"Mãe, o café está pronto?" perguntou, entrando na cozinha. Dona Rosa, sua mãe, estava sentada na mesa com um olhar cansado, tentando esconder a dor que sentia nas articulações. "Fiz um pouco de café, mas o pão acabou. Nós temos que esperar até o final do mês para comprar mais."
Samuel engoliu seco. Ele sabia que o pouco dinheiro que ganhava como atendente em uma loja de conveniência mal cobria as contas. Comer era quase um luxo.
Após se arrumar, ele saiu apressado para o trabalho. As ruas do bairro eram sujas e mal iluminadas, e ele caminhava sempre com a cabeça baixa, não por medo, mas por vergonha. Ele sabia o que as pessoas pensavam dele – o jovem pobre que nunca sairia do lugar. Ele escutava os cochichos, os risos abafados e as indiretas.
No trabalho, a situação não era muito diferente. Seu chefe, o senhor Armando, fazia questão de humilhá-lo publicamente. "Samuel, você é mais lento que uma tartaruga! Se continuar assim, vou ter que te mandar embora. E olha que nem sei quem contrataria alguém como você."
Os colegas riam, e Samuel apenas abaixava a cabeça. Ele sabia que retrucar não mudaria nada. Mas dentro dele, algo se contorcia – um misto de raiva e tristeza. Ele se perguntava se algum dia seria respeitado.
Depois de um dia exaustivo, ele voltava para casa, mas antes passava na biblioteca pública. Entre os livros empoeirados, Samuel encontrou algo que lhe dava um fio de esperança: manuais e guias sobre marketing digital. Ele passava horas lendo, anotando ideias e sonhando com um futuro melhor.
Naquela noite, enquanto folheava um livro sobre estratégias de negócios, ele pensou alto: "Eu vou sair dessa. Vou mudar minha vida e dar uma vida digna para minha mãe." Mas o pensamento foi rapidamente interrompido pela realidade. Ao chegar em casa, encontrou Dona Rosa sentada à mesa, olhando para uma conta atrasada de energia. "Samuel, nós precisamos de mais dinheiro. Eles vão cortar a luz se não pagarmos até o fim da semana."
Ele sentiu um peso no peito. Não havia nada que pudesse fazer além de trabalhar mais. "Vou pegar algumas horas extras no trabalho, mãe. Nós vamos resolver isso."
Na manhã seguinte, enquanto se preparava para sair, sua namorada, Larissa, apareceu na porta. Ela era bonita, sempre bem arrumada, e Samuel se perguntava como ela aceitava estar com alguém como ele. "Samuel, precisamos conversar," ela disse, com um tom sério.
"Claro, o que aconteceu?"
"Eu não sei se isso entre a gente vai dar certo. Eu preciso de alguém que possa me oferecer mais do que promessas. Eu quero um futuro estável, e você... bem, você não tem muito a oferecer agora."
As palavras bateram como um soco. Ele ficou em silêncio, tentando processar o que acabara de ouvir. Ela saiu sem dar tempo para ele responder. Samuel ficou ali, parado, sentindo o mundo desabar ao seu redor.
Mesmo assim, ele se arrumou e foi para o trabalho. Durante o dia, tudo parecia pior. Seu chefe gritou com ele por um erro pequeno, e os colegas fizeram piadas sobre sua condição. "O pobretão quer ser milionário agora? Boa sorte com isso, Samuel!"
Ao voltar para casa, ele passou por um grupo de vizinhos que cochichavam e riam. Ele sabia que estava no fundo do poço, mas algo dentro dele se recusava a desistir. Naquela noite, ele abriu um caderno velho e começou a escrever suas metas. "Eu vou aprender tudo sobre marketing. Vou mudar minha vida. Vou provar para todos que estão errados."
Mas, antes de qualquer vitória, ele sabia que teria que enfrentar ainda mais derrotas. E ele estava disposto a encarar cada uma delas.