não a deixava prestar atenção nas explicações dadas pelos professores.

Um certo dia Cristina viu Bianca chorando em um canto no banheiro feminino da escola por ter tirado uma nota muito baixa em uma prova e isso a deixou muito frustrada, já que toda dedicação para trabalhar era justamente juntar dinheiro para pagar a faculdade tão sonhada, e as notas não iriam ajudar a conquista seu sonho.

Cristina resolveu então ajudar Bianca a estudar a noite durante a semana e aos sábado, já que ara os únicos momentos livre de Bianca, pois durante a semana ela fazia bico como babá na parte da tarde para uma de suas vizinhas, e aos domingos ela trabalhava em uma barraca de pastel na feira, e assim as duas firmaram uma grande amizade e se tornaram inseparáveis.

- E quando você começa no trabalho? Pergunta Cristina enquanto as duas já vão se encaminhando para o fundo da casa.

- Já nessa sexta, aiiii amiga eu estou tão feliz !!!

- Eu sei amiga, já tem um tempão que você está procurando emprego, deixando currículo em tudo que é comércio da cidade.- Que por falar nisso, você vai trabalhar de quê ?

- Então sabe o Lucas, o filho do meu patrão de domingo ?

- Sei, aquele gato que quis te namorar e você dispensou, essas oportunidades não cai no meu colo, diz Cristina revirando os olhos e ambas dão risada

- amiga você sabe que eu não tenho tempo pra essas coisas, meu foco agora é minha faculdade

- Eu sei amiga, mas também não dá só pra trabalhar né, você precisa se divertir um pouquinho as vezes também, se é que né entende, fala Cristina com um sorrisinho safado no rosto

- Então, voltando o assunto... diz Bianca tentando mudar de assunto

-Ele está trabalhando em um bar muito boa pinta lá na Vila Olímpia como manobrista, só vai gente cheio da grana lá, ele disse que dá pra tirar uma graninha boa com as gorjetas, fora o salário. Eles estavam precisando de uma garçonete e o Lucas me indicou, fiz a entrevista e começo sexta a noite

- Amiga quem sabe você fisga um ricaço e acaba se casando com ele

- Aiiii amiga como você tem imaginação fértil né. Ambas dão risada do comentário

- E porque não amiga ? Você é nova, bonita, duvido você não encontrar alguém que te queira, fala dando uma piscadinha pra amiga rindo

- Oooo amiga e você acha que esses homens ricos vão olhar pra uma atendente de bar ? Até parece. Fala dando um risinho de canto de boca

- E outra eu não tenho tempo pra me dedicar a um namoro agora, preciso focar no meu futuro que já tá complicado de mais

- Tá certo amiga, foca no futuro, mas se conhecer alguém interessante me apresenta tá bom. Ambas se jogam pra trás no sofá e caem na gargalhada

- Tá bom amiga pode deixar, bom agora preciso ir antes que minha mãe chegue, se eu não estiver em casa já sabe né, Bianca fala e já vai indo em direção da porta

- Já te chamei mil vezes pra vim morar comigo, você que não aceita

- Não é tão fácil como parece Cris, diz Bianca com tristeza na voz

Bianca mora com a mãe e a irmã de oito anos, sua mãe não é um exemplo de mãe. Bianca praticamente foi criada pelos avós maternos, ela nunca conheceu o pai, a mãe a deixava com a vó com a desculpa de que precisava trabalhar, mas ficava dias sem aparecer, não mandava dinheiro para suas despesas e muito menos ligava para saber como ela estava, quando Bianca completou onze anos sua mãe apareceu dizendo que estava bem e feliz pois tinha se casado e agora elas iriam morar juntas, o que Bianca não sabia é que sua mãe tinha tido mais um filho, ou melhor uma filha, e agora a responsabilidade era de Bianca cuidar de um recém nascido.

Quando completei quinze anos consegui um bico como babá de uma vizinha, minha mãe é claro não gostou nada daquilo, pois dizia que eu já tinha minha irmã para tomar conta. Meu padrasto não era de todo ruim, ele até que ajudava com a filha e as vezes até reclamava com minha mãe dizendo que ela não estava fazendo o papel de mãe, já que dona Simone não deixava de curtir seu final de semana com as amigas deixando todos os cuidados da filha mais nova por minha conta, até que três anos depois meu padrasto se cansou e simplesmente foi embora.

Ele é um bom pai pra minha irmã, pega ela a cada quinze dias, paga a pensão direitinho, liga toda semana pra saber como ela está. Ele a ama e demonstra isso de todas as formas, mas isso é tudo que ele pode fazer no momento

Mas sempre que minha irmã precisava de algo, quando eu ia falar das necessidades da minha irmã para minha mãe ela dizia para eu dar um jeito, pois ela mesma já pagava o aluguel e as compras e contas da casa e tinha o direito de se divertir um pouco já que sustentava nós duas. Pura hipocrisia!

Sendo assim eu tive que arrumar outro emprego, pois as coisas pra criança não são nada barato, e ainda tinha que economizar pra faculdade, então um dia quando fui fazer a feira pra Carol, minha irmãzinha, eu resolvi me dar ao luxo de comorar um pastel e o dono da barraca, um senhor muito simpático já conhecido na região, estava conversando com seu filho que dizia que não queria mais trabalhar fritando pastel, então eu logo me candidatei pro lugar do filho dele, mais por brincadeira, e o rapaz achou foi bom e até me ajudou a convencer o pai a me colocar em seu lugar. É claro que minha mãe não gostou nem um pouco, e disse que eu só poderia trabalhar aos domingos se eu lhe desse metade do que eu ganhasse, eu concordei, mas não disse o valor certo que eu iria receber, afinal eu estava em um segundo emprego para poder pagar as despesas da minha irmã.

Se não fosse pela minha irmã eu com certeza já teria ido em bora a muito tempo. Bianca balança a cabeça tentando espantar os pensamentos e olhando no relógio, logo estaria na hora de buscar sua irmã na escola.