Ben

O desespero me toma inteira , não sei quantas vezes gritei seu nome , implorei para que

ficasse comigo , será que a culpa é minha ?

Os médicos seguraram firme o local do ferimento , seus pulsos , cortes profundos feitos a

lâmina partem aqui , o laço que eu tinha com a minha única âncora . Estou desabando .

As lágrimas e os meus berros tomam o corredor do hospital lotado , várias pessoas esticam

seus pescoços para assistir a cena , muitos com cara de piedade e compaixão , outros nem

ligavam ou estavam afundados em suas próprias dores .

- Não vai dar para salvar - o médico diz e isso me derruba , imploro para que ele e sua equipe

tentem novamente - ele tomou remédios também - ele suspira - mesmo que conseguíssemos

fechar o corte , já é tarde , o remédio já fez seu efeito - tudo o que faço é me debater , meu

irmão me consola , minha mãe segura a minha mão e diz que vai dar tudo certo , eu temo que

não dê , meu marido acaba de deixar claro que não foi um acidente e sim proposital , fecho os

olhos e balanço a cabeça ao lembrar da cena em que o encontrei na banheira , pulsos cortados

, seus olhos revirados , a banheira vermelha , seu lindo rosto pálido , muitas e muitas caixas de

remédio no chão , gritava seu nome , ligava para minha família , a emergência demoraria , tive

que agir no impulso , o arrastei até o carro , nú , sem vida , sem nenhum sinal de que ainda

dava tempo de salvá-lo , o que me dói , é que ele não pediu socorro , não pediu ajuda , a única

coisa que me deixou foi a dor e um bilhete escrito :

"Ainda estou aqui , não me esqueça ,

EU TE AMO. "

Me ama ? Então por que me deixou ? Olho para a porta entreaberta da sala onde o corpo do

meu Marido se encontra , e tudo que consigo raciocinar na minha mente turbulenta é um

pedido .

Fica comigo.